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    Zizek diz preferir Trump a Hillary, 'o real perigo'

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    05/11/2016 19h33

    O filósofo esloveno Slavoj Zizek, um dos ícones da chamada nova esquerda, prefere Donald Trump a Hillary Clinton.

    O republicano pode até o "horrorizar", mas seria um mal menor, afirmou o autor de livros como "O Absoluto Frágil" e "Alguém Disse Totalitarismo?".

    A Casa Branca sob guarda de Trump poderia significar "um grande despertar" e dar combustível para um "novo processo político", disse ao canal britânico Channel4, em entrevista exibida na quinta (3).

    Ele entrou no assunto após ser questionado sobre em que votaria, o republicano ou a democrata, caso fosse cidadão americano. "Trump", responde na lata.

    "Hillary é o perigo real", emenda.

    Afirmou concordar com um tuíte em que Trump critica Bernie Sanders por respaldar Hillary, sua ex-rival nas prévias democratas. "Seria como alguém de Occupy Wall Street apoiando [o banco] Goldman Sachs", escreveu o bilionário em julho.

    Para Zizek, Hillary é mais do mesmo e tem laços suspeitos com Wall Street. Seria sinônimo de uma "inércia absoluta" no sistema político.

    Em junho, o filósofo já havia relativizado a imagem de que o empresário é um bicho-papão da extrema-direita, em entrevista ao canal Euronews.

    "Donald Trump. O fenômeno Donald Trump. Então os EUA estão diante de um tipo de período revolucionário?", provocou o entrevistador.

    "Claro que, pessoalmente, Trump é nojento, com piadas racistas ruins, vulgaridades e por aí vai. Mas, ao mesmo tempo, percebeu como ele disse coisas muito corretas sobre Palestina e Israel?", responde o filósofo.

    "Ele disse que também deveríamos ver os interesses da Palestina e abordar a situação de uma forma mais neutra. Ele disse que não deveríamos simplesmente antagonizar com a Rússia, achar um diálogo. Ele até foi a favor de maiores salários mínimos. E sugeriu que não iria simplesmente cancelar o sistema público de saúde de Obama, o Obamacare..."

    Trump, contudo, já mudou de posição várias vezes. Hoje, afirma que um de seus primeiros atos na Casa Branca seria cancelar o Obamacare.

    Sobre o teto federal para o salário mínimo, US$ 7,50 a hora: em julho, defendeu aumentá-lo "para pelo menos US$ 10", mas também já disse, em 2015, "que ter um piso baixo não é algo ruim para este país" e que "os salários são muito altos" nos EUA.

    Questionado se Trump seria "um centrista liberal", Zizek concorda: "Sim! Esta é minha tese provocadora. Que, se você retirar esta superfície ridícula e, admito, perigosa, ele é muito mais um candidato oportunista, e suas políticas na verdade não são de todo mal".

    O filósofo também assina ensaios que põem em xeque discursos óbvios, como o de que o brexit (plebiscito que votou para que o Reino Unido saia da Europa) é fruto apenas da ideologia direitista.

    Em "Precisamos Entender a Esquerda que Apoiou o Brexit", ele começa assim: "Quando perguntaram ao camarada Stalin no final dos anos 1920 o que ele achava pior, a direita ou a esquerda, ele imediatamente rebateu: 'Os dois são piores!' E essa é minha primeira reação ao brexit. A Europa está presa agora em um círculo vicioso, oscilando entre dois falsos opostos: de um lado, a rendição ao capitalismo global, e de outro, a sujeição a um populismo anti-imigração. É preciso colocar a pergunta: qual é o tipo de política capaz de nos tirar desse impasse?".

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