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    Hillary carrega desde o passado imagem de distante e agressiva

    RAUL JUSTE LORES
    DE SAO PAULO

    23/10/2016 02h00

    Hillary Clinton era a desconhecida primeira-dama do remoto Estado do Arkansas quando provocou um frenesi nacional. Após um debate duro entre seu marido, Bill Clinton, e os demais pré-candidatos democratas, ela foi questionada por sua fama de mandona, agressiva e de "co-governar" com o marido.

    Às câmeras, em 16 de março de 1992, ela respondeu que era atacada por ter "tido uma carreira e uma vida independente". Emendou com uma de suas frases mais famosas: "Eu poderia ter ficado em casa assando biscoitinhos e tomando chá, mas já tinha uma carreira antes de o meu marido entrar na vida pública".

    Mais de 24 anos depois e favorita a derrotar o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro, Hillary ainda é considerada distante e agressiva.

    Se eleita, será a pessoa mais impopular a chegar à Casa Branca em pelo menos 40 anos. Pesquisa encomendada pela revista britânica "The Economist" indica que 55% dos americanos têm uma visão "desfavorável" dela.

    "Hillary já foi alvo de todos os estereótipos possíveis e paga um grande preço por sua ambição. Se é muito feminina, não poderia ser comandante-chefe das Forças Armadas; se reprime a feminilidade, pode ser vista como robótica, insensível", diz à Folha a professora Jennifer Lawless, que dirige o Instituto Mulheres e Política da American University (Washington).

    Hillary foi a pioneira das primeiras-damas a ter uma profissão antes de chegar à Casa Branca. Em suas campanhas, o marido dizia que ela poderia ser ministra, "se quisesse". "Leve dois votando em um", chegou a dizer.

    Escândalos não faltam na vida dela: de cobrar demais como advogada a receber doações da Arábia Saudita para a fundação que mantém com o marido. De usar uma conta de e-mail pessoal e um servidor em casa para comunicações de governo (algo proibido) a receber por palestras cachês de US$ 200 mil de bancos de Wall Street.

    Mas o escândalo sexual que provocou um processo de impeachment contra seu marido, pela relação dele com a então estagiária Monica Lewinsky, também a afetou. Era comum ela ser criticada por continuar com ele e por parecer só se importar com o poder (hoje é comparada até a Claire Underwood, a primeira-dama calculista do seriado "House of Cards").

    Pesquisas recentes a colocaram 20 pontos na frente de Trump entre as mulheres. "Apesar dessa vantagem, Hillary nunca foi unanimidade entre o eleitorado feminino por estar 'sanduichada' entre duas gerações bem diferentes: uma, mais velha, que a vê ambiciosa demais; as mais jovens já não consideram mais histórico haver uma mulher na Casa Branca", afirmou à Folha a cientista política Kelly Dittmar, da Universidade Rutgers.

    A insistência em manter tudo privado e controlado parece persistir e "compromete sua popularidade", escreveu a jornalista Jill Abramson, que foi editora-executiva do "New York Times", e, por muitos anos, cobriu como repórter a ex-primeira-dama. "Ela precisaria ser radicalmente transparente, com discursos pagos, com a fundação, os exames médicos e todos os e-mails que ela ainda tiver. Aceitar responder perguntas de temas que Hillary odeia lhe faria bem", escreveu no mês passado no jornal britânico "The Guardian".

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