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    Acuado por escândalos, Trump tenta conciliar campanha e negócios

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    27/10/2016 02h00

    Ao interromper sua agenda eleitoral para promover seus negócios, Donald Trump pode estar de olho no futuro: cinco pontos atrás da democrata Hillary Clinton na média das pesquisas, e com pouca margem de manobra a 12 dias da eleição, o presidenciável republicano fez uma parada estratégica em Washington para inaugurar mais um hotel de luxo que leva seu nome, nesta quarta (26).

    Para analistas políticos, Trump se empenha em garantir a sobrevida de sua franquia, com 12 hotéis (um deles no Rio, aberto ainda em obras dois meses atrás) e 17 campos de golfe.

    Enquanto faz política, ele divulga sua marca, servindo cortes do Filé Trump a repórteres e montando palanques em seus clubes de golfe. Esteve num deles na terça (25), na Flórida, onde teve pequeno alívio: voltou a liderar, com dois pontos à frente de Hillary, segundo sondagem da Bloomberg.

    Mario Anzuoni/Reuters
    Funcionários colocam cimento em estrela de Trump na Calçada da Fama, em Los Angeles; homenagem foi vandalizada
    Funcionário coloca cimento em estrela vandalizada de Trump na Calçada da Fama, em Los Angeles

    Apesar de pensar no amanhã, é seu passado que o condena. Gravações antigas e pessoas com quem conviveu há décadas são desenterrados pela mídia e pela campanha da rival.

    Na terça, Hillary resgatou a história de uma enfermeira que tentou alugar um apartamento num condomínio erguido pelo pai do candidato, Fred Trump, no Queens, em 1963. Mae Brown parecia a inquilina dos sonhos: comprovou renda e sequer quis olhar a unidade. Por ela, negócio fechado. Mas não para o dono do prédio.

    Negra, Mae, hoje com 86 anos, diz ter sido discriminada "por causa da cor da minha pele", em vídeo divulgado pela equipe democrata.

    No mesmo dia, a MSNBC entrevistou Stanley Leibowitz, 89, agente imobiliário a serviço do pai de Trump (morto em 1999). Para ele, não há dúvida de que Mae foi rejeitada por ser negra —e que o hoje candidato à Casa Branca, então com 17 anos, sabia disso.

    "O sr. Trump e seu filho Donald vieram ao meu escritório. Perguntei o que deveria fazer com aquele pedido [de Mae], porque ela ligava constantemente, e a resposta [de Fred] foi: 'Você sabe que não alugo para aquela palavra com 'n' [nigger, forma pejorativa em inglês para se referir a negros]. Ponha numa gaveta e esqueça."

    A campanha republicana afirmou que "as alegações não têm nenhum mérito". No primeiro debate presidencial, em setembro, Trump admitiu que a empresa da família foi processada por discriminação e disse que o caso foi encerrado com acordos. "Foi muito fácil."

    "Para famílias negras tentando achar uma casa, não foi nada fácil", diz o locutor do comercial pró-Hillary.

    Mais ecos do passado: o "New York Times" teve acesso a horas de áudios de entrevistas que Trump e familiares deram a seu biógrafo Michael D'Antonio, em 2014.

    Embora o empresário defina o material como "bem antigo e tedioso", há ali traços da personalidade do homem "sem herói algum" ("a maioria das pessoas não é digna de respeito") e pavor da derrota ("nunca fracassei").

    Sua ex-mulher Ivana contou que, logo após engatarem namoro, ele a chamou para esquiar sem saber que ela era craque no esporte. "Ele disse: 'Vamos lá, baby'. Eu fui. Dei piruetas no ar e desapareci [na pista]. Donald estava tão zangado... Tirou as botas e foi para o restaurante. Não aguentou, não aguentou."

    Sua candidatura já havia sangrado com a divulgação de vídeo de 2005, em que Trump se diz à vontade para "pegar [mulheres] pela xoxota". Em seguida, 11 mulheres o acusaram de assédio. Promete processar todas.

    Os detratores de Trump deixaram sua marca contra o candidato também nesta quarta, em Los Angeles, onde a estrela com o nome do bilionário na Calçada da Fama foi vandalizada, aparentemente a golpes de martelo. A polícia investiga o caso.

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