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    E-mails vazados expõem frustrações e dedicação de Chelsea, filha dos Clinton

    AMY CHOZICK
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    28/10/2016 12h00

    Chelsea Clinton estava alarmada.

    Durante viagem que fez a Londres em 2011 representando a fundação de sua família, ela ficou sabendo que pessoas próximas a seu pai, Bill Clinton, vinham fazendo lobby junto a membros do Parlamento britânico em favor de seus próprios clientes de consultoria, dizendo aos políticos que estavam agindo "em nome do presidente Clinton".

    Algumas pessoas que Chelsea encontrou cochicharam que a prática os lembrava das criticadas atividades com fins lucrativos empreendidas pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair depois de deixar o governo. Chelsea disse que a comparação chocaria seu pai, que não fazia ideia de que seu nome estava sendo usado.

    Foi um momento revelador para ela, filha única do mais famoso casal de políticos poderosos dos Estados Unidos, alguém que estava fazendo seu próprio nome como defensora do legado de seu pai e, por extensão, da segunda campanha presidencial de sua mãe, que ainda estava por vir.

    Seus comentários acerca dos assessores de seu pai foram revelados nos milhares de e-mails aos quais hackers tiveram acesso e que foram divulgados pelo WikiLeaks nos últimos 30 dias. Além de revelar as considerações estratégicas internas, as disputas e os comentários extemporâneos feitos dentro do círculo interno de Hillary Clinton, os e-mails pintam um retrato inesperadamente detalhado da filha do casal, alguém que se resguarda e defende sua privacidade, enquanto trabalhava com o objetivo, como explicou em um e-mail, de "proteger meu pai e o status sem fins lucrativos da fundação".

    Enquanto Chelsea Clinton se afirmava na Fundação Clinton, ansiosa para abraçar seu papel de membro do conselho de direção e herdeira "de facto", ela se preocupou com o que lhe pareceu ser uma falta de profissionalismo, além de uma falta de separação nítida entre as atividades filantrópicas da fundação e os interesses comerciais de alguns de seus líderes.

    "Meus únicos objetivos eram fazer um inventário, profissionalizar a fundação, fortalecê-la para o futuro e moldá-la de maneira que apoiasse o trabalho dele e de minha mãe", escreveu Chelsea em e-mail aos assessores mais próximos de seus pais, em novembro de 2011, mais ou menos na mesma época em que ela convocou advogados externos para examinar as práticas da fundação.

    Embora seu papel de "arrumar a casa" tivesse o apoio tácito de Hillary Clinton ("minha mãe concordou inteiramente", disse Chelsea em um e-mail em que descreveu mudanças propostas na fundação), exercê-lo mostrou não ser tão simples. Seus esforços desencadearam uma enxurrada de queixas, fofocas e disputas internas, na medida em que sua ascendência diminuiu o papel dos assessores de longa data que Bill Clinton frequentemente descrevia como seus "enteados".

    Chelsea começou a se preocupar com a mistura de negócios da fundação com a Teneo, consultoria corporativa co-fundada por Douglas J. Band, um dos assessores mais próximos de Bill Clinton. Ela sugeriu que fosse feita uma auditoria na fundação e escreveu que temia que os líderes da Teneo estivessem tentando promover negócios próprios em reuniões da fundação.

    Em resposta, Douglas Band redigiu um memorando de 13 páginas descrevendo como levantou muitos milhões de dólares para a fundação junto aos clientes corporativos da Teneo, incluindo a Coca-Cola e a Dow Chemical, sem receber honorários por isso. No memorando, que o WikiLeaks divulgou esta semana, Band descreveu como obteve milhões de dólares em renda para Bill Clinton, sob a forma de discursos e trabalhos de consultoria lucrativos, alguns para doadores da fundação.

    "Solicitamos e obtivemos, de era adequado, serviços prestados ao presidente e sua família —em viagens pessoais, hospitalidade, férias e semelhantes", escreveu Band.

    O subentendido era evidente: onde Chelsea Clinton enxergava uma sobreposição confusa entre negócios e filantropia, algo que poderia vir a prejudicar seu pai e sua mãe, Douglas Band enxergava uma filha ingrata que era ingênua em relação ao modo como o que ele chamava de "Bill Clinton Inc." ganhava seu dinheiro e como era financiado seu próprio estilo de vida caro.

    "Só acho que nada disso está certo e que não deveríamos ser tratados assim quando ninguém mais o é, só porque CVC não tem nada de melhor a fazer e precisa justificar sua existência", ele escreveu em um e-mail, usando as iniciais de Chelsea Victoria Clinton.

    Band, que já tinha pensado em deixar a Fundação Clinton para trabalhar exclusivamente com a Teneo, frequentemente expressou frustração com o nepotismo da fundação assistencial global, apontando para o fato de Chelsea Clinton ter instalado amigos seus em cargos centrais.

    Bill Clinton, que não usa e-mail, está quase ausente das batalhas travadas abaixo dele, sendo mencionado apenas de passagem como "Papai" ou por suas iniciais, "WJC".

    Em outro e-mail, Chelsea Clinton alude aos sentimentos de seu pai em relação às tensões em sua fundação. "Parece que Doug ficava falando ao meu pai que eu estava tentando derrubá-lo, tomar conta da fundação, e Papai ficava perguntando: 'Ela lhe disse isso? Disse isso a alguém? Ela nunca disse isso para mim'", ela escreveu. Band declarou que a conversa descrita por Chelsea Clinton nunca aconteceu.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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