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    Meio-irmão de Barack Obama vai a debate para apoiar Trump

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    ENVIADA ESPECIAL A LAS VEGAS

    20/10/2016 11h02

    Obama passou pelo último debate desta temporada presidencial, na quarta-feira (19) –e foi por Donald Trump que torceu.

    A afirmação pode parecer caso para o "Erramos", seção em que a Folha corrige informações incorretas. Mas é isso mesmo. Enquanto o presidente Barack Obama aconselha Trump a "parar de choramingar" sobre uma suposta fraude eleitoral, seu meio-irmão Malik, 58, foi à Universidade de Nevada, sede do confronto, apoiar o empresário.

    Em julho, ele afirmou ao "New York Post" que gosta de Trump "porque ele fala do coração" e tem "um ótimo slogan" ("Faça a América Grandiosa de Novo").

    Saul Loeb/AFP PHOTO
    Malik Obama, meio-irmão do presidente dos EUA, no último debate entre Hillary e Trump
    Malik Obama, meio-irmão do presidente dos EUA, no último debate entre Hillary e Trump

    O anúncio de que Malik estaria no debate levantou suspeitas de que o republicano pudesse ressuscitar a polêmica do "birther", movimento que disseminava a falsa ideia de que o havaiano Barack Obama, filho de americana branca e queniano negro, não nascera nos EUA –a Constituição americana veta presidentes de origem estrangeira. Trump era fã da tese e por anos a alimentou, até admitir em setembro que ela não procedia.

    Já Malik incorpora vários rótulos que o empresário tentou colar em Barack: tem cidadania americana, mas veio do Quênia; é muçulmano e não morre de amores por valores ditos "de família" na América (tem entre três e 12 mulheres, segundo o "Washington Post").

    Ele nasceu em Nairobi, dois anos antes de seu pai –também chamado Barack– conhecer a mãe do atual presidente, no Havaí. Já se deu melhor com o irmão.

    Uma foto de 1992 mostra os dois sorrindo: Barack vestindo smoking, Malik de bata tipicamente africana. O mais velho foi padrinho no casamento do caçula com Michelle.

    Ao britânico "Daily Mail", em entrevista de três anos atrás, o outro Obama mostrou ressentimento. "Também é meu nome. Não esqueçamos que nasci antes dele."

    Incomodava-o particularmente a ideia de que ele quer faturar em cima do Obama famoso. Ele já foi acusado de tentar vender duas cartas escritas a mão por Barack, US$ 15 mil cada.

    "Quando cheguei no Quênia para fazer pesquisas para a biografia, Malik queria controlar todas as pesquisas", tuitou o jornalista David Maraniss, autor da biografia "Barack Obama: The Story".

    Desde que se entende por gente, disse Malik em 2013, seu pai martelou a noção de que Obamas são predestinados a deixar uma marca no mundo. "Ele costumava dizer: 'Você é o melhor porque eu venho da melhor safra."

    Barack pai morreu aos 46 anos, num acidente de carro no Quênia. O filho a quem transmitiu o nome tinha dez anos quando o viu pela última vez.

    Os irmãos se conheceram em Washington, 31 anos atrás. "O reencontro não foi legal", conta Maraniss. Malik na época atendia por Roy, um dos 32 nomes que adotou na vida (outro foi Bobby).

    "Roy estava se divorciando. Barack teve de ficar num hotel péssimo, e Roy falou sobre os demônios do pai deles."

    Na autobiografia "Sonhos do Meu Pai" (1995), o presidente lembra com afeto do irmão três anos mais velho em seu casamento.

    "A pessoa que mais me deu orgulho foi Roy. Na verdade, agora podemos chamá-lo de Abongo, seu nome luo [povo queniano], já que há dois anos ele decidiu reafirmar sua origem africana. Ele se converteu ao Islã e abdicou de carne de porco, tabaco e álcool."

    O homem que atualmente atende por Malik também é político e já concorreu ao governo de Siaya, distrito queniano, sob o slogan "Obama cá, Obama lá". Teve 2.972 votos, 140 mil a menos do que o vencedor.

    Nos últimos anos, tem de fato sido Barack cá, Malik lá. O primogênito se distanciou do irmão. Reclama, por exemplo, que teve zero apoio ao abrir uma fundação com o nome do pai.

    Também deu entrevista a Joel Gilbert, documentarista que fez vários filmes sobre Bob Dylan e tem gosto por teorias conspiratórias –já lançou "Paul McCartney na Verdade Está Morto" e, no docudrama "Sonhos do Meu Pai Verdadeiro" (2012), sustenta que Barack é na realidade filho de um membro do Partido Comunista americano.

    O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse que o presidente fala uma vez por ano, se tanto, com o irmão. A próxima conversa ainda não tem data marcada.

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