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    eleições nos eua

    Sem ver ascensão de Trump, pesquisa dava apenas 16% de chance de vitória

    MARCELO NINIO
    ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

    10/11/2016 02h00

    Na véspera da eleição americana, o jornal "The New York Times" enviou um alerta a seus leitores em que calculava em apenas 16% as chances de Donald Trump se tornar presidente, "a mesma probabilidade de um jogador profissional de futebol americano de errar um chute de 38 jardas", um lance considerado fácil.

    Mas, assim como o modelo estatístico do jornal, a maioria das pesquisas errou nas previsões eleitorais, deixando escapar o cenário que se consolidou na madrugada de quarta-feira (9), quando a contagem dos votos confirmou a vitória de Trump e causou choque entre os que confiaram nas projeções.

    Há diferenças, porém, entre pesquisas de opinião e modelos estatísticos como o Upshot, do "New York Times", que leva em conta não apenas sondagens quentes do momento eleitoral mas outras variáveis, como tendências de votações passadas, fatores demográficos e índices de comparecimento às urnas.

    Um dia antes da votação, por exemplo, a média das pesquisas nacionais do site RealClearPolitics dava apenas três pontos de vantagem para Hillary, não deixando dúvidas de que a briga com o republicano seria apertada.

    Para John Zogby, dono do instituto que leva seu nome, que virou sinônimo de pesquisa eleitoral nos EUA, por esse motivo não dá para dizer que as pesquisas foram um fiasco, como tem sido repetido após muitos terem se surpreendido com a vitória de Trump, reforçando a impressão deixada pelo choque causado no Reino Unido pela aprovação do "brexit" (saída da União Europeia).

    "Não diria que as pesquisas erraram, porque a maioria indicava uma disputa bastante apertada, disse Zogby à Folha. "O que deve ser lembrado é que muitos eleitores se mantêm indecisos até o último momento, o que os mantêm fora do retrato eleitoral produzido pelas pesquisas."

    Outra explicação apontada para a dificuldade de prever a vitória de Trump é a relutância de muitos de seus eleitores em responder a pesquisas, como disse à Folha dias antes da eleição Ronald Wilcox, ativista político ligado ao "tea party", ala ultraconservadora do partido vitorioso. "Republicanos não gostam de responder a pesquisas", resumiu, após um comício do vice de Trump, Mike Pence, na Vírginia.

    EVOLUÇÃO DAS PESQUISAS - Sondagens de intenção de voto mostravam vantagem de Hillary no Colégio Eleitoral

    NA CONTRAMÃO

    Com base em uma metodologia diferente de outras sondagens, as projeções da USC Dornsife/LA Times foram das poucas a colocar o candidato republicano na frente de Hillary Clinton ao longo dos últimos meses, mexendo com as médias nacionais e atraindo críticas e ironias de especialistas eleitorais.

    A diferença é que, em vez de contar com entrevistados diferentes a cada pesquisa, como fazia a maioria das projeções, o sistema usado pela Universidade da Carolina do Sul e o jornal "Los Angeles Times" manteve o foco num grupo fixo de 3.000 eleitores.

    Também levava em conta outras opiniões dos eleitores além da intenção de voto, como a probabilidade de votarem em um ou outro candidato (numa escala de 0 a 100) e de comparecerem às urnas.

    Na última medição, Donald Trump continuava na frente, com 46.8% contra 43.6% de Hillary Clinton.

    Na véspera da votação, o diretor da pesquisa, Dan Schnur, publicou um artigo no "Times" criticando os que viam defeito na empreitada, que não levaram em conta as nuances do trabalho ao usar palavras como "absurdo"e "irrelevante". "O avanço científico é resultado de investigação e experimentação, tantos as bem-sucedidas ou não", defendeu-se Schnur, que acabou rindo por último.

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