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    Vítimas do furacão no Haiti perdem trabalho e abrigo temporário

    BRUNO FÁVERO
    DANILO VERPA
    ENVIADOS ESPECIAIS A PORT-SALUT

    14/10/2016 02h00

    Quando o furacão Matthew passou pela pequena cidade de Port-Salut, no início da semana passada, e atingiu barracos à beira-mar, Silaire Julianise, 27, correu para se abrigar num dos únicos prédios de alvenaria de que lembrou, uma escola católica.

    Muitos tiveram a mesma ideia, e o local hoje funciona como campo de desabrigados. Apesar da tragédia recente, seus ocupantes foram informados que terão que sair do prédio até esta sexta (14), com a retomada das aulas, e ainda não sabem para onde ir.

    Danilo Verpa/Folhapress
     JEREMIAS - HAITI - 12.10.2016 - Haitianos na cidade de Jaremias apos os efeitos do furacao Matthew. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, MUNDO)
    Moradores de Port-Salut reconstroem barraco destruído pela passagem do furacão Matthew

    "A noite do furacão foi muito difícil. Fiquei dentro de casa em pé, segurando meus filhos enquanto ele passava. Esperei duas horas até diminuir um pouco e corri até a escola", lembra Julianise. Quando voltou, a casa estava irreconhecível –tudo havia sido levado pelo mar ou pelo vento.

    Nesta quinta (13), quando a Folha visitou a região, o chão estava coberto de folhas de bananeiras e palhas que serviam como teto das casas. Sobraram apenas uns poucos blocos de concreto empilhados –destroços das paredes– e colchões secando.

    Perto dali, a escola que virou abrigo fica em um prédio de estilo colonial. Tem dois andares e cerca de 20 salas de aula, onde famílias se espremem com o que sobrou de seus pertences. Em um gramado em frente, acampam os que não chegaram a tempo de pegar um quarto.

    Léne Marie Solange, 46, é uma das que não sabem para onde ir. "Talvez fique na rua um tempo até conseguir ajuda", diz, dando de ombros, em tom quase resignado.

    Editoria de arte/Folhapress
    Onde fica Haiti (Port Salut)

    A casa onde morava, vizinha da de Julianise, foi varrida pelo mar. "A chuva só aumentava, e o nível do mar subiu até invadir nossa casa."

    "Sabíamos que o furacão estava vindo, mas tanta destruição foi uma surpresa. A noite foi terrível: havia muitas pessoas feridas e não tínhamos comunicação nem conseguíamos levá-las para o hospital", diz o padre Ethener Cheuy, 35, responsável pela estrutura da igreja e pelo prazo para que os desabrigados deixem o local. "As crianças estão sem aulas desde o furacão, e é preciso que as atividades voltem."

    Como em boa parte do Haiti, em Port-Salut (30 mil habitantes) muitos sobrevivem da agricultura. Com as plantações destruídas e sem dinheiro, os desabrigados não sabem por onde recomeçar.

    Também faltam empregos e ferramentas de trabalho. O pescador Desjardin Bérnard, 24, conta que todo seu equipamento foi levado pelo mar. "Não tenho dinheiro, não posso planejar nada".

    Nesta sexta (14), o governo deve decidir quando serão realizadas as eleições presidenciais do país, que vêm sendo adiadas desde janeiro.

    A última data prevista era no último domingo (9), mas o furacão, que já matou ao menos mil pessoas, mudou novamente os planos.

    "Não conheço nenhum dos [27] candidatos", diz a dona de casa Lundi Daphnée, 21. "Que diferença faz se nem o prefeito de Port-Salut veio nos visitar até agora? Tanto faz quem for o presidente."

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