"Trump é nossa melhor opção porque não se trata mais do establishment republicano versus o democrata, cada vez mais parecidos e cheios de lobistas. Ele é a soma da crescente frustração com a política tradicional, do Occupy Wall Street ao Tea Party. Só ele para estourar a bolha de Washington. Por isso, até figurões republicanos o desprezam."

Essa defesa do polêmico candidato não é feita pelo típico eleitor dele –segundo as pesquisas, principalmente homens brancos sem diploma superior, morando no interiorzão do país. Residente em Los Angeles, o ex-diplomata Richard Grenell, 50, foi por sete anos o porta-voz do governo Bush na ONU, tem mestrado por Harvard, já lecionou na Universidade do Sul da Califórnia e foi assessor de política internacional de Mitt Romney, derrotado por Obama em 2012.

"A mídia americana quer fazer crer que os eleitores do Trump são todos desinformados, mas isso é longe da verdade", diz Grenell à Folha. À falta de artistas defendendo o republicano (apenas Clint Eastwood, Chuck Norris, Steven Seagal e Jon Voight manifestaram apoio), Grenell e outros fazem barulho como os "intelectuais por Trump".

Considerado o maior pensador do Vale do Silício (e o mais excêntrico bilionário do ramo da tecnologia), Peter Thiel, 49, criador do PayPal e primeiro grande investidor do Facebook, afirmou na segunda (31) que "estamos votando em Trump porque julgamos que nossos líderes tradicionais fracassaram e queremos uma nova política".

Fundador de vários fundos de investimentos (Clarium, Founders Fund, Valar, Mithril, Sequoia Capital) e morador de San Francisco, Thiel é o único dos magnatas digitais a fazer campanha aberta pelo republicano.

"A agenda do Trump quer fazer os EUA virarem um país normal de novo. Com deficit comercial normal, sem cinco guerras simultâneas, um governo que saiba fazer o seu trabalho". Para ele, a melhor eleição seria entre Trump e o socialista Bernie Sanders (derrotado por Hillary Clinton nas prévias). "Ambos entenderam o nosso declínio."

Tanto Grenell quanto Thiel são gays. "Trump é o líder republicanos mais confortável com gays, nunca nos criticou, nem fica falando o tempo todo de religião", diz Grenell.

O historiador Victor Davis Hanson, 63, pesquisador do Instituto Hoover, da Universidade Stanford, é outro raro nome entre as principais universidades americanas –bastiões democratas há muitos anos– a desafiar os pares.

"Na escolha de juízes para a Suprema Corte, Obamacare, dívida pública, reconstrução das Forças Armadas, defesa do porte legal de armas, escolha de escola, reforma tributária, exploração energética e imigração ilegal, Trump é a antítese de Hillary", escreveu na revista conservadora "National Review". "A vitória de Hillary asseguraria 12 anos consecutivos das políticas fracassadas de Obama."

Para o professor Mark Beuerlein, da Universidade Emory, que votou duas vezes por Obama e agora defende Trump, não se trata de economia ou racismo. " Viramos uma sociedade cheia de gente que se ofende facilmente e que quer guia para tudo. Trump desafia essa sociedade de tabus, tribalismo e correção política", escreveu em um site mais favorável aos democratas, o Vox. "O discurso público na América virou reprimido e roteirizado. Temos o direito de falar."

Questionado sobre o discurso racista e protecionista de Trump, o ex-diplomata Grenell diz que a mídia distorce o que o seu candidato diz. "Ele nunca falou que todos os mexicanos são estupradores, nem mesmo que todos os ilegais o são", defende. "Mas quando ele critica o plano de saúde do Obama, ele fala uma verdade. Nenhum governo devera prometer cuidar da saúde de todos, até de gente que fuma, come mal e não trabalha duro."