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    Análise

    Debate sobre investimento ganha destaque em cúpula dos Brics

    MARCOS TROYJO
    COLUNISTA DA FOLHA

    15/10/2016 02h00

    Se alguém te perguntar se os Brics vão acabar, a resposta é "não" —a China não vai deixar.

    Passou a fase em que Brics eram apenas, nas finanças, sinônimo de "elite dos emergentes".

    Ganha força o conceito de "Brics 2.0" —construção institucional da aliança entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Muito dessa transição se deve à China, que, juntamente com os Estados Unidos, formam o "G2" do mundo contemporâneo.

    Os Brics são excelente veículo para Pequim se movimentar geoeconomicamente para além de sua vizinhança asiática. Daí os primeiros projetos financiados pelo NBD (Novo Banco de Desenvolvimento) centrarem-se em energia limpa. A China investe mais em tecnologia eólica e fotovoltaica do que todo o resto do mundo somado.

    Li Peng/Xinhua
    Paineis com a sigla Brics em saguão do aeroporto internacional de Goa; cidade indiana sedia cúpula do bloco
    Painéis com a sigla Brics no aeroporto internacional de Goa; cidade indiana sedia cúpula do bloco

    A construção institucional dos "Brics 2.0" não é pouca coisa. Agrupamentos como o G7 jamais foram além de declarações sobre a conjuntura global.

    A reunião de Goa, a partir deste sábado (15), também aprofundará discussões entre o NBD e o AIIB (sigla em inglês do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura), sediado na China.

    Num contexto de protecionismo em diferentes partes do mundo, as discussões intra-Brics acerca de projetos de investimento terão precedência sobre o intercâmbio comercial. Assim, a cúpula estará mais voltada ao financiamento do desenvolvimento.

    E, claro, além do formato plurilateral, o Brasil utilizará a oportunidade para reuniões bilaterais em que detalhará projetos de parceria na infraestrutura. Esta será a tônica das conversações informais Brasil-China.

    Os Brics também avançarão no estabelecimento de sua própria agência de classificação de risco.

    Mais do que alternativa às tradicionais Moody's, S&P e Fitch, a medida se alinha à busca por maior "compliance" de parte das empresas e fundos chineses.

    A China tornou-se grande origem não somente de exportações, mas de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) e empréstimos.

    Com US$ 700 bilhões, o portfólio chinês de financiamento ao desenvolvimento é o dobro do que disponibiliza o Banco Mundial.

    POLÍTICA EXTERNA

    Já em temas mais nevrálgicos do cenário internacional, a cúpula vai passar longe. Não devem constar do documento final referências explícitas —do agrado da Rússia— à atuação do Ocidente na crise síria. A questão é demasiado sensível, e países como o Brasil entendem que a ONU é o fórum adequado.

    Tampouco a cúpula emitirá declarações incisivas em outros temas espinhosos que afetam os Brics, individual ou coletivamente —como a tensão geopolítica em torno do mar do Sul da China, a Crimeia, ou as seguidas rusgas entre Índia e Paquistão.

    Dentre as novidades, a estreia de Michel Temer na cúpula. Holofotes estarão voltados a ele e em que medida vocalizará continuado apoio brasileiro à cooperação Sul-Sul e à aliança dos Brics como ferramenta de aprimoramento da governança global.

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