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    Cerco a Mossul, no Iraque, desgasta propaganda do Estado Islâmico

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    20/10/2016 02h00

    Acostumada a noticiar eventuais vitórias militares, a máquina de propaganda do EI (Estado Islâmico) começou a enfrentar, nesta semana, um desafio: como relatar a sua progressiva derrota.

    O Exército iraquiano avança desde a última segunda (17) rumo a Mossul, de 1,5 milhão de habitantes e considerada bastião do EI no país, reduzindo diariamente o território controlado pela facção terrorista.

    Por enquanto, porém, os relatos das agências internacionais sobre os avanços das tropas do governo iraquiano não parecem ter afetado os comunicadores terroristas.

    Seus canais oficiais na internet seguem narrando uma suposta expansão e os danos causados aos soldados inimigos, como se o EI estivesse em vantagem no front.

    Yasin Akgul/AFP
    Em meio a ofensiva iraquiana, homem tira selfie em frente a incêndio de um campo de petróleo, a 60 km de Mossul
    Em meio a ofensiva, homem tira selfie em frente a campo de petróleo em chamas, a 60 km de Mossul

    Um relatório circulado na terça-feira (18), por exemplo, informava sobre "as diversas derrotas das forças infiéis". E citava cinco tanques de guerra destruídos do lado inimigo e 257 morteiros disparados contra os "rejeitadores" —termo depreciativo aos xiitas, um ramo minoritário do islã perseguido pelo EI.

    Os xiitas teriam, na visão do EI, rejeitado os califas que substituíram o profeta Maomé após sua morte, no século 7 —um dos pontos de atrito entre os ramos do islã.

    Um gráfico inflacionava, ainda, o número de combatentes inimigos, afirmando haver "mais de 100 mil soldados" na ofensiva contra Mossul —quando o próprio Exército iraquiano afirma contar apenas com 30 mil.

    As forças americanas, estimadas pelo EI em 1.350, apareciam na imagem como "cruzados", em referência aos europeus que lutaram contra muçulmanos na região, durante a Idade Média.

    Contrariando, por fim, os relatos de que seus militantes estão cavando túneis e trincheiras e estocando suprimentos, o EI divulgou uma fotografia de Mossul mostrando alguns jovens caminhando tranquilamente pelas ruas, à noite.

    A ideia contrasta com as notícias da ofensiva. Nesta quarta-feira (19), soldados curdos prosseguiam na tomada de diversos vilarejos nos arredores de Mossul.

    Enquanto as forças iraquianas se aproximam da cidade, os EUA temem que, acuado, o EI possa utilizar armas químicas rudimentares contra seus inimigos.

    TENTÁCULOS

    A comunicação é, desde os primeiros dias do EI, uma de suas principais armas. A facção terrorista atraiu milhares de militantes vendendo a eles a ideia de que poderiam conquistar todo o mundo.

    Essa imagem é projetada por meio de um tentacular aparato, incluindo revistas publicadas em inglês, vídeos baseados na estética dos videogames e canais em diversas redes sociais.

    Um relatório do pesquisador espanhol Javier Lessaca estima que o EI tenha publicado mais de 920 campanhas audiovisuais durante 22 meses, contando com 33 produtoras distintas.

    Não à toa, um dos membros mais importantes da facção era Abu Muhammad al-Adnani, porta-voz do EI até o anúncio de sua morte perto de Aleppo, em agosto. O EI chegou a divulgar um obituário de Adnani, mas suspeita-se que isso possa ter sido uma tentativa da facção de despistar sobre o paradeiro dele.

    DESMENTIDO

    Especialistas na comunicação do EI têm monitorado atentamente a propaganda da facção durante esta semana, desde o início da ofensiva militar que tem o objetivo de retomar Mossul das mãos dos terroristas.

    Grande parte das informações é circulada em canais secretos, em que se precisa ter permissão para receber as notificações. O EI usa, por exemplo, um aplicativo encriptado para trocar mensagens.

    O analista Charlie Winter registrou que o EI desmentia durante a segunda-feira os avanços das tropas curdas, que tomaram de uma só vez sete vilarejos.

    O tom das notícias, quando mencionavam Mossul, era de celebração por suas vitórias, em especial os atentados terroristas que retardaram os avanços iraquianos.

    Em um vídeo, o EI registrava um suposto ataque a um hospital próximo a Mossul, apresentando-se, portanto, como vítima da ofensiva das tropas iraquianas.

    Batalha para reconquistar Mossul Do EIForças do Iraque iniciaram a operação para recapturar a cidade de Mossul, considerada o bastião do EI no país
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