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    BBC

    Pintura do ex-presidente Mujica e sua mulher vira caso de polícia no Uruguai

    DA BBC BRASIL

    21/10/2016 18h14

    Uma pintura inspirada no ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica e em sua mulher, a senadora Lucía Topolansky, virou caso de polícia no Uruguai.

    A galeria de arte Diana Saravia, em Montevidéu, expunha desde a semana passada um quadro intitulado "Gênesis Uruguay", do artista local Julio de Sosa, em que um homem e uma mulher apareciam seminus em uma recriação do paraíso bíblico.

    A figura de Adão é inspirada em Mujica, e Eva tem o rosto de Topolansky.

    A obra ficou em exposição até terça-feira desta semana, quando a polícia apareceu na galeria para pedir que a dona, Diana Saravia, comparecesse a uma delegacia.

    "A polícia nos notificou e pediu a gentileza de retirarmos a obra para que não fosse exibida ao público. O delegado disse que tinha que cumprir seu trabalho e que a ordem era de cima", disse Saravia.

    Reprodução/Reprodução
    A tela 'Gênesis Uruguay', retirada de exibição pela polícia em uma galeria da capital uruguaia
    A tela 'Gênesis Uruguay', retirada de exibição pela polícia em uma galeria da capital uruguaia

    Oficialmente, o quadro de 90 cm de altura e 70 cm de largura foi retirado em razão de "queixas" contra a obra, versão que a dona da galeria questiona.

    "Respeito a autoridade da polícia e quando os dois policiais entraram aqui e me disseram que tinham ordens do delegado para tirar o quadro da parede, eu obedeci", afirmou a galerista à BBC Brasil.

    Ela se disse surpresa pela ação policial e reconheceu que a obra foi inspirada no casal de políticos.

    Mujica e Topolansky são conhecidos pela forma austera com que vivem em uma chácara com a cachorra Manuela –que tem três patas e também aparece na pintura– nas redondezas de Montevidéu.

    O episódio é destaque em jornais uruguaios nesta sexta-feira (21) e motivou um debate sobre liberdade de expressão e limites da ação policial, segundo informam os jornais El País e El Observador, de Montevidéu.

    Questionada se considerava o fato uma censura, como sugeriram opiniões veiculadas na imprensa, a galerista preferiu não entrar em polêmica.

    "Não posso dizer isso. O que posso garantir é que o artista quis fazer uma homenagem ao casal, que ele os admira e jamais pensou em agredi-los. Pelo contrário."

    Na delegacia, Saravia foi informada que a obra não poderá ser exibida, a menos que a galeria receba uma autorização policial.

    Mujica e a mulher criticaram a obra e sugeriram que tenha havido exploração indevida de imagem.

    "Podem ganhar uns pesos (com a arte), mas as coisas têm um limite", disse o ex-presidente e atual senador ao noticiário Telenoche.

    Mujica já havia dito em outras ocasiões que repudiava o uso de sua imagem em "situações que pudessem desvirtuar sua forma de vida".

    A senadora disse a jornais locais que o quadro representa um "exibicionismo sem autorização".

    "Agora te pegam para piada. Colocam-na na vitrine de uma galeria e as pessoas não sabem se você posou para aquilo, se autorizou ou não", afirmou ao jornal La Diaria.

    "Por que não pintaram o ex-presidente (Luis Alberto) Lacalle com a esposa dele?", questionou a senadora, que disse estar em contato com um advogado para orientações sobre o caso.

    A polêmica em torno do quadro se tornou assunto da semana no Uruguai.

    Nesta sexta-feira, o El País publicou em manchete que Mujica e Topolansky "apoiam censura da polícia contra o quadro". Uma das noticias mais lidas no site do jornal El Observador era "A verdade exposta: polêmica pela pintura de Mujica e Topolansky".

    A polêmica também foi comentada nas redes sociais. "Com este debate, o valor do quadro não para de subir", disse um usuário do Twitter.

    O quadro tinha preço inicial de US$ 400 - agora, segundo a dona da galeria, há interessados dispostos a pagar até US$ 5 mil (R$ 15,8 mil).

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