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    Estrategista-chefe de Trump é acusado de disseminar ódio

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    15/11/2016 02h00

    Em julho, Stephen Bannon, 62, chamou seu site, o Breitbart News, de "plataforma para a alt-right" -a "direita alternativa", guarda-chuva para neonazistas e supremacistas fartos do "politicamente correto".

    No mês seguinte, ele virou chefe da campanha presidencial do republicano Donald Trump. No domingo (13), estrategista-chefe de seu futuro governo. Como tal, será uma das vozes mais influentes na Casa Branca, que ficará mais branca do que nunca, temem grupos que defendem minorias nos EUA.

    A reputação do Breitbart o precede. Lá Barack Obama virou "importador de mais muçulmanos cheios de ódio".

    Líderes republicanos tampouco foram poupados: o presidente da Câmara, Paul Ryan, é um "fracote"; o senador e ex-presidenciável John McCain, um "poster boy" para "a desonestidade do establishment"; e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, um simpatizante enrustido de Hillary Clinton. "A elite republicana sobreviveria a uma vitória dela, mas as chances de superar uma de Trump são bem menores", diz o site.

    Ao assumir a campanha de Trump, Bannon se afastou do site que chefiava desde 2012, após a morte do fundador, Andrew Breitbart, aos 43.

    A cornucópia de reportagens pró-Trump fez do Breitbart "o Pravda [jornal soviético] particular" do bilionário, disse um ex-articulista da casa. Ben Shapiro se demitiu após o site duvidar da palavra de uma colega.

    Em março, Michelle Fields acusou o então chefe da campanha de Trump, Corey Lewandowsky, de lhe provocar hematomas ao puxá-la pelo braço após ela perguntar ao candidato sobre ação afirmativa. Vídeos confirmavam sua versão, negada por Corey.

    "O feminismo é um câncer", já disse uma das pratas da casa, Milo Yiannopoulos.

    Em outro texto, ilustrado com a foto de um bebê chorão, o colunista sugere a vítimas de assédio virtual: "Desconectem-se". Continuou: "As mulheres estão arruinando a internet" ao tentar suprimir "a tendência natural do homem para ser explosivo".

    Gay e católico, Milo, 32, se diz herdeiro ideológico de Trump ("feliz dia dos pais, papai Donald") e é um dos heróis da alt-right, que o exalta como "um dedo do meio" para o establishment da esquerda à direita.

    Em 2011, Bannon dirigiu o documentário "The Undefeated" (a invicta), sobre Sarah Palin, vice na chapa derrotada de John McCain e abelha rainha do movimento ultraconservador Tea Party. O filme compara os ataques da mídia a Palin com uma zebra espreitada por leões.

    AUDIÊNCIA RADICAL

    Foi cercado dessas companhias que ele viu a audiência de seu site explodir (de 8 milhões de leitores, em 2014, para 17 milhões agora, segundo o ComScore, que mede o tráfico virtual). Há controvérsias sobre se ele mesmo acredita na retórica espirrada pelo Breitbart.

    É antissemita, disse a ex-mulher Mary Louise em 2007, contando como ele vetou uma escola com muitos alunos judeus para as filhas gêmeas. Há ainda um texto no Breitbart atacando o analista Bill Kristol, "um judeu renegado".

    Defensores rebatem: palavra de ex-mulher seria suspeita, e o próprio autor do artigo contra Kristol é um judeu, David Horowitz, que escreveu: "Conheço Steve há anos, ele não tem uma célula antissemita no corpo".

    Shapiro concorda. "Mas ele está feliz em achar uma causa comum [com radicais], a fim de transformar o conservadorismo americano no populismo nacionalista da extrema-direita europeia."

    Kellyanne Conway, diretora da campanha de Trump, defende que "as pessoas olhem o seu currículo inteiro". Veterano da Marinha que se formou na escola de negócios Harvard, Bannon cresceu na Virgínia, num lar democrata que se converteu ao republicano Richard Nixon, o candidato da "lei e da ordem" (slogan adotado por Trump).

    O historiador Ronald Radosh contou que, em 2014, Bannon lhe disse admirar Lênin. "Ele queria destruir o Estado, e esse é o meu gol também. Quero destruir todo o atual establishment." (Ele diz não se lembrar da conversa.)

    Em seus planos, uma coalizão global. Sobrinha de Marine le Pen, líder da extrema-direita francesa, Marion tuitou no sábado (12): "Disse sim a um convite de Bannon para trabalharmos juntos".

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