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    Brics tentam superar momentos desiguais em cúpula na Índia

    ISABEL FLECK
    ENVIADA ESPECIAL A GOA (ÍNDIA)

    14/10/2016 15h14

    Enfrentando momentos bem desiguais em suas economias, os líderes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se reúnem a partir deste sábado (15), no pequeno Estado indiano de Goa, com a difícil tarefa de tentar mostrar alguma unidade no grupo.

    Os crescimentos da Índia —que ultrapassou Pequim, percentualmente, em 2015, com 7,3%— e da China —que, apesar de um processo de desaceleração, ainda deve crescer 6,5% neste ano— contrastam com as crises no Brasil e na Rússia, botando em xeque o semelhante potencial que, em 2001, levou o economista britânico Jim O'Neill a "agrupá-los" sob a sigla Brics.

    Prakash Singh/AFP
     An Indian policeman directs the traffic near the Taj Hotel in Goa on October 14, 2016. The eighth annual BRICS summit, which will be attended by the heads of state or heads of government of the five member states Brazil, Russia, India, China and South Africa, will be held in Goa from 15 - 16 October 2016. / AFP PHOTO / Prakash SINGH
    Policial indiano orienta o trânsito em frente a hotel de Goa, onde ocorre a cúpula dos Brics

    "Há um descolamento do que muitos chamam de 'Chíndia', com a boa performance da Índia e um crescimento da China menos robusto mas que, no agregado, ainda é muito forte, e das outras três economias, que têm performance muito pior", afirma Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia e colunista da Folha.

    A discrepância dificultará um "desenvolvimento mais assertivo do grupo", observa o embaixador Fausto Godoy, coordenador do recém-criado Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM. E deve deixa pouco espaço para novas iniciativas.

    Para o governo brasileiro, contudo, a parcela dos BRICS que vive seu momento mais lento pode se beneficiar da "autoestima" trazida ao grupo pelo crescimento vigoroso da Índia. Durante a cúpula, que termina no domingo (16), a ideia é passar ao mundo a imagem de que o grupo, como um todo, "está bem", segundo um alto funcionário do governo.

    No encontro, serão assinados memorandos de entendimento nas áreas ambiental e de pesquisa agrícola e será criado um comitê de cooperação entre as autoridades aduaneiras dos cinco países, para facilitação do comércio.

    Há ainda a expectativa de que possa avançar a ideia sobre criação de uma agência dos Brics de classificação de risco —que, segundo o grupo, avaliaria os países em desenvolvimento de uma forma "mais justa" do que as demais.

    SAIA JUSTA POLÍTICA

    Numa cúpula sem expectativa de grandes anúncios nos campos econômico e institucional do grupo, Rússia e Índia devem tentar empurrar declarações políticas sobre temas importantes para eles.

    Moscou já deu sinais de que buscará alguma forma de apoio dos Brics à sua contestada atuação na Síria. Já o anfitrião, o premiê indiano, Narendra Modi, deve tentar incluir na manifestação final do grupo um texto que remeta aos riscos representados pelo vizinho Paquistão.

    O tamanho dos BRICS- Crises no Brasil e na Rússia contrastam com crescimento indiano e chinês*

    É improvável, no entanto, que os demais países concordem com posicionamentos assertivos —o que deve resultar em parágrafos genéricos, como de condenação ao terrorismo.

    Segundo a embaixadora Maria Luiza Viotti, subsecretária do Itamaraty para a Ásia, os cinco membros deverão seguir trabalhando apenas "em temas sobre os quais há consenso".

    "O papel do Brasil é muito importante [para frear declarações nesse sentido], porque senão, ao invés de ser um veículo de integração para a economia global, os Brics vão se tornar um clube para denunciar os males do mundo", afirma Troyjo.

    PACOTE DE CONCESSÕES

    Para o Brasil, diz o diretor do BRICLab de Columbia, será interessante observar, nos próximos meses, que projetos e parcerias dos Brics farão parte do pacote de concessões anunciado pelo presidente Michel Temer em setembro.

    Na comitiva brasileira, estão os ministros José Serra (Relações Exteriores), Marcos Pereira (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Blairo Maggi (Agricultura).

    Pereira participou, durante a semana, do encontro de ministros do Comércio dos Brics em Nova Déli, e teve reuniões bilaterais com todos os outros quatro representantes, nas quais falou sobre os "esforços" do governo Temer em tentar recuperar o crescimento no Brasil.

    Representantes de 24 empresas brasileiras com negócios ou com interesse em investir na Índia também estão no país e participarão de reuniões com empresários dos Brics em Goa.

    Na segunda-feira (17), Temer se reunirá com Modi, para tratar essencialmente de comércio. De Goa, o presidente segue para o Japão com a comitiva.

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