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    Com eleição de Trump, legado de Obama pode sofrer destruição rápida

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    10/11/2016 02h00

    As principais iniciativas de oito anos do governo de Barack Obama podem ser desfeitas rapidamente pelo novo presidente americano, Donald Trump, se este cumprir suas promessas de campanha.

    Obama recorreu, especialmente nos últimos três anos, a decretos presidenciais –feitos com uma canetada, e que podem cancelados na primeira semana do novo governo republicano, no final de janeiro do ano que vem.

    Por ter minoria tanto na Câmara, quanto no Senado, Obama assinou 235 decretos presidenciais, estipulando regras ou alterações em leis vigentes, ignorando o Congresso. Trump terá maioria na Câmara e no Senado.

    Entre esses decretos, Obama decidiu proibir a deportação de menores filhos de imigrantes ilegais, instituiu regras limitando a emissão de gás de usinas de energia e aumentou o salário mínimo requerido por empresas terceirizadas que prestam serviços ao governo federal.

    Trump também pode quebrar compromissos internacionais assinados por Obama. Entre eles, acordos globais para combater as mudanças climáticas (que Trump chamou, mais de uma vez, de boato inventado pela China para prejudicar a indústria americana); e o acordo de não-proliferação nuclear com o Irã, ainda que isso afete interesses de aliados importantes, como Reino Unido, França e Alemanha. Durante a campanha, Trump prometeu liquidar com os dois.

    Outro grande tratado da era Obama que deve ser engavetado é a chamada Parceria Transpacífica, um bloco comercial de 12 países entre as Américas, a Ásia e a Oceania. Começou a ser negociado em 2008, ainda no governo Bush, e levou oito anos de negociações (foi assinado na Nova Zelândia em fevereiro deste ano e está em processo de implementação).

    Trump prometeu renegociar acordos de livre comércio e ameaçou uma guerra comercial - na campanha, prometeu aumentar tarifas contra produtos importados da China e do México acima de 35% (algo que prejudicaria grandes empresas americanas, da Apple ao Walmart).

    A Lei da Saúde Acessível, conhecida como Obamacare, que aumentou impostos e taxas dos planos de saúde para subsidiar a cobertura médica para os mais pobres, também está na mira.

    "No curto prazo, o Obamacare deve ser cancelado pelo Trump, mas não se sabe como ele será substituído", disse à Folha o cientista político MIchael Traugott, professor emérito da Universidade de Michigan.

    O programa governamental favorito de Obama, em que investiu todo o capital político de seus dois primeiros anos na Casa Branca (os únicos em que teve maioria no Congresso), unificou a oposição. É um raro programa atacado por republicanos incessantemente nos últimos seis anos, por muitas facções que não endossaram o novo presidente.

    Trump falou que acabaria com o Obamacare, mas sem dar detalhes do que faria com os quase 13 milhões de americanos cobertos.

    "A longo prazo, o legado de Obama será mesmo ameaçado pelas indicações de Trump à Corte Suprema, onde muito pode mudar, dos direitos civis ao meio ambiente", destaca o professor Traugott.

    Para o professor Richard Painter, da Universidade de Minnesota, e que trabalhou no governo de George W. Bush, "Trump só precisa esquecer de muito do que disse e fazer as coisas certas. Muito do que ele prometeu não faz sentido, e ele sabe", escreveu no jornal The New York Times.

    Em discurso na Casa Branca, Obama clamou por um "sentido de unidade, de inclusão, de respeito às instituições, do nosso modo de vida, do respeito às leis e uns aos outros", depois de dizer que tinha convidado o eleito para um encontro nesta quinta (10). "Desejo que ele mantenha esse espírito durante a transição e que sua presidência comece assim. O percurso deste país nunca foi de uma linha reta. Nós fazemos ziguezague e tudo bem. A incrível jornada que nós fazemos, como americanos, vai continuar".

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