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    Após vácuo de poder, Rajoy é reeleito na Espanha, mas não terá maioria

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    29/10/2016 16h48

    O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy foi reeleito neste sábado (29) em votação do Congresso, encerrando uma paralisia política de mais de dez meses.

    Seu mandato pode se iniciar já no domingo (30) com um juramento ao rei Felipe.

    Javier Soriano/AFP
    Spanish acting Prime Minister, Mariano Rajoy (bottom R) shouts his vote during the parliamentary investiture vote for a prime minister, at the Spanish Congress (Las Cortes) on October 29, 2016, in Madrid Spain turns the page on a 10-month political crisis today as lawmakers ready to vote the conservatives back in power, although at the head of a government with unprecedented opposition. / AFP PHOTO / JAVIER SORIANO
    O primeiro-ministro Mariano Rajoy durante a sessão deste sábado (29) no Parlamento

    A candidatura de Rajoy, do conservador PP (Partido Popular), teve 170 votos a favor, 111 contra e 68 abstenções. Sem ter a maioria dentro do Congresso, formado por 350 deputados, o premiê terá um complicado mandato a cumprir.

    Esse será o governo com o menor apoio parlamentar desde 1978, dificultando as decisões que precisa tomar, depois de meses de funções limitadas. Por exemplo, aprovar o orçamento de 2017 ou os cortes de gastos exigidos pela União Europeia.

    Houve eleições na Espanha em dezembro de 2015 e em junho, mas nenhum partido conseguiu somar o número necessário de deputados para governar. Essa crise foi causada pelo surgimento de novas forças políticas, que pulverizaram os votos.

    O impasse foi resolvido apenas porque o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) decidiu, em um gesto controverso, abster-se do voto no Congresso, abrindo assim o caminho para o PP.

    O PSOE precisou remover seu secretário-geral, Pedro Sánchez, para conseguir aprovar a abstenção de seus deputados no sábado. Sánchez, que insistia em bloquear o governo de Rajoy, renunciou durante o dia ao seu cargo no Congresso.

    PACTOS

    Apesar da formação de um novo governo, "a incerteza política vai continuar", segundo Marta Romero, analista do think tank Fundação Alternativas "Será muito difícil que o governo chegue ao fim", afirma à Folha. O mandato ali dura quatro anos.

    Os mais de dez meses de impasse demonstraram, afinal, que os partidos espanhóis não têm sido capazes de entrar em acordo. Mesmo o Cidadãos (centro-direita), que votou a favor de Rajoy no Congresso, não necessariamente precisa apoiá-lo.

    Um porta-voz do PSOE afirmou, durante o debate de sábado, que irá vigiar cada passo do PP, e lembrou o rival de que ele não tem hoje a maioria dos deputados.

    "Mas Rajoy pode usar a ameaça de eleições antecipadas a seu favor", afirma Romero. "Um novo pleito não iria favorecer a ninguém."

    O PP cresceu entre a primeira e a segunda tentativa de eleições, e analistas preveem que também ganharia mais espaço se houvesse uma terceira rodada, em dezembro. O PSOE, por sua vez, registrou os dois piores resultados de sua história.

    Rajoy tem também outros dois trunfos: a maioria absoluta no Senado, e a possibilidade de seduzir os movimentos nacionalistas para que apoiem suas medidas.

    OPOSIÇÃO

    A disputa não será apenas para governar. O PSOE e o Podemos (partido de esquerda) vão disputar a liderança da oposição no Congresso.

    Os socialistas têm a vantagem numérica, com mais assentos (85 contra 71). Mas será difícil ao PSOE convencer o público de que é um partido de oposição, após ter permitido o governo do PP.

    "O PSOE será enxergado como responsável pelas políticas do PP", diz Pablo Simon, do conglomerado de analistas Politikon. "O Podemos tomou esta bandeira."

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