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    Potencial indiano atrai interesse do Brasil

    ISABEL FLECK
    DE ENVIADA ESPECIAL A GOA (ÍNDIA)

    16/10/2016 02h00

    De um lado, a Índia, com crescimento de mais de 7% e um mercado de 1,3 bilhão de consumidores. Do outro, o Brasil, com PIB que ainda deve registrar queda em torno dos 3% neste ano e um deficit no comércio bilateral com o país asiático de mais de US$ 670 milhões (R$ 2,1 bi).

    A disparidade, mais acentuada desde 2015, mostrou a necessidade de se estimular, entre empresários brasileiros, maior volume de comércio e investimentos com o parceiro que, percentualmente, mais cresce nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

    Neste sábado (15), ao chegar com o presidente Michel Temer no Estado indiano de Goa para a cúpula dos Brics, o chanceler José Serra disse que o comércio com a Índia pode ser "triplicado" nos próximos anos.

    "Há um potencial imenso. [A balança comercial] deve estar entre US$ 7 bilhões e US$ 8,5 bilhões. Isso pode ser duplicado, triplicado ao longo dos anos", afirmou Serra.

    Segundo estimativa do Conselho Nacional de Pesquisa em Economia Aplicada, da Índia, a classe média do país –de famílias com renda anual entre US$ 4.500 e US$ 25,4 mil, que poderiam ser um mercado em potencial para o Brasil– soma cerca de 267 milhões de pessoas.

    O número é maior do que as populações totais de Japão, Alemanha e Argentina, que recebem um volume bem maior de exportações brasileiras do que a Índia.

    Temer e o premiê indiano, Narendra Modi, se encontram nesta segunda (17), quando assinam um acordo de cooperação e facilitação de investimentos para reduzir a burocracia e oferecer proteção jurídica aos empresários.

    Na sequência, os dois receberão empresários dos dois países –do lado brasileiro, estarão representantes da Vale, da Marcopolo e de empresas de softwares e de engenharia elétrica e automação.

    "Percebi que tanto os empresários brasileiros como os indianos querem investir, mas há uma falta de clareza e de transparência e de previsibilidade jurídica. Isso faz com que alguns deles se afastem", disse, no sábado, o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, que também participou de encontros com empresários dos Brics em Nova Déli durante a semana.

    Para o embaixador Fausto Godoy, hoje coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM, no entanto, há uma "miopia absoluta" do governo e do empresariado sobre oportunidades na Índia e em todo o continente.

    "Falta um maior acercamento de culturas. É um mercado enorme, de que os brasileiros não estão se dando conta.", diz Godoy.

    Setores como o de alimentos processados, aviação civil, energia e mineração são alguns dos que oferecem boas oportunidades para os brasileiros. "Alimentos processados exportamos muito pouco, poderia exportar muitíssimo mais", observa o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia, Roberto Paranhos. "Em um país de 1,3 bilhão de habitantes, a questão é achar o nicho certo."

    Hoje, as exportações brasileiras para a Índia são compostas basicamente de commodities, enquanto os indianos vendem muito mais produtos manufaturados.

    No fim de setembro, a secretária adjunta do Comércio da Índia, Anita Praveen, visitou o Brasil para promover o programa de investimentos "Make in India", que reduziu a burocracia para estrangeiros empreenderem no país.

    "Agora os investidores estão totalmente fora da burocracia, então não é preciso passar por tantas aprovações", disse Praveen à Folha. "Mas queremos que mais investidores brasileiros viajem para a Índia."

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