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    Justiça e conflitos de interesses são calos do político-empresário

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    11/11/2016 02h00

    Processos na Justiça e possíveis conflitos de interesses entre política e negócios estão entre os temas centrais do empresário Donald Trump após sua eleição para presidente dos Estados Unidos.

    Mesmo depois de assumir o governo do país, o bilionário pode legalmente continuar tendo envolvimento com centenas de empresas listadas por ele em informação passada à Comissão Eleitoral Federal dos EUA -e recebendo lucro delas.

    Segundo uma reportagem do jornal "The Washington Post", a vitória eleitoral de Trump gerou um emaranhado entre negócios privados e interesses públicos como nunca havia sido visto na história americana.

    No mês passado, o então candidato disse que criaria um "fideicomisso cego", forma legal de transferir temporariamente o patrimônio para terceiros administrarem. O presidente argentino, Mauricio Macri, anunciou a mesma iniciativa quando se afastou de suas empresas para assumir a Casa Rosada. Trump disse que seu império seria administrado por seus filhos, para evitar conflitos.

    Para Richard Painter, que trabalhou no escritório de Ética no governo Bush, "não pode ter filhos envolvidos, que possam conhecer decisões da Casa Branca que impactem nos negócios".

    NO EXTERIOR

    Outra situação sem precedente é que Trump tem negócios em países como China, Panamá, Turquia e Azerbaijão, recebendo inclusive pagamentos de governos estrangeiros, e algumas de suas decisões políticas poderiam beneficiar esses empreendimentos. Seu filho, Eric Trump, diretor de algumas empresas da família, disse no mês passado à rede ABC: "Não estaremos envolvidos com o governo".

    "Como Trump não divulgou suas declarações de renda, ainda não se sabe se surgirão outros conflitos de interesses", diz o criminologista Reuben J. Miller, professor da Universidade de Michigan.

    Além da questão ética entre negócios e política, até tomar posse, em 20 de janeiro, o presidente eleito ainda terá que passar por alguns tribunais -chega à Casa Branca com 75 processos abertos contra ele.

    No dia 28, depois de ter um pedido de adiamento negado, ele terá que testemunhar em um processo de um grupo de estudantes que o acusam de fraude pela Universidade Trump.

    Há três processos, na Califórnia, na Flórida e em Nova York, por conta desse seminário, que prometia os segredos do sucesso no mercado imobiliário. Os alunos dizem que foram ludibriados -inclusive por não ser uma universidade propriamente dita.

    Os casos foram enquadrados nas leis de proteção ao consumidor e de organizações acusadas de extorsão e corrupção.

    A ação na Califórnia, que corre na Justiça Federal, virou assunto de campanha quando Trump disse, em julho, que o processo só tinha ido adiante porque o juiz Gonzalo Curiel é "mexicano, e nós vamos construir um muro entre os EUA e o México" (o juiz é nascido no Estado americano de Indiana).

    Ainda há processos contra o novo presidente, de acusações de várias mulheres por assédio sexual, e de uma funcionária de seu resort na Flórida que teria sido demitida por ter denunciado assédio sexual por um colega.

    O republicano enfrenta ainda processos de militantes democratas que foram agredidos ao protestar em comícios da sua campanha.

    "Não há precedentes de um presidente nos últimos 50 anos chegar à Casa Branca já com diversos processos em andamento contra ele", diz o criminologista Miller.

    4.000 PROCESSOS

    Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal "USA Today" durante a campanha, Trump já esteve envolvido em mais de 4.000 processos.

    Em outra pendência, Trump quer uma indenização milionária por quebra de contrato do chef espanhol José Andrés. Chamado para um novo hotel de luxo em Washington, ele se negou a trabalhar no hotel de alguém que ataca imigrantes.

    A Suprema Corte americana decidiu em 1997, em um caso de assédio sexual contra o então presidente Bill Clinton, que o mandatário do país não está imune de litígios por ações cometidas antes de chegar à chefia do poder Executivo do país.

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