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    Europeus temem reaproximação entre EUA e Rússia após vitória de Trump

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A VIENA

    09/11/2016 16h21

    Fotomontagem
    Troca de afagos entre o presidente eleito Donald Trump e o líder russo, Vladimir Putin,desperta desconfiança
    Troca de afagos entre o presidente eleito Donald Trump e o líder russo, Vladimir Putin,desperta desconfiança

    Donald Trump, eleito nesta quarta-feira (9) presidente americano, pode concretizar um pesadelo europeu: a reaproximação entre os EUA e a Rússia, afastando-se da Otan (aliança militar ocidental).

    Trump havia dito durante sua campanha admirar Vladimir Putin, presidente russo. Putin retribuiu agora a gentileza felicitando o republicano por sua vitória e afirmando esperar trabalharem juntos para degelar as relações entre os países.

    Dmitri Peskov, porta-voz do governo, afirmou, porém, que Putin não deve por ora manter contato com Trump nem tem planos de reunir-se com ele. "Barack Obama continua a ser a contraparte do presidente Putin", disse.

    Peskov afirmou ainda que Putin foi informado do pleito americano, mas que não estava seguindo a disputa "grudado na tela". O anúncio da vitória de Trump, feito pelo deputado Viacheslav Níkonov, foi recebido com aplausos na câmara baixa do Parlamento russo.

    Putin afirmou, no entanto, que a retomada das relações não será fácil. EUA e Rússia discordam de temas de bastante impacto na agenda internacional, como a guerra na Síria. O governo americano pede a saída do ditador Bashar al-Assad, enquanto Putin defende o regime sírio.

    A aproximação entre Trump e Putin preocupa líderes europeus, em especial na região dos Bálcãs e na Polônia, região afetada pela proximidade com a Rússia.

    Há também preocupação na Ucrânia, que enfrenta embates na sua fronteira leste. A Crimeia, outrora um território ucraniano, foi anexada por Putin em 2014.

    Petro Poroshenko, presidente ucraniano, afirmou na quarta-feira que espera receber um contínuo apoio americano nessa sua disputa com a Rússia.

    DEFESA

    Trump chegou a dizer durante sua campanha que, no caso de um ataque russo contra um membro da Otan, ele levaria em consideração o quanto o país agredido havia contribuído com a defesa, antes de prover auxílio. Os membros são obrigados pelo pacto a se proteger.

    O republicano, assim como a democrata Hillary Clinton, questionou a baixa participação de Estados europeus no orçamento da aliança. Mas a sua retórica é vista como uma ameaça real, que poderia reajustar o acordo.

    "A boa relação diplomática com a Rússia vai em detrimento de sua atenção à Otan e aos aliados europeus", diz Luis Moreno, do instituto espanhol CSIC (Conselho Superior de Pesquisa Científica).

    Ursula von der Leyen, ministra da Defesa da Alemanha, descreveu a vitória de Trump como "um grande choque" e pediu garantias de seu comprometimento com a aliança militar. "Há perguntas para serem respondidas."

    BOLSAS

    Diversos outros líderes europeus reagiram com preocupação durante a manhã.

    Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, afirmou que Trump tornará o trabalho "mais difícil" para a União Europeia, apesar de ser "o presidente eleito".

    As bolsas europeias abriram quase ao mesmo tempo em que a vitória do republicano Donald Trump foi anunciada. Assustadas, elas despencaram, com baixas em países como a Espanha, a França e o Reino Unido.

    Segundo a Bloomberg, as bolsas europeias não haviam caído tanto desde o "Brexit", votação britânica por deixar a União Europeia, em junho.

    Em meio ao pânico, os embaixadores americanos na Otan e na União Europeia tentaram tranquilizar os aliados, insistindo que a cooperação entre EUA e o bloco europeu não está ameaçada.

    Douglas Lute, embaixador na aliança militar, afirmou que haverá "continuidade". Anthony Gardner, embaixador na UE, pediu que líderes europeus não tirem conclusões precipitadas sobre a futura administração Trump.

    "É muito cedo", disse a repórteres. "Qualquer governo americano perceberá a importância das relações entre os EUA e a União Europeia."

    COMÉRCIO

    A eleição de Trump pode afetar a Europa de diversas outras maneiras, diz o analista espanhol Moreno. Por exemplo, "com a implementação de políticas protecionistas", que desagradam esse bloco econômico.

    A UE exportou aos EUA o equivalente a 371 bilhões de euros em 2015 e importou dali 248 bilhões de euros.

    Está em negociação um acordo de comércio entre ambas as regiões, chamado TTIP, já criticado por Trump.

    Empresários europeus temem, ademais, que Trump mine o acordo nuclear com o Irã e impossibilite os investimentos latentes no país, recentemente retomados pelas perspectivas do fim das longas sanções impostas pela comunidade internacional.

    A imprensa na União Europeia também reagiu negativamente à eleição de Trump. O jornal catalão "El Periódico" estampou em sua capa uma fotografia do republicano com os dizeres 'Deus perdoe os EUA'. Mariano Rajoy, premiê espanhol, havia anteriormente felicitado o novo presidente americano.

    AMANHÃ, A FRANÇA

    Alguns líderes europeus, no entanto, receberam bem a vitória do republicano. Marine Le Pen, do partido francês de extrema direita Frente Nacional, congratulou o presidente em uma mensagem nas redes sociais. Seu pai, Jean-Marie Le Pen, fundador da sigla, afirmou: "Hoje os EUA, amanhã a França."

    Assim como Trump, a Frente Nacional faz campanha em torno de uma mensagem contrária à imigração e tem ganhado apoio no país. Pesquisas preveem que Marine Le Pen chegue ao segundo turno, em 2017.

    A Presidência de Trump também deve agradar a outros partidos de direita, hoje em crescimento em países como Alemanha e Áustria.

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