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    Voto antecipado em Estados-pêndulo favorece Hillary Clinton

    JEREMY W. PETERS
    MATT FLEGENHEIMER
    DO "NEW YORK TIMES"

    31/10/2016 12h43

    Hillary Clinton estabeleceu ligeira vantagem sobre Donald Trump na votação antecipada em diversos Estados indecisos altamente importantes, aproveitando as vantagens tradicionais de seu partido em termos de organização estadual e possivelmente mitigando as consequências adversas do mais recente confronto entre sua campanha e o Serviço Federal de Investigações (FBI).

    Enquanto os democratas continuavam oscilando com a retomada das questões sobre o uso de um servidor privado de e-mail por Hillary em seu período como secretária de Estado –um choque produzido 11 dias antes da eleição como efeito de uma abstrusa carta do diretor do FBI, James Comey–, as estatísticas sobre o comparecimento antecipado às urnas e entrevistas com dezenas de eleitores que optaram por votar mais cedo sugerem que até mesmo uma tradicional "surpresa [eleitoral] de outubro" pode ter menos força do que costumava ser o caso no passado.

    Joe Raedle-24.out.2016/Getty Images/AFP
    Eleitores aguardam para votar antecipadamente em Bradenton, na Flórida
    Eleitores aguardam para votar antecipadamente em Bradenton, na Flórida

    Em uma disputa entre dois candidatos muito polarizadores, as opiniões da maioria dos eleitores parecem ter sido cimentadas semanas, se não meses, antes das eleições. E a disputa já começou, em alguns dos campos de batalha mais importantes.

    Pelo menos 21 milhões de pessoas já votaram, em todo o país. Nos Estados que têm maior probabilidade de decidir a eleição –entre os quais Flórida, Colorado e Nevada– cerca de um quarto dos eleitores já votaram.

    Embora seus votos só devam ser apurados no dia da eleição, os eleitores registrados como democratas demonstram presença superior à dos republicanos em diversas faixas etárias e áreas urbanas nessas áreas e na Carolina do Norte, onde a votação em massa começou na semana passada. O Estado emergiu como um dos campos de batalha mais ferozmente disputados na luta pela Casa Branca e por uma vaga no Senado.

    Agora, a questão saliente parece ser se uma reviravolta inesperada da trama nos dias finais antes da eleição pode mudar o resultado de um pleito que, para milhões de eleitores, já aconteceu.

    Ainda que os democratas possam se reconfortar com o conhecimento de que sua grande vantagem organizacional lhes ofereceu uma margem de segurança em um momento no qual realmente podem precisar dela, a disputa ainda está muito acirrada. E a mais recente erupção do caso do servidor de e-mail ainda ameaça voltar muitos eleitores contra Hillary –e coloca na defensiva os candidatos democratas a outros postos–, depois de um período no qual Trump e os demais candidatos republicanos pareciam estar fora da disputa.

    "Não podemos nos deixar distrair por todo o ruído no ambiente político", disse Hillary a eleitores domingo (30) em Fort Lauderdale, Flórida, lembrando a eles que três milhões de cidadãos do Estado já haviam votado. "Temos de manter o foco".

    Embora os números quanto á votação antecipada pareçam fortemente favoráveis a Hillary, surgiram sinais de fraqueza no final de semana, especialmente entre os eleitores negros da Carolina do Norte, onde o comparecimento às urnas até a noite de sábado indicava que até o momento eles não estão votando em números comparáveis aos de 2012.

    Tanto entre os partidários quanto entre os adversários de Hillary, os números iniciais sugerem que o recente entrevero não mudou muitas opiniões, apesar de ter se tornado o assunto dominante na campanha. Em entrevistas com mais de três dúzias de eleitores em três Estados que abrem a votação com antecedência –Colorado, Flórida e Carolina do Norte–, a maioria deles tinha pelo menos alguma familiaridade com o caso do servidor de e-mail, mas os entrevistados disseram que a notícia não havia influenciado sua decisão sobre como votar.

    "Essa história dos e-mails já cansou", disse Marialuisa Glait, 33, de Miami, que votou em Hillary e levava o filho de dois anos no colo.

    Fernando Gonzalez, 26, outro eleitor que votou com antecedência em Miami e optou por Hillary, disse que essa campanha eleitoral sempre repleta de momentos implausíveis o havia tornado menos capaz de se sentir chocado.

    "A surpresa de outubro já não quer dizer muita coisa", ele disse. "O nível caiu tanto que não há como cair mais".

    Por conta da grande vantagem que têm nos votos enviados pelo correio, os eleitores registrados como republicanos na Flórida apresentavam modesta vantagem sobre os democratas nos votos já depositados –menos de 1%. Mas essa vantagem começou a cair quando as urnas foram abertas para votos pessoais, e é menor que a vantagem que os republicanos tinham no Estado a este momento da campanha de 2012. O avanço democrata se deve em larga medida ao grande comparecimento de eleitores hispânicos, que costumavam esperar até mais tarde para votar.

    "O comparecimento dos hispânicos está acima da média", disse Daniel Smith, professor de ciência política na Universidade da Flórida que vem analisando os dados demográficos sobre os eleitores que votam antecipadamente que o Estado tem a obrigação de coletar. "Eles estão mais engajados nesse ciclo eleitoral, e número maior deles está votando com antecedência, ante aquilo que vimos em 2012".

    Na Carolina do Norte, os democratas têm grande vantagem em termos de número de votos antecipados, com 43% ante 31% para os republicanos. Mas porque o Estado encurtou fortemente o prazo de votação antecipada, os democratas estão abaixo de seu comparecimento em 2012, e os republicanos estão acima. À medida que mais urnas são abertas a votação, os democratas estão se aproximando dos percentuais registrados em 2012.

    "Eles estão reduzindo cada vez mais aquele deficit", disse J. Michael Bitzer, professor de ciência política no Catawba College.

    Bitzer disse que há outros sinais de alerta para Trump: mulheres respondem por 56% dos votos antecipados na Carolina do Norte, e os eleitores rurais estão ligeiramente abaixo de seu índice de comparecimento de 2012.

    A questão persistente para Hillary é determinar se os democratas conseguirão estimular o comparecimento dos eleitores negros às urnas, que registra queda de 17%, de acordo com Bitzer. "Essa é a maior preocupação para ela", disse o professor.

    Os democratas também estão derrotando os republicanos no Colorado e no Nevada, Estados nos quais Trump realizou comícios no final de semana, continuando a questionar a integridade do processo eleitoral, enquanto implorava aos eleitores que votassem.

    "Vocês acham que esses votos são contados devidamente? Vocês acreditam nisso?", disse Trump domingo em Greeley, Colorado. Dos votos antecipados recebidos no Colorado, 39% vieram de eleitores registrados como democratas e 35% de republicanos. Os democratas superaram a antiga vantagem em número de eleitores registrados que os republicanos detinham no Estado, este ano, o que representa um sinal preocupante para Trump e seu partido.

    Em Nevada, onde Trump fez campanha domingo, os democratas estavam votando em números superiores aos dos republicanos por sete pontos percentuais. Um dado crucial é que no condado de Washoe, que inclui a cidade de Reno e é considerado como indicador confiável sobre as tendências eleitorais do Estado, até a noite de sábado mais democratas haviam votado.

    Hillary e seus aliados estão direcionando suas visitas de campanha quase exclusivamente aos Estados que votam cedo. No sábado, a candidata fez um comício com show de Jennifer Lopez em Miami. O ex-presidente Bill Clinton visitou a Carolina do Norte no domingo, e Hillary faria campanha no Ohio segunda-feira. O objetivo, dizem assessores de sua campanha, é criar uma vantagem que Trump não seja capaz de superar mesmo que ele obtenha maioria nos votos depositados no dia da eleição.

    Em contraste, os esforços mínimos de organização do eleitorado da campanha de Trump deixaram a tarefa aos cuidados do Comitê Nacional Republicano. Os dirigentes da organização expressaram confiança, ainda que seu papel tenha sido bem maior do que aquele a que estão acostumados.

    "Estamos vendo alguns indicadores muito positivos", disse Chris Carr, o diretor político do comitê. "Diria que estamos correndo em paridade ou um pouco à frente da campanha de Hillary".

    As duas campanhas estão envolvidas em uma intensa busca daqueles entre seus partidários que demonstram a menor probabilidade de ir às urnas –eleitores que podem ser a chave para a vitória. Se essas pessoas comparecerem, a votação antecipada elevará os totais de Hillary e Trump. De outra forma, o efeito da votação antecipada será relativamente insignificante: as mesmas pessoas teriam votado de qualquer forma, apenas em outro momento.

    Assessores de Hillary disseram ter criado um modelo de previsão para os Estados indecisos que classifica os eleitores em uma escala de 1 a 100 com base em fatores como a probabilidade de que votem e sua suscetibilidade a propaganda. Até o momento, entre os eleitores que a campanha de Hillary veem como menos propensos a comparecer –pessoas que não votaram em eleições não presidenciais–, o número de votantes entre os democratas é muito mais alto que entre os republicanos, tanto na Carolina do Norte e Nevada quanto, em números ligeiramente maiores, no Arizona.

    A revelação do FBI na sexta-feira, em lugar de mudar opiniões, parece ter confirmado os sentimentos das pessoas que estavam votando antecipadamente.

    "Se eu fosse democrata, certamente estaria questionando meu voto", disse Steve Flynn, 65, trabalhador da construção civil que vive no subúrbio de Denver e votou em Trump.
    Mas sua nora Whitney Dorman disse que ela e o marido provavelmente ainda votariam em Hillary.

    "Não me incomodo com isso", declarou a designer gráfica Dorman, 31. "Ela está recebendo propinas de alguém? Está bem, por que não?"

    T. J. Blazer, 44, que disse ter votado em Trump em St. Petersburg, Flórida, disse que ficou chocado com o que entende ter sido uma admissão pelo FBI de que conduziu inapropriadamente o caso contra Hillary.

    Igualmente desconcertante, disse ele, foi o retorno de Anthony Weiner ao seu televisor –um fato que parece ter confirmado tudo de estranho que já aconteceu nesta eleição.

    "Quando olhei de novo, lá estava a foto dele", disse Blazer. De onde ele apareceu?

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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