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    Plebiscito britânico

    'Brexit' leva a disputa sobre preço de pasta de levedura no Reino Unido

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    14/10/2016 13h24

    A decisão britânica de deixar a União Europeia ganhou contornos concretos nesta semana. Especificamente o contorno da embalagem do Marmite, uma pasta amarga à base de levedura comida tradicionalmente no Reino Unido.

    A rede de supermercados Tesco, a terceira maior do mundo, retirou produtos da Unilever de sua loja virtual culpando o aumento dos preços causado pela desvalorização da libra esterlina.

    Phil Noble/Reuters
     Toast with Marmite sits on a kitchen counter in Manchester, Britain October 13, 2016. REUTERS/Phil Noble ORG XMIT: PNN52
    Torrada com Marmite, extrato de levedura tradicional no Reino Unido

    O Marmite –comido de vários jeitos, mas especialmente passado no pão e em torradas– teria encarecido em 10%. Um potinho com 250 gramas custa atualmente o equivalente a R$ 10.

    Quem gosta da pasta, geralmente adora –daí o produto ter se tornado um ícone britânico. Quem não gosta, detesta –ou nem prova, por causa do cheiro e do sabor muito fortes.

    O sumiço do Marmite e do sorvete da marca Ben & Jerry's causou um furor popular no país, numa crise apelidada "Guerra do Marmite" pela imprensa local.

    Foi uma das demonstrações mais palpáveis, até agora, das consequências do chamado "brexit", a saída britânica da União Europeia.

    Em apoio à população, o jornal "Telegraph" publicou instruções de como produzir Marmite caseiro. Um parlamentar conservador afirmou, por sua vez, que vai passar a consumir o Vegemite, uma versão australiana da pasta.

    A guerra foi encerrada na quinta-feira (13) com um acordo entre as empresas. Não havia detalhes sobre como a disputa foi resolvida, nem sobre se haverá aumento no valor pago pelo consumidor.

    Mas, mesmo após a resolução, a breve demonstração de como o "brexit" pode afetar o cotidiano dos cidadãos britânicos levou a intensas discussões nos últimos dias.

    A libra desvalorizou-se quase 20% em relação ao dólar desde o referendo de 23 de junho, em que votou-se pela saída do Reino Unido.

    REALIDADE

    A Unilever sugere que uma libra esterlina mais fraca significa o encarecimento dos itens trazidos da zona do euro ou produzidos a partir de ingredientes importados.

    Mas, inflamando a "Guerra do Marmite", o governo britânico afirmou na sequência que todos os ingredientes do Marmite são locais e, portanto, não haveria justificativa para aumentar o preço.

    Helen Reid/Reuters
     Jars of Marmite, a brand of Unilever, are displayed for sale on a shelf at a Tesco supermarket in Basildon, Britain October 13, 2016. REUTERS/Helen Reid ORG XMIT: LON841
    Rede de supermercados reduziu a oferta de produtos como o Marmite de suas prateleiras

    Em uma nota, Bruno Monteyne, um ex-executivo da rede Tesco, afirmou que "enquanto políticos podem negar a realidade, um xampu produzido no continente está 17% mais caro". "Não tem a ver com a Tesco ou com a Unilever, mas com todos os varejistas e fornecedores."

    Wes Streeting, parlamentar do Partido Trabalhista, de oposição, afirmou: "Se as pessoas estão preocupadas com a perda do Marmite, espere até que elas descubram [a perda dos] empregos."

    PADRÃO DE VIDA

    Apesar de a crise do Marmite ter simbolizado a insatisfação popular nesta semana, há uma série de outros indícios de uma piora econômica no Reino Unido. Os preços de telefones importados, por exemplo, já subiram em 10%, segundo o "Guardian".

    O incremento dos preços, somado à estagnação dos salários na última década, significa que a população se encontra diante de uma queda no seu padrão de vida atual.

    Paralelamente, Michel Sapin, ministro francês das Finanças, afirmou ter sido avisado por bancos americanos de que eles irão transferir algumas de suas atividades a outros países europeus, abandonando o Reino Unido.

    O "brexit", porém, ainda não é um cenário para o curto prazo. Theresa May, premiê britânica, afirma ter planos de acionar até o fim de março o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, o que oficialmente daria largada ao processo.

    A partir de então, as negociações entre o Reino Unido e a União Europeia podem alongar-se por dois anos.

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