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    Experiência de luta contra ETA ajuda Espanha a combater Estado Islâmico

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    20/10/2016 12h21 - Atualizado às 13h11

    A Espanha celebra nesta quinta-feira (20 de outubro) cinco anos desde que o movimento separatista basco ETA renunciou à luta armada. Essa organização havia desestabilizado o país por quatro décadas.

    Hoje a Espanha enfrenta, porém, outra ameaça: o extremismo da facção Estado Islâmico (EI) e o risco de atentados como aquele de 11 de março de 2004, que deixou 191 mortos.

    GARA.NET-20.out.2011/AFP Photo
    Militantes do ETA vestidos com camisas pretas com capuzes brancos sobre as cabeças e boinas pretas fazem declaração em local não revelado. Grupo separatista basco ETA declarou o fim "definitivo" dos atos terroristas. *** ETA002 RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT " AFP PHOTO / GARA.NET" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS A picture grabbed on Gara.net shows three ETA militants dressed in black shirts with white hoods over the heads and black berets making a declaration in an undisclosed location. Armed Basque separatist group ETA declared Thursday the "definitive" end to more than four decades of bombing and shooting for a homeland independent of Spain. Three ETA militants dressed in black shirts with white hoods over the heads and black berets made the declaration in a video on the Basque newspaper Gara's website. Sitting at a table with the band's emblem of the struggle -- an axe with a snake curled around it -- the masked activist in the centre of the trio delivered the potentially historic announcement.
    Militantes do ETA anunciam fim "definitivo" da luta armada

    Com a vantagem de que, agora, suas forças de segurança estão mais bem preparadas e coordenadas. O histórico pode ser um diferencial relevante, em comparação com Estados europeus como a França e a Bélgica, alvos de ataques recentes.

    "Tudo o que aprendemos com dor na luta contra o ETA serve hoje contra o jihadismo", diz à Folha Alfredo Pérez Rubalcaba, ex-ministro do Interior (2006 – 2011), ex-líder socialista e uma das figuras responsáveis por esvaziar a organização basca.

    Ele aponta que as autoridades locais têm frequentemente detido extremistas, como o brasileiro impedido em 2014 de viajar à Síria e unir-se ao EI.

    O sucesso policial, no entanto, significa não apenas quão afiada está sua máquina —mas também o grau da constante ameaça ao país.

    A Espanha aparece em diversas das propagandas da organização terrorista, que se refere ao país pelo nome de Al-Andalus, pelo qual a península Ibérica era conhecida na Idade Média durante um califado muçulmano.

    Dominique Faget - 3.fev.2013/AFP Photo
    ORG XMIT: DF725 Leader of Spain's opposition Socialist party (PSOE) Alfredo Perez Rubalcaba delivers a speech during a press conference in Madrid on February 3, 2013. The leader of Spain's opposition Socialist party called today for Prime Minister Mariano Rajoy to resign amid a damaging corruption scandal. Leading centre-left newspaper El Pais on January 31 published account ledgers purportedly showing that donations were channelled into secret payments to Rajoy and other top party officials.
    Alfredo Perez Rubalcaba, ex-líder socialista, participa de coletiva de imprensa em Madri

    ISOLAMENTO

    Rubalcaba afirma que a derrota do ETA em 2011 foi o resultado da combinação de uma série de fatores. O principal eixo foi o policial, mas os esforços envolveram também discussões sociais e uma aliança internacional.

    As forças de segurança foram incrementadas e coordenadas. A liderança do movimento radical basco foi perseguida, detida e isolada.

    Socialmente, teve especial peso que a comunidade basca condenasse esse movimento separatista. "Foi importante que o País Basco dissesse que o ETA não lutava por sua libertação", diz.

    Esse tipo de esforço tem que ser repetido em relação ao EI. Rubalcaba faz a ressalva de que a comunidade muçulmana é variada e não se expressa em bloco. "Mas é importante que eles condenem o radicalismo, que haja mais crítica."

    Do ponto de vista internacional, o ex-ministro ressalta a importância das alianças travadas entre Espanha e França para combater o ETA.

    Assim, ele diz que é importante que as agências de inteligência cooperem de maneira intensa. Critica-se hoje justamente a falta de coordenação na França e na Bélgica, o que pode ter contribuído à sua vulnerabilidade aos ataques recentes.

    Ander Gillenea - 11.out.2016/AFP Photo
    Members of the Spanish National Police escort an arrested man accused of collaborating with the Islamic State in San Sebastian on October 11, 2016. Spanish police have arrested two men on suspicion of seeking recruits for the Islamic State group, the interior ministry said today.
    Polícia da Espanha detém suspeito de ligação com o EI em San Sebastian, na semana passada

    ARTICULAÇÃO

    As décadas de combate ao terrorismo se condensaram, na Espanha, no pacto antiterrorista assinado em 2000 e revisto depois dos atentados de 2004 em Madri, que "nos levaram a reflexões profundas", segundo Rubalcaba.

    O país criou centros de coordenação para o combate ao terrorismo e intensificou o compartilhamento de inteligência. Hoje, diz, o processo ocorre naturalmente, e sob uma revisão constante.

    Mas nem todas as lições aprendidas com o ETA podem ser transpostas ao EI. Por exemplo, a maneira com que a polícia trabalha, diz o ex-ministro.

    "Era mais fácil combater o ETA, de certa maneira, pois seus militantes não queriam morrer. Mas jihadistas morrem com gosto, e são difíceis de enfrentar policialmente."

    Mas, uma vez detidos, os extremistas podem ser tratados a partir de uma mesma estratégia. As centenas de detidos do ETA foram dispersados entre o país, impedindo que se articulassem.

    Algo semelhante pode ser feito com o EI, "para que não aproveitem o cativeiro para cultivar o fanatismo", afirma Rubalcaba.

    "O ETA sempre sustentou a teoria do empate infinito, de que o confronto teria que ser resolvido pelo diálogo. Eles foram enfraquecidos, porém, e não tiveram outra saída a não ser desistir."

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