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    Por que acontecem tantos terremotos na Itália?

    DA BBC BRASIL

    30/10/2016 15h00

    Um novo terremoto, desta vez de magnitude 6,6 na escala Richter, abalou a cidade de Nórcia, na região central da Itália, neste domingo (30). Por enquanto não há registros de mortes, mas diversos locais ficaram destruídos.

    O abalo vem apenas dois meses depois de outro bem mais devastador que matou pelo menos 300 pessoas e deixou centenas de desabrigados na mesma região –afetando principalmente a cidade de Amatrice.

    Na semana passada, o país registrou outros tremores, mas sem maiores consequências. Mas por que tantos terremotos acontecem em solo italiano?

    Em 1908, estima-se que ao menos 70 mil pessoas morreram quando um tremor de magnitude 7,2 atingiu a cidade siciliana de Messina, onde um tsunami, também associado ao abalo, deixou a região em uma situação desesperadora. Em 1915, houve outro, em Avezzano, que deixou pelo menos 30 mil mortos e uma cidade arrasada. Dali em diante, foram muitos abalos sísmicos que fizeram a história do país.

    Especialistas acreditam que os terremotos influenciaram tudo na Itália, desde a distribuição da população, adaptação da arquitetura até o dialeto falado em diferentes partes do país. E trata-se se uma influência muito bem documentada.

    Cada vez que um terremoto destrói uma igreja, os moradores insistem em reformá-la ou reconstruí-la e isso acaba sempre registrado em livros –que se mostraram uma rica fonte de informações para os cientistas que tentam entender a história sísmica da Itália.

    HISTÓRICO DE TERREMOTOS

    Em grande escala, os problemas sísmicos que abalam o país podem ser analisados no contexto de uma grande colisão das placas tectônicas africana e euroasiática na região. Mas quando observamos a situação da Itália em detalhe, vemos que o motivo de haver tantos terremotos ali é um pouco mais complexo.

    A placa da África tem se movimentado todos os anos cerca de 2 cm para o norte. Sendo assim, a Itália tem experimentado movimentos complexos no maior estilo "cabo de guerra". O mar de Tirreno, que se encontra a oeste do país, entre o continente e Sardenha/Córcega, está abrindo pouco a pouco.

    Segundo os especialistas, isso está contribuindo para uma separação dos Montes Apeninos, a cordilheira que se estende por todo o país –ela estaria se movendo cerca de 3 mm por ano.

    Adicione-se a isso os movimentos no Adriático, onde há evidências de que a crosta da terra continua se movendo em um sentido anti-horário sob a Itália. Ou seja, o país está sendo literalmente empurrado e puxado por todos os lados.

    "Os Apeninos também são muito altos, a crosta é muito espessa lá e há um processo de colapso gravitacional", disse Richard Walters da Universidade de Durham, no Reino Unido. "Então, há uma disseminação da cordilheira dos Apeninos, que também leva à extensão –o tal movimento do cabo-de-guerra– e, portanto, aos terremotos".

    Esses não são tremores colossais como os que costumamos ver em encontros de placas tectônicas –que normalmente produzem abalos de 8 ou 9 pontos na escala Richter. Mas conforme a história mostra, os tremores na região dos Apeninos sempre deixarão seu "rastro" de miséria.

    "Os efeitos são devastadores aqui, porque os terremotos acontecem na superfície da crosta. E isso é devido à natureza das falhas", explicou Laura Gregory, que trabalha na região e é da Universidade de Leeds, no Reino Unido. "Elas são falhas relativamente pequenas porque são na superfície, então os tremores são dramáticos loco em cima, onde os terremotos acontecem."

    PREVISÕES

    A Itália é um país moderno que está muito bem preparado hoje em dia para lidar com os terremotos. Alguns computadores são usados hoje em dia para prever o número de mortes que terremotos podem deixar –e o de feridos também. Eles se baseiam em informações sobre a densidade demográfica e em outros códigos de construção locais.

    As previsões são usadas para guiar os serviços de emergência e para prepará-los antes dos tremores acontecerem. Se esses números da previsão serão os mesmos da realidade vai depender da qualidade das construções onde as pessoas estão dormindo –muitos tremores acontecem na madrugada ou logo cedo, como o deste domingo.

    Os edifícios mais antigos correm mais riscos, especialmente aqueles que não passaram por reformas para ficarem mais "resistentes".

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