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    Eleições 2016

    SAMUEL SARAIVA

    Empresário brasileiro vota Trump porque 'tomou as dores' dos EUA

    (...) Depoimento a
    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    09/11/2016 02h00

    RESUMO Nascido em Rondônia, Samuel Sales Saraiva, 60, tentou a carreira política em Brasília. Chegou a se candidatar a deputado federal pelo PMDB, mas, frustrado, mudou-se para os Estados Unidos 25 anos atrás. Começou a vida fora escrevendo para jornais comunitários e hoje, em Washington, tem uma empresa de construção civil. É entusiasta de Donald Trump.

    Arquivo pessoal
    O brasileiro Samuel Sales Saraiva em comicio de Donald Trump. Credito: Arquivo Pessoal ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Samuel Saraiva em ato de Trump (ao fundo) na Virgínia, em campanha das eleições dos EUA

    *

    Voto em Donald Trump [candidato do Partido Republicano], porque, primeiro, estou cansado do Partido Democrata. Nas últimas eleições, votei no [democrata Barack] Obama e vi só retórica.

    Associado às seguradoras, ele nos enfia goela abaixo o Obamacare. Uma democracia com plano de saúde obrigatório? Na minha opinião, o cidadão deve poder optar.

    Os democratas, desde Bill Clinton, têm usado as minorias para se beneficiar, mas não fizeram nada. O governo Obama foi o que, em silêncio, mais deportou imigrantes.

    Alternância no poder é saudável. Basta olhar o que o PT fez no Brasil com tantos anos de governo. Sou de Rondônia, bem brasileiro, e particularmente não está no meu DNA gostar de macho [risos]. Mas te digo que, entre a hipocrisia velada da [democrata] Hillary [Clinton], e a pouca inabilidade política do Trump, pelo menos ele é autêntico.

    O único risco que ele oferece é para o establishment, ele vai contrariar interesses dos políticos carreiristas. O muro [que ele defende na fronteira do México] é uma solução para os EUA por uma razão simples. Custa caríssimo a invasão silenciosa da fronteira para o contribuinte.

    Os caras constroem túneis sofisticados para colocar droga e tráfico humano nos EUA. Os narcotraficantes têm esse direito e o governo americano não tem o de se proteger?

    Dizer que o discurso dele prega a intolerância é distorção de uma mídia liberal. Ele é contra imigrante ilegal, apenas o ilegal. As cidades onde eles se concentram é onde mais você vê as mazelas de seus países refletidos aqui.

    Os caras quebram garrafa, urinam na rua, não pagam impostos. Eu mesmo tenho trabalhadores que dizem: "Olha, eu trabalho, mas não pago imposto". Eu digo "então vá trabalhar lá na América Central. Você chega aqui, em um país pronto e não quer pagar imposto?".

    Não acredito que o Trump tenha sonegado. Ele foi um empresário eficiente em aproveitar brechas legais para se beneficiar. Se, como presidente americano, usar a mesma habilidade para o país, vai ser uma grande vantagem. Aliás, os governos republicanos foram mais receptivos
    às exportações brasileiras.

    A candidatura dele mostrou que estamos perdendo os Estados Unidos para vendilhões da pátria. A vida não é fácil. Verdade e justiça se compra. Se compra com eleições, com guerras. Sem o poder coercitivo, a lei é uma mera abstração do direito. País sem fronteira ou com fronteira aberta não é país.

    Na segunda-feira (7), fui a um comício do Trump com uma bandeira do Brasil e inclusive ouvi aplausos. Apoio a campanha dele desde as primárias. Participei de tudo. Fiz chamadas telefônicas, contatos pessoais, postagem de matérias.

    Me identifico com o cara, porque ele quer a América de volta. A Fundação Clinton negociou a soberania americana com o Oriente Médio. A Hillary é a encarnação da [ex-presidente] Dilma Rousseff, para não dizer do demônio, que é como vejo a Dilma.

    Fui contra a ditadura brasileira [1964-1985]. Eu não chamo de ditadura, eu chamo de movimento político militar. Fundei o PTB e o PDT em Rondônia, fui candidato a deputado federal pelo PMDB.

    Mas minha maior burrice foi ter recusado o convite para ir para o PDS [sucessor da Arena, de sustentação do governo]. Falei que isso seria violentar meus princípios ideológicos. Hoje tenho uma visão totalmente diferente. Se não fosse ideologia, poderia ter feito muito mais pelo Brasil, talvez eu estivesse aí.

    Hoje em dia, se me perguntam se sou de centro, direita ou esquerda, digo que é como perguntar com qual mão se rouba. Se for com as duas, aí você é de centro.

    Tenho um Porsche conversível, brinquedinho que, se fosse no Brasil, não poderia andar com o teto aberto que me degolavam. Na campanha passada, pus um adesivo do Obama bem grande no para-choque. Ninguém fez nada.

    Agora, coloquei um adesivo no mesmo lugar do Trump. Os hispânicos quebraram o vidro da frente com uma pedra. A intolerância parte das minorias por elas não compreenderem ou serem manipuladas e direcionadas a praticar o extremismo aqui dentro. Tipo o PT, igualzinho.

    Os pretos te olham estranho, os hispanos te olham estranho, porque eu coloco uma camisa do Trump, um bonezinho do Trump. Qual é o problema?

    Tomo as dores do povo americano que lamenta ter o país invadido e destruído, que sente o peso da máquina de impostos carregando os imigrantes ilegais.

    Porque os legais são bem-vindos. Isso eu te digo: nunca fui discriminado nos EUA.

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