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    Um ano após ataques, extrema direita ganha força política na França

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    12/11/2016 02h01

    Martin Bureau/AFP
    (FILES) This file photo taken on October 27, 2016 in Paris shows new lettering (R) on the facade of the "Bataclan" concert hall, one of the targets of the November 13, 2015 terrorist attacks during which 130 people were killed and another 413 were wounded. British rock star Sting will re-open Paris' Bataclan concert hall on November 12, a day before the anniversary of the jihadist attacks that left 90 people dead there, the venue's owner said on November 4, 2016. The former frontman of The Police confirmed the announcement by Lagardere Unlimited Live Entertainment, saying in a statement on his website: "In re-opening the Bataclan, we have two important tasks to reconcile. "First, to remember and honour those who lost their lives in the attack a year ago, and second to celebrate the life and the music that this historic theatre represents." / AFP PHOTO / MARTIN BUREAU ORG XMIT: MAB11323
    A casa de shows Bataclan, onde morreram 90 pessoas, que será reaberta neste sábado (12)

    Um ano atrás, uma série de atentados terroristas deixou 130 mortos em Paris. Os destroços das explosões foram limpos, mas a ferida segue aberta na cidade.

    A sensação de insegurança, reforçada por um ataque em Nice em julho, pode ser um dos trunfos de Marine Le Pen, do partido de extrema direita Frente Nacional, para chegar até a Presidência.

    Esse cenário agora parece mais provável, depois da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

    Imediatamente após os ataques de 13 de novembro passado, o governo francês decretou estado de emergência. A medida foi renovada e segue em vigor pelo menos até 26 de janeiro de 2017. As eleições devem ser realizadas em abril e maio.

    François Hollande, presidente francês, afirmou ao Parlamento à época: "Estamos em guerra". Soldados patrulhavam locais turísticos, e mais de 4.000 incursões foram feitas em busca de suspeitos de ações radicais.

    Juízes podem, sob uma nova legislação, condenar terroristas a até 30 anos de prisão, em vez dos 10 anos antes vigentes. O número de casos em aberto relacionados ao terror quase triplicaram neste ano: 350, em comparação aos 126 de 2015.

    SEGURANÇA

    Le Pen pode se beneficiar da situação porque o ataque, reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico e com a possível participação de estrangeiros, tocou na hoje delicada relação entre a França e sua população muçulmana e imigrante.

    A líder da Frente Nacional, como Trump, se apoia em um discurso contrário à imigração e hostil ao islã. Assim, dá voz ao desconforto de parte da população. Na última eleição, em 2012, ela concorreu à Presidência e acabou em terceiro lugar.

    As difíceis relações da república francesa com o islã foram exemplificadas, neste verão, pela crise do burquíni (peça de banho que mistura a burca com o biquíni). Municípios costeiros, como Cannes, proibiram a vestimenta.

    Em um episódio de impacto, um membro das forças de segurança foi fotografado obrigando uma mulher a despir o burquíni na praia, diante de espectadores.

    As pesquisas colocam Le Pen, por ora, no segundo turno da eleição francesa. Os dados atuais sugerem que ela pode competir com Alain Juppé, da sigla Os Republicanos. Ele precisa, antes, vencer as primárias que disputa este mês com o ex-presidente Nicolas Sarkozy.

    Hollande, atual presidente, pode concorrer –mas sua popularidade caiu após os ataques, que incluem também o realizado contra o semanário satírico "Charlie Hebdo" em janeiro de 2015, no qual 12 pessoas morreram.

    Em julho, quase 90% desaprovavam seu governo.

    Assim como a vitória de Trump parecia improvável, a previsão hoje é de que Le Pen seja derrotada por Juppé no segundo turno. No entanto, também como o republicano, pode surpreender.

    INVESTIGAÇÕES

    Os ataques de 13 de novembro de 2015 tiveram como alvo cafés, a casa de espetáculos Bataclan e o Stade de France, onde jogavam França e Alemanha.

    Das centenas de feridos, 20 permanecem hospitalizados.

    O aniversário dos atentados será marcado, neste sábado (12), por um concerto do músico britânico Sting no Bataclan, que até então estava fechado. Houve 90 mortes na casa de shows.

    As investigações ainda estão em andamento. As autoridades francesas identificaram recentemente um militante belga como o coordenador do ataque. O suspeito estaria atualmente na Síria.

    Outro investigado, Salah Abdeslam, foi capturado na Bélgica e enviado à França. Talvez único sobrevivente entre os terroristas, ele está em solitária e se recusa a falar.

    Em meio à insegurança, as receitas do turismo devem cair € 1,5 bilhões (R$ 5,53 bilhões) neste ano na região de Paris. O museu do Louvre, um dos principais pontos turísticos da cidade, perdeu 20% de seus visitantes durante o ano passado.

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