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    Análise

    Choque de realidade pode frustrar os eleitores de Donald Trump

    FERNANDO CANZIAN
    DE SÃO PAULO

    10/11/2016 02h00

    Donald Trump eleito nos EUA, o "brexit" no Reino Unido e a ascensão da direita radical e populista de Marine Le Pen na França são produtos de um mesmo sentimento difuso, de perda de oportunidades pessoais e de dinamismo econômico nesses países.

    Onde a esquerda vê "crise do capitalismo" e aumento da desigualdade global, esses eleitores reagem em cima dos inimigos mais visíveis: imigrantes e corporações globalizadas que ameaçam empregos locais. Votam por se isolar e "desglobalizar".

    Infelizmente para os chamados países avançados (EUA e zona do euro à frente), criadores de boa parte da narrativa midiática e cultural que o mundo consome, há um mundo novo e próspero do outro lado dessa moeda.

    Nunca na história contemporânea os países considerados pobres ou emergentes, sobretudo na populosa Ásia, cresceram tanto como nos últimos anos.

    Sobretudo na China, com anos de crescimento acelerado e onde, de 2008 para cá, o índice Gini de desigualdade recuou de 0,49 para 0,46 (quanto mais próximo de 0, menos desigual), de acordo com dados do Chinese Household Income Project, financiado pela Fundação Ford.

    Hoje, mais da metade do crescimento global é gerado nos países emergentes, segundo o Institute of International Finance. A tendência vem desde a crise mundial de 2008 e deve se intensificar no futuro.

    Foi a partir da cópia do modelo liberal e globalizante, em várias versões, que os 4,5 bilhões de asiáticos (2/3 da população global) têm sido incorporados à economia global e ao mercado consumidor em velocidade nunca vista.

    Além de ampliar seu mercado interno, a Ásia concentra hoje as maiores taxas de poupança pública e privada do globo.

    É o oposto do que ocorre nos Estados Unidos e na envelhecida Europa, altamente dependentes de crédito de terceiros para crescer e consumir e fortemente endividados desde o colapso de 2008.

    Com o novo eixo do dinamismo mundial deslocado para a Ásia, são muito pequenas as chances de Trump entregar o que promete a seus eleitores fechando os Estados Unidos, líder em empresas transacionais espalhadas pelo mundo e que dependem do faturamento em outros mercados.

    Uma de suas promessas, a barreira tarifária de 45% para produtos chineses, não apenas provocaria algum troco da China como encareceria, por exemplo, produtos com os da Apple fabricados pela chinesa Foxconn. Seriam produzidos nos EUA? Os americanos estão dispostos a pagar bem mais por eles?

    Trump também não tem como agir em relação à atual liberdade de que dispõem os capitais financeiros globais, livres para aportar onde são menos tutelados. Se resolverem "dar um tempo" dos EUA, pior para os que votaram em Trump esperando dias e empregos melhores.

    O mais provável é que os eleitores do republicano acabem frustrados. Ou pelo descumprimento de suas propostas populistas diante da realidade, ou por cumpri-las, deteriorando a atual e bastante razoável realidade econômica americana.

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