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    eleições nos eua

    Especialistas contestam pesquisas que apontam vitória certa para Hillary

    DANIEL BUARQUE
    DE SÃO PAULO

    22/10/2016 02h00

    Mark Ralston/AFP
    Republican presidential nominee Donald Trump speaks as Democratic presidential nominee Hillary Clinton (R) looks on during the final presidential debate at the Thomas & Mack Center on the campus of the University of Las Vegas in Las Vegas, Nevada on October 19, 2016.
    O republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton no debate desta quarta (19), em Las Vegas

    "Hillary Clinton provavelmente vai ser a próxima presidente" dos EUA. A previsão foi feita por Nate Silver, o guru das estatísticas eleitorais, na quinta (20), um dia após o último debate eleitoral.

    Depois de prever corretamente o resultado de 49 Estados na eleição de 2008, e de acertar todos os 50 Estados em 2012, sua análise das pesquisas indica uma probabilidade de quase 90% de vitória da democrata.

    Falta apenas combinar com os eleitores.

    Segundo acadêmicos especializados em pesquisas de opinião pública nos EUA, por mais que os levantamentos indiquem ampla vantagem de Hillary, esta é uma eleição atípica, e as sondagens usam uma metodologia defasada, o que dá margem para desconfiança. Além disso, cada vez menos pessoas respondem a esse tipo de pesquisa, e as amostras resultam em dados menos precisos.

    "Há evidências de que pode haver surpresas nessa eleição. Não sabemos o que vai acontecer", disse à Folha Fritz Scheuren, vice-presidente do Centro pela Excelência em Pesquisas da Universidade de Chicago.

    Os modelos de previsão se baseiam em hipóteses relativas a eleições passadas, explicou Brian Krueger, cientista político e da Universidade de Rhode Island. Ao entrevistar pessoas sobre sua intenção de voto, as sondagens buscam traçar um perfil do eleitor, a fim de entender a tendência de voto. "Essas premissas podem não ser tão relevantes nessa eleição pouco usual", disse.

    O principal ponto de incerteza, segundo Paul Lavrakas, estatístico do instituto Norc, de Chicago, é que esta tem sido "a eleição mais horrível na história recente". Isso cria um alto grau de insegurança sobre o comportamento do eleitorado, explicou.

    A ressalva é também válida porque 2016 foi um ano de surpresas eleitorais no mundo. Em junho, a aprovação da saída britânica da União Europeia veio após pesquisas indicarem vitória dos que votavam contra o chamado "brexit". E em outubro, os colombianos rejeitaram um acordo de paz com as Farc, também contrariando sondagens.

    FALHAS DE AMOSTRAGEM

    Segundo estudiosos ouvidos pela Folha, a eleição americana é diferente, mas padece de um problema similar a todas as pesquisas de intenção de voto atuais.

    Por um lado, a vantagem de Hillary nos levantamentos mais recentes é maior do que a vista nesses dois outros casos de erros em sondagens, o que diminui a chance de surpresa. Por outro, sofre das mesmas adversidades metodológicas que tornam as margens de erro maiores e as sondagens menos confiáveis.

    O problema é que a maioria das pesquisas é realizada por telefone, e as amostragens analisadas são ruins, segundo Scheuren. "As pesquisas são feitas com amostras cada vez menores. Não há muitas pessoas dispostas a responder às sondagens."

    "A quantidade de pessoas que não respondem às pesquisas é tão extrema nesta eleição que isso pode refletir sentimentos que não representam os entrevistados", avaliou Lavrakas.

    Segundo Kureger e Scheuren, o percentual de pessoas que respondem é de menos de 10% do total de eleitores que os institutos procuram. Isso cria um processo de "autosseleção", em que a amostra se torna tendenciosa e não reflete a realidade. Com amostras limitadas, os institutos de pesquisas precisam presumir informações sobre os eleitores, o que torna a margem de erro mais ampla.

    Consciente das incertezas desta eleição, o próprio site FiveThirtyEight, de Silver, publicou um artigo alegando que 2016 não vai repetir a eleição de 1948. Naquele ano, pesquisas anunciaram a vitória de Thomas Dewey sobre Harry Truman, mas erraram, e Truman foi eleito.

    Agora as coisas são diferentes, diz o site. "Temos muito mais pesquisadores agora", defende.

    De fato, a análise de Silver se baseia em várias pesquisas para tentar dar mais segurança à previsão.

    Segundo Scheuren, entretanto, a análise de muitas pesquisas pode manter alto grau de incerteza. "Agregadores sofrem do mesmo problema de amostragem tendenciosa, que pode afetar a leitura dos números", disse.

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