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    Hillary aposta em latinos para levar Estados-pêndulo na eleição americana

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    ENVIADA ESPECIAL A LAS VEGAS

    25/10/2016 02h00

    "Tá vendo aqueles peitos?", pergunta o taxista Harry Daniel, 55, enquanto o carro passa rente a uma moça com decote presumidamente siliconado. "Hillary [Clinton] e [Donald] Trump são tão falsos quanto."

    O drama de Happy Harry (Harry Feliz), seu apelido, reflete o de muitos conterrâneos no Estado de Nevada, no oeste dos EUA. Ele já votou nos democratas Bill Clinton e Barack Obama e nos republicanos George Bush (o pai e o filho).

    Mas diz que, em 2016, escreverá o nome de Elvis Presley na cédula, o que na prática é votar nulo. Aposta, contudo, que Hillary vencerá "porque agora tem muito 'Taco Bell' aqui", diz, referindo-se aos hispânicos no Estado.

    A campanha da democrata nutre a mesma esperança —um voto em massa da comunidade latina de Nevada, que era 10% em 1990 e hoje representa um em cada quatro locais.

    Ethan Miller/Getty Images/AFP
    O presidente Barack Obama faz comício pró-Hillary no domingo (23) em Las Vegas (Nevada)
    O presidente Barack Obama faz comício pró-Hillary no domingo (23) em Las Vegas, em Nevada

    "Após Trump fazer comentários incendiários sobre mexicanos serem estupradores e criminosos, Hillary consolidou uma larga vantagem nesse grupo", diz John Tuman, presidente do departamento de ciências políticas na Universidade de Nevada.

    Cinco dias depois, no domingo (23), Obama sacaria uma metáfora caseira durante ato em Las Vegas para incentivar a ida às urnas: a democrata é um "ás na manga", mas não adianta ter uma boa mão se você "esconde as cartas e não vai votar".

    O empurrão é necessário. Em 2012, só 48% dos eleitores latinos do país compareceram às urnas, ante 67% dos negros e 64% dos brancos. Explicam a baixa adesão fatores como a faixa etária do grupo ser menor —jovens são menos propensos a votar em todas as etnias— e um reflexo da desilusão com a política latino-americana.

    Quatro anos atrás, Nevada foi o 38º de 50 Estados com menor participação nas urnas, algo incomum para um Estado-pêndulo —aqueles que, sem preferência partidária, são disputados a tapa pelos dois grandes partidos.

    Em Nova York, por exemplo, é o contrário: lá a vitória democrata é dada como certa, o que faz com que muitos não se preocupem em votar. Situação inversa à da pendular Flórida, que começou sua votação antecipada na segunda (24) e onde, em 2000, Bush venceu Al Gore por 537 votos entre quase seis milhões, num pleito contestado (em vão) na Suprema Corte.

    Nevada só tem seis de 538 delegados no Colégio Eleitoral, sistema em que representantes apontam o presidente a partir do candidato mais votado em seus Estados. Pode bastar em disputas apertadas —Al Gore teve só cinco votos a menos que Bush.

    E a terra de Las Vegas é um Frankenstein eleitoral, que nas últimas dez eleições optou por seis republicanos e quatro democratas. Em 2012, escolheu Obama e, dois anos depois, reelegeu um governador republicano e latino, Brian Sandoval -que causa arrepios em seu partido por "heresias liberais", como aumentar impostos.

    'SITUAÇÃO BREXIT'

    Hoje as pesquisas põem Hillary à frente em vários Estados indecisos, como Nevada e Flórida. Na segunda, Trump disse esperar por uma "situação brexit" para ganhar a Casa Branca, alusão ao plebiscito britânico que, contrariando pesquisas, cravou o divórcio com a União Europeia.

    O "Review-Journal" foi o primeiro grande jornal a apoiar sua candidatura. Em editorial no sábado (22), o principal diário de Las Vegas, onde vivem 75% da população local, se disse predisposto a relevar "sua retórica superaquecida" para evitar "uma administração Hillary", que "saciaria os piores instintos da esquerda autoritária".

    Entre tentativas de Trump de se cacifar com latinos, uma foto publicada no feriado mexicano Cinco de Mayo: ele comendo taco em seu jato (preparado por um chef irlandês do Trump Tower Grill).

    No entanto, para a cozinheira Resha Quintana, 32, as bolas-foras do republicano são "indesculpáveis".

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