• Mundo

    Monday, 06-May-2024 14:10:23 -03

    eleições nos eua

    Democratas viajam em campanha por receio de Trump

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    08/11/2016 02h00

    Arquivo pessoal
    Voluntário pela ONG Human Rights Campaign vai à Carolina do Norte pedir votos
    O cineasta Eric Rockey faz campanha em bairro de imigrantes da Somália, em Columbus, Ohio

    Um grupo de artistas de Nova York alugou uma van e fez uma peregrinação por três dias pelos Estados de Pensilvânia e Ohio, onde Hillary Clinton e Donald Trump permanecem quase empatados.

    Bateram de porta em porta, mais de cem por dia, fazendo campanha por Hillary e tentando tirar de casa o eleitor apático ou indeciso (o voto não é obrigatório e os dois candidatos têm impopularidade recorde).

    "Não dava para ficar em casa em uma eleição com tanto em jogo. Visitei várias casas de imigrantes da Somália. Muitos já têm direito ao voto, precisamos estimulá-los", disse à Folha o cineasta Eric Rockey, 48.

    Milhares de americanos viajaram milhares de quilômetros como cabos eleitorais voluntários nas últimas semanas, especialmente democratas, com pânico da abstenção. Eleitores tradicionais do partido, como afroamericanos, hispânicos e jovens, estão entre os que menos vão às urnas. Como na Califórnia e em Nova York a vitória democrata é previsível, muitos acabam viajando para onde há, de fato, competição.

    O advogado John Bennett Gordon, 68, voou de Minneapolis para a Carolina do Norte, onde mora a filha, a professora de direito Anne Gordon, para fazer campanha nesse outro Estado estratégico, que às vezes vota democrata, outras republicano. "Trump faria um estrago a todos os americanos, até para quem vota nele." Ele passou quatro dias dormindo em um colchão no quarto das netas, ligando para eleitores e batendo de porta em porta, "umas 40 casas por dia".

    "A tática de recrutar batalhões de voluntários e mandar para Estados muito disputados começou em outra eleição muito polarizada, entre George W. Bush e John Kerry, em 2004", diz o cientista político Donald Green, da Universidade Columbia.

    "Nesta, o esforço deve ser ainda maior, por conta do medo da vitória do Trump. Jovens, ambientalistas e sindicalistas participam do esforço democrata."

    Para Green, o esforço republicano é muito menor, porque os conservadores, especialmente brancos e mais velhos, são os que mais comparecem às urnas. "E porque Trump dedicou pouquíssimo dinheiro para a campanha de base nas ruas. Evangélicos e defensores do porte de armas viajavam muito, mas, sem apoio logístico, a participação encolheu desta vez."

    BATALHÃO

    Os partidos jamais revelam a quantidade de voluntários que viaja para esses Estados, mas analistas sugerem que nesta atual disputa, o número pode chegar a 100 mil.

    Michael Anderson, 29, responsável por angariar fundos para um centro de estudos em Washington, foi em um ônibus fretado pela ONG Human Rights Campaign até Raleigh, na Carolina do Norte.

    Passou o fim de semana lá. Os 60 voluntários bateram em 3.500 portas e fizeram ligações para 12 mil eleitores em três dias.

    "Essa campanha tem sido tão tóxica, que é difícil entusiasmar os eleitores", diz Anderson. "Achei muito imigrante com green card, mas sem direito a voto ainda, pessoas doentes que não podem sair de casa e gente que me diz que Trump é polêmico, mas parece autêntico, enquanto Hillary é mais inteligente, mas não parece confiável", lamentou.

    ESTRATÉGIA

    O Partido Democrata tem, em seus comitês nesses Estados, listas com eleitores registrados como democratas que não votaram nas últimas eleições, listas com indecisos e até de gente que já poderia ter título de eleitor e ainda não se registrou.

    Esses bancos de dados, muitas vezes alimentados pelas redes sociais, estão à disposição dos voluntários que chegam de longe, como o aposentado Tom O'Boyle, 60, que fez campanha em Charlotte, Carolina do Norte.

    "Sempre fui republicano, mas não posso deixar um fascista demagogo se eleger."

    Também há os "bancos telefônicos", onde há listas com números de potenciais eleitores. No fim de semana, atores dos seriados "Transparent" e "The West Wing" participaram desses 'telefonaços' em Durham —a presença também serve para apoiar o astral dos voluntários.

    "Usei um software chamado "Rede de acesso ao eleitor" [Voter Access Network, em inglês], que permite fazer listas de eleitores registrados como democratas por geolocalização", conta o advogado Adam Muchnik, novaiorquino que viajou para a Pensilvânia, também em ônibus fretado. "Com o mapa, sabemos quem devemos convencer de que é importante votar nesta vez, sem perder tempo com eleitores do Trump."

    Como os demais entrevistados pela reportagem, ele usou folgas e dias de férias a que tinha direito para viajar todos os finais de semana.

    O que mais o surpreendeu? A reação de eleitores em bairros negros de Filadélfia. "Fique tranquilo, vamos votar no Obama mesmo, me diziam", recorda. "Não sei se estavam brincando ou não."

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024