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    Bom desempenho da economia e sandinismo são trunfos de Ortega

    DE SÃO PAULO

    06/11/2016 02h00

    Apesar de ser um dos países mais pobres da América Latina, a Nicarágua se beneficiou do "boom das commodities" e manteve, nos últimos dez anos, uma taxa de crescimento de 4% de seu Produto Interno Bruto.

    Graças também a uma volumosa ajuda do governo venezuelano, com Hugo Chávez (1954-2013) e depois com Nicolás Maduro, o país pôde implementar programas sociais de forma extensiva e reduzir a pobreza de 43%, em 2009, para 30%, em 2014.

    O chavismo via a Nicarágua como um aliado estratégico na região.

    SANDINISMO

    "Além da redução da pobreza, Ortega ainda se apoia muito no discurso vitorioso da Revolução Sandinista, usa a nostalgia que muitos nicaraguenses têm daquele tempo, em que se derrubou uma ditadura familiar", diz à Folha o jornalista Carlos Fernando Chamorro, filho da ex-presidente Violeta Chamorro (1990-1997), que sucedeu Daniel Ortega.

    "Mas esse sandinismo que inspirou tantos movimentos de esquerda pela América Latina já não existe mais, transformou-se num regime de economia liberal, com forte apoio do Exército e marcado pelo avanço contra as instituições, a Justiça e a imprensa. Além de ser um regime moralista, pois está contra aprovar legislações sobre direitos civis como aborto, casamento gay e acolhimento de refugiados", avalia Chamorro.

    Os Chamorro são outra tradicional família influente nicaraguense que apoiou a Revolução Sandinista no princípio, mas depois passou a fazer oposição a Ortega.

    "Aquele ideal sandinista que derrubou Somoza não existe mais", conclui Chamorro, que chegou a editar o jornal governista da primeira gestão de Ortega, nos anos 1980, e hoje dirige o "El Confidencial", que faz oposição ao mesmo mandatário.

    Entre outros ex-aliados famosos estão intelectuais como o escritor Sérgio Ramírez, que chegou a ser vice de Ortega, mas depois se transformou num dissidente e formou o MRS (Movimento de Renovação Sandinista).

    "Ortega repete várias vezes a ideia de que acredita no sistema de partido único, por isso com o tempo foi perdendo os aliados que queriam que a Nicarágua fosse uma democracia normal", disse Ramírez à Folha.

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