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    eleições nos eua

    Movimentos racistas festejam vitória de Trump nos EUA

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL À FLÓRIDA

    13/11/2016 02h00

    Enquanto muitos hispânicos, negros e imigrantes temem que o governo Trump vá trazer retrocessos, existe um grupo que já comemora "o fim da discriminação": os nacionalistas brancos.

    "Ao menos vamos ser ouvidos pelo governo daqui para frente", disse à Folha Jared Taylor, um dos quatro principais líderes do movimento supremacista nos EUA, segundo o Southern Poverty Law Center, centro que monitora grupos extremistas.

    Os supremacistas, em linhas gerais, defendem a superioridade dos brancos em relação a outros grupos, como negros e hispânicos.

    Supremacistas tradicionais ganharam reforço da chamada alt-right (que vem de Alternative Right, direita alternativa), que espalha sua ideologia pela internet.

    Os integrantes do alt-right rejeitam os conservadores tradicionais, que chamam de "cuckservatives" (algo como conservadores cornos, bunda-moles), e acreditam que a imigração e o multiculturalismo são ameaças à identidade branca.

    "Antigamente, se você era rejeitado pelo conservadorismo mainstream de revistas como a 'National Review', de William F. Buckley, caía na esquecimento", diz Thomas Main, professor da City University of New York que lançará um livro sobre a alt-right.

    "Agora, esses expoentes da alt-right têm muito mais influência do que os conservadores tradicionais. E parte de suas ideias e retórica foi adotada por Trump."

    Eles ganharam proeminência nos EUA após serem citados pela democrata Hillary Clinton em um discurso no fim de agosto, quando ela acusou Trump de "incitar, encorajar e dar um megafone" para grupos racistas.

    Os supremacistas fizeram campanha maciça pelo republicano. Trump não os apoiou, mas replicou tuítes de membros do movimento e não repudiou o endosso recebido. Deu entrevistas a sites de extrema direita.

    Seu filho, Donald Jr, e Roger Stone, um de seus assessores mais próximos, tuitaram imagens do "Pepe the Frog", símbolo do movimento. Posteriormente, afirmaram que não sabiam o que o sapo representava.

    Steve Bannon, chefe da campanha de Trump, era o manda-chuva no Breitbart, site que é um dos principais divulgadores das ideias do alt-right. "Você preferiria que sua filha tivesse câncer ou feminismo?" foi uma das manchetes do site. Agora, ele é cotado para ser chefe de gabinete de Trump ou assumir algum outro cargo relevante.

    FATURA

    Com a vitória de Trump, os movimentos querem cobrar a fatura: preparam-se para pressioná-lo a implementar pontos de sua agenda.

    "É uma das noites mais empolgantes da minha vida! Não se enganem, nossa gente teve um papel enorme na eleição de Trump", disse David Duke, ex-líder da supremacista Ku Klux Klan.

    No site neonazista Daily Stormer, o editor Andrew Anglin, que chama o presidente Obama de "o grande macaco", escreveu: "Trabalhamos duro por isso! É a nossa maior vitória! Mas não fiquem preguiçosos! Ainda temos um monte de judeus e indesejáveis neste país e precisamos dar um jeito".

    Richard B. Spencer, que cunhou o termo alt-right em 2008, tuitou: "Agora nós somos o establishment".

    O supremacista Jared Taylor afirma que existe imenso apoio popular nos EUA às ideias do movimento. "As urnas mostraram que as pessoas brancas estão frustradas com as mudanças em curso nos EUA, e não são apenas aqueles com baixa instrução, são brancos que concluíram a faculdade também", diz.

    "Eles simplesmente não querem ser obrigados a apertar a tecla 1 no telefone para ouvir inglês em seu próprio país, ter imigrantes vivendo de ajuda do governo, estrangeiras grávidas entrando ilegalmente para terem bebês americanos."

    O líder supremacista considera muito positivas as medidas propostas por Trump. "Ele quer expulsar todos os imigrantes ilegais; acho ótimo, porque obviamente não queremos que os EUA se tornem uma extensão da América Latina", diz.

    Também apoia as restrições na entrada de muçulmanos. "Para que queremos mais muçulmanos? Eles não estão causando todo esses problemas na Europa?"

    Mike Cernovich, um dos mais populares integrantes da alt-right, disse que "Trump é um nacionalista que põe a América em primeiro lugar. Todos os outros são globalistas que não priorizam os trabalhadores americanos."
    Para ele, construir um muro na fronteira com o México vai "evitar a entrada de dezenas de milhares de traficantes, imigrantes ilegais e até terroristas islâmicos."

    Thomas Main diz que Trump tem dificuldade para preencher postos abaixo do primeiro escalão e há grandes chances de pessoas ligadas ao alt-right terem cargos.

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