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    eleições nos eua

    Apesar de sexismo de Trump, Hillary tem resultado fraco entre mulheres

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    11/11/2016 02h00

    Hillary Clinton não foi a única mulher que o presidente eleito Donald Trump chamou de "nojenta": houve ainda uma advogada que amamentou seu bebê na frente dele.

    Os comentários sexistas do republicano atingiram da "feia por dentro e por fora" Arianna Huffington (do site com seu nome) a uma ex-participante do reality que apresentou de 2004 a 2015, "O Aprendiz" ("você de joelhos deve ser algo lindo de ver").

    Parecia óbvio: com o eleitorado feminino, a vitória da primeira mulher candidata à Casa Branca por um dos grandes partidos americanos seria de lavada. Não foi o caso.

    A democrata teve 54% dessa fatia, contra 42% para o republicano, apontaram pesquisas de boca de urna (os dados oficiais ainda não foram divulgados). Um desempenho razoável, e não mais, para a média dos democratas.

    Em 2012, Barack Obama foi reeleito com mais: 55% para ele e 44% para Mitt Romney. Quatro anos antes, o democrata virou presidente com 56% da preferência feminina.

    Hillary foi particularmente mal com um grupo: brancas sem formação universitária, que escolheram seu rival em peso (64%). Mesmo entre as brancas diplomadas, a performance não foi soberba: 51%.

    "O partidarismo é o único indicador relevante de votos nos EUA", diz à Folha Brigitte McMahon, da Fundação Barbara Lee, dedicada a estudos sobre mulheres candidatas ao Executivo.

    "Fala-se do voto feminino como se as mulheres fossem um bloco monolítico, mas partido 'trumps' [supera] gênero", diz. Na campanha, Hillary era fã da tirada "love trumps hate" (amor supera o ódio), trocadilho com o verbo e o nome do empresário.

    Para McMahon, gênero pode, sim, ter feito diferença -mas contra a candidata. "Nossas pesquisas mostram que, quando mulheres concorrem para o Executivo, elas enfrentam uma cobrança maior. Questões sobre se são qualificadas e agradáveis aparecem de um jeito que não existe para homens."

    Em números: 20% dos eleitores que diziam não ver em Trump um "temperamento para ser presidente" votaram nele mesmo assim. Diante do mesmo dilema, só 5% optaram por Hillary. E 49% daqueles que desaprovavam tanto um quanto o outro acabaram marcando Trump nas urnas; a ex-secretária de Estado só teve 29% do mesmo benefício da dúvida.

    BIFURCAÇÃO

    A cientista política Susan Carroll, do Centro para Políticas e Mulheres Americanas, ressalta a bifurcação entre a Hillary, advogada formada em Yale e próxima de Wall Street, com a mulher branca com educação formal deficitária.

    "Ela teve apoio maciço entre afro-americanas [94%] e latinas [68%]. Perdeu a eleição porque os brancos votaram em massa no Trump, especialmente nos Estados decisivos", diz à reportagem.

    A campanha democrata apostava que essa eleitora nas franjas da América, com certa alergia ao estilo liberal de centros cosmopolitas, poderia se incomodar com as repetidas amostras de misoginia dadas pelo empresário acusado, em outubro, de assediar 11 mulheres.

    Cerca de 70% do eleitorado até demonstraram desconforto, mas boa parte conseguiu tapar o nariz para isso.

    Em fevereiro, quando Hillary disputava as prévias democratas com Bernie Sanders, uma ex-secretária de Estado que nem ela, Madeleine Albright, advogou pela luta feminista: "Há um lugar especial no inferno para mulheres que não se ajudam!".

    Argumentos afins não sensibilizaram muitas americanas. Mas uma fatia respondeu melhor ao slogan de Hillary, "estou com ela": mulheres entre 18 e 29 anos, que deram à democrata 63% de seus votos (homens na mesma faixa etária também preferiam ela, 46%, a Trump, 42%).

    Foi a elas que Hillary se dirigiu no discurso em que admitiu a derrota. "Para todas as mulheres, e especialmente as jovens, que acreditaram nesta campanha e em mim, quero que vocês saibam que nada me deu mais orgulho do que ser a campeã de vocês."

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