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    Trump terá de lidar com a mídia que hostilizou até o final da campanha

    ISABEL FLECK
    ENVIADA ESPECIAL À CAROLINA DO NORTE

    10/11/2016 02h00

    Até o último dia de sua campanha, Donald Trump sustentou os ataques contra a mídia "desonesta" e "trapaceira" dos Estados Unidos. Nos comícios, apontava para os jornalistas, que eram então vaiados por seus apoiadores.

    A hostilidade se justifica, segundo Trump, porque a "mídia corrupta" o tratava de forma distinta da adversária, perseguindo o republicano e escondendo a verdade.

    O Trump presidente, contudo, será obrigado a conviver de forma mais intensa com a imprensa a partir de janeiro.

    Carlo Allegri/Reuters
    Republicano Donald Trump, eleito presidente dos EUA
    Republicano Donald Trump durante discurso após ser eleito presidente dos EUA

    É fato que grandes veículos apoiaram publicamente a candidata democrata durante a campanha: "The New York Times", "The Washington Post", "Los Angeles Times" e, na reta final, "USA Today" e a revista "The Atlantic" –que em mais de 150 anos de história só havia apoiado outros dois presidenciáveis, Abraham Lincoln, em 1860, e Lyndon Johnson, em 1964.

    Em editorial em setembro, intitulado "Por que Trump não deve ser presidente", o "New York Times" argumentava para mostrar por que o republicano não é "confiável". Nesta quarta, após a vitória de Trump, diz que o resultado colocou os EUA no precipício. "O que sabemos é que Trump é o presidente-eleito mais despreparado na história moderna."

    A cada crítica ou denúncia contra ele, Trump endurecia o tom. Num discurso, chegou a dizer que, se eleito, tiraria as restrições da lei sobre difamação. "E então, quando eles escrevem artigos propositadamente negativos, horríveis e falsos, poderemos processá-los e ganhar muito dinheiro."

    No fim de outubro, também afirmou que enfraqueceria a "estrutura de poder" da mídia, citando a possível compra da Time Warner pela AT&T. "Como um exemplo da estrutura de poder que estou lutando, a AT&T está comprando a Time Warner e, dessa forma, a CNN, um negócio que não será aprovado na minha administração porque é muita concentração de poder nas mãos de poucos", disse em um discurso.

    Com frequência, Trump negou credenciamento durante a campanha a veículos como o "Washington Post", e criticou publicamente a rede CNN e as repórteres Megyn Kelly, da Fox, e Katy Tur, da NBC.

    Seus ataques geraram um sentimento de repulsa contra a imprensa entre seus eleitores. Num de seus últimos comícios, em Raleigh, na Carolina do Norte, a reportagem da Folha foi abordada por apoiadores de Trump que cobravam explicações sobre o veículo para o qual a cobertura era feita.

    Diante da retórica e do comportamento inflamado do republicano, os repórteres responsáveis pela cobertura presidencial começam a temer por mudanças no protocolo e censura.

    A Associação dos Correspondentes da Casa Branca enviou, no último mês, cartas aos dois candidatos pedindo que o acesso dos jornalistas não fosse restringido em seus eventuais mandatos.

    Também em outubro o Comitê para a Proteção dos Jornalistas divulgou uma nota expressando preocupação sobre a "ameaça à liberdade de imprensa" que Trump representaria como presidente. "Mas as consequências para os direitos dos jornalistas em todo o mundo podem ser ainda mais sérias", diz o texto.

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