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    'Mulher independente e imigrante', Melania Trump ataca bullying virtual

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    03/11/2016 18h30 - Atualizado às 19h57

    Mary Altaffer-01.fev.2016/Associated Press
    FILE - In this Feb. 1, 2016 file photo, Republican presidential candidate Donald Trump, accompanied by his wife Melania Trump, speaks during a campaign event in Cedar Rapids, Iowa. Ted Cruz accused Trump of stoking false rumors about his personal life on Friday, March 25, 2016, charging that the billionaire businessman and GOP front-runner is trafficking in "sleaze" and "slime." (AP Photo/Mary Altaffer, File) ORG XMIT: WX103
    Donald Trump, candidato republicano, com sua mulher, Melania Trump em Iowa

    A cinco dias do pleito que decidirá o próximo presidente dos EUA, a mulher do republicano Donald Trump apareceu.

    "Se tiver o privilégio de ser sua primeira-dama", ela disse que lutará contra o bullying virtual. "Nunca é legal quando uma garota ou um garoto de 12 anos é zoado, sofre bullying ou é atacado", afirmou a mulher do homem que, pelo Twitter, já atacou desavenças como a ex-miss Alicia Machado ("vigarista" e "nojenta").

    Vencedora do Miss Universo 1996, a venezuelana disse que Trump, então dono do concurso, a chamara de "Miss Porca" e "Miss Faxineira" (por causa da sua origem latina). Como troco, foi acusada pelo bilionário de estrelar uma sex-tape (que nunca foi provada).

    A ironia virou motivo de piada na internet, que também pegou no pé de Melania por supostamente plagiar alguém de novo, e desta vez a segunda mulher de Trump, a atriz Marla Maples.

    A nova acusação é frágil: alguém descobriu que, em entrevista de 2011, Marla falou uma frase genérica que Melania usou agora, para se referir à América, onde "se você sonhar, pode se tornar algo".

    Em sua primeira aparição solo na campanha eleitoral, nesta quinta-feira (3), Melania, uma ex-modelo eslovena, apresentou-se "tanto como uma mulher independente quanto como alguém que imigrou para a América".

    Não por acaso, o voto feminino é um ponto fraco de Trump —em outubro, ele estava 15 pontos atrás da rival democrata, Hillary Clinton, na média das pesquisas com esse grupo.

    E ter uma mulher estrangeira, que virou cidadã "depois de um processo de dez anos, que incluiu muitos vistos e um green card", neutralizaria a fama de xenófobo que Trump adquiriu, sobretudo por sua retórica agressiva contra imigrantes muçulmanos e hispânicos.

    O local também foi estrategicamente pensado: Melania discursou no subúrbio na Filadélfia (Pensilvânia). De lá vieram outras "esposas troféus", como a atriz e depois princesa Grace Kelly e a ficcional Betty Draper, casada com o protagonista de "Mad Men".

    Trump acha que pode ganhar o Estado, onde Hillary está 3,8 pontos à frente na média das pesquisas, numa vantagem que se estreitou nos últimos dias. Precisará cativar eleitoras para tanto.

    "A Filadélfia é uma área cosmopolita o bastante para ter uma SoulCycle [rede careira de academias], onde Mercedes S.U.V. param na entrada das escolas. Não é difícil imaginar as suburbanas da Filadélfia encantadas com o glamour de Melania", escreve Emily Jane Fox, repórter da "Vanity Fair" e uma local.

    "Ele certamente sabe como agitar as coisas, não?", disse Melania a certa altura. Treinada por Kellyanne Conway, diretora da campanha republicana, ela é a aposta dos republicanos para servir de contraponto à volatilidade do marido.

    É o lado mais doce da família Trump: a garota de dez anos que, num país então sob jugo da União Soviética, "aprendeu que um homem chamado Ronald Reagan virou presidente dos Estados Unidos" —o mandatário que foi ator de Hollywood é uma inspiração para Trump, ex-apresentador de TV que se introduz como outro "outsider" em Washington.

    Melania disse que, se o marido for eleito, trabalharia pelo bem de mulheres e crianças, num discurso que espelha o da primeira-dama do Brasil, Marcela Temer, e tantas outras mulheres de presidente que abraçam programas sociais.

    A "mãe em tempo integral" de Baron, 10, caçula dos cinco filhos de Trump, focou no bullying contra crianças e adolescentes, numa cultura que "ficou muito malvada e dura, especialmente com eles".

    "Como sabemos, agora as redes sociais são centrais em nossas vidas. Pode ser uma ferramenta útil. [...] Mas, como tudo que é poderoso, também tem um lado ruim", disse.

    DISCURSO

    As participações de Melania na campanha foram até aqui pontuais e nem sempre bem-sucedidas.

    Ela foi elogiada por seu primeiro grande discurso, na convenção republicana, em julho. A alegria durou horas. Logo veio à tona que sua fala tinha trechos idênticos à que a primeira-dama Michelle Obama apresentou em 2008, na reunião que confirmou a nomeação do marido como presidenciável democrata.

    "Desde pequena, meus pais me incutiram valores: que você trabalha duro pelo que quer na vida; que sua palavra é seu compromisso, você faz o que diz e cumpre sua promessa; que você trata as pessoas com respeito", disse Melania em 2016.

    "Você trabalha duro pelo que quer na vida; sua palavra é seu compromisso e você faz o que diz que irá fazer; você trata as pessoas com dignidade e respeito, mesmo se não as conhece e mesmo que discorde delas", disse Michelle oito anos antes.

    Em outubro, Trump fez piada com o episódio, num tradicional jantar de caridade em que os candidatos à Casa Branca brincam com seus tropeços eleitorais.

    Para provar que a mídia é tendenciosa contra ele, uma das frases mais populares em seus comícios, ele disse que Michelle foi glorificada oito anos atrás, e sua mulher é agora atacada "pelo mesmíssimo discurso". Na plateia, Melania riu.

    Por falar em bullying virtual: em março, Trump divulgou no Twitter uma montagem comparando sua mulher com a do então maior adversário nas prévias republicanas, Ted Cruz.

    A executiva Heidi Cruz, num ângulo que a desfavorecia. Melania fazia o "carão" dos tempos de modelo. A legenda: "Uma imagem vale mais do que mil palavras".

    O empresário se vingava, assim, de um nu de sua mulher que vazou na internet às vésperas da votação em Utah, Estado com quase 60% da população mórmon. Era a capa de uma revista de 2000 em que Melania estava de bruços sobre um tapete de pele de urso.

    Até a roupa da aspirante a primeira-dama rendeu manchete. No segundo debate presidencial, ela foi com um decote conhecido em inglês como "pussy bow" (uma gola alta com laço).

    Dias antes, estava por toda a rede nacional um vídeo de 2005 em que o marido se gabava de ser "uma estrela" e ter passe-livre para pegar mulheres pela "pussy", palavra pejorativa para vagina.

    Na mesma época, deu uma entrevista à CNN em que disse confiar em Trump e que o áudio vazado nada mais era do que "conversa de garotos". Também reclamou de mulheres que flertavam com Donald na sua frente, "mesmo sabendo que ele era casado".

    Com ela, Trump se casou pela terceira vez, numa cerimônia em sua mansão na Flórida. Hillary e Bill Clinton, na época amigos do casal, estavam na primeira fila.

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