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    Impasse entre republicanos ameaça paralisar transição ao governo Trump

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    16/11/2016 02h00

    Depois de protagonizar uma guerra civil em seu partido durante a campanha, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, continua a enfrentar dificuldades para unir a elite republicana em torno de seu programa de governo, pondo sob risco de paralisia o processo de transição de poder e a montagem de sua equipe.

    O espectro de uma crise precoce ressurgiu nesta terça (15), uma semana após a eleição, com o abrupto pedido de demissão do ex-deputado e ex-agente do FBI Mike Rogers, que há meses ocupava papel central em assuntos de segurança na transição. Ele não explicou a saída.

    Timothy A. Clary/AFP
     Vice President-elect Mike Pence arrives at Trump Tower for meetings with President-elect Donald Trump November 15, 2016 in New York. Trump,the 70-year-old Republican billionaire who takes office in just nine weeks, was to meet with Vice President-elect Mike Pence to discuss the next round of cabinet appointments. / AFP PHOTO / TIMOTHY A. CLARY ORG XMIT: TC014
    Vice-presidente eleito e chefe do time de transição, Mike Pence chega a reunião com o bilionário em NY

    Foi a segunda mudança de peso desde a vitória de Trump. Na sexta, seu vice, Mike Pence, substituíra na chefia da transição o governador de Nova Jersey, Chris Christie. Ex-presidente da comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Rogers é considerado próximo de Christie, e sua saída sinaliza um rearranjo significativo nos planos de Trump.

    Com o presidente eleito longe do olhar público nos últimos dias, a nova chacoalhada no processo de transição reforçou as especulações sobre as dificuldades de Trump em criar consenso sobre os nomes que comporão o primeiro time de seu governo.

    A mudança de guarda ficou praticamente congelada com a retirada de Christie. Segundo fontes da Casa Branca, Pence ainda não assinou os documentos para que sua equipe comece a colaborar com o governo atual na transferência de poder.

    "Ninguém me procurou ainda, o que é totalmente inusual", disse à Folha um membro de escalão médio do governo de Barack Obama, pedindo para não ser identificado. Fontes da equipe de Trump disseram ao "New York Times" que o atraso se devia a alterações no documento a ser assinado. A expectativa era que ele fosse finalizado até a noite de terça.

    A menos de dois meses da posse, a demora causa preocupação de que Trump, o primeiro presidente americano eleito sem nenhuma experiência política, assuma a Casa Branca sem completar a transição. Diante da desordem na transição, alguns republicanos que se opuseram abertamente a Trump durante a campanha e decidiram lhe dar uma chance após sua vitória voltaram atrás, como o especialista em segurança nacional Eliot Cohen.

    "Depois de contatos com o time de transição de Trump, mudei minha recomendação: fiquem longe. Eles são raivosos, arrogantes e gritam: vocês PERDERAM!' Vai ser feio", escreveu. Assessor no governo de George W. Bush, Cohen foi um dos líderes de uma carta aberta divulgada em março condenando as posições em política externa de Trump.

    Até agora o presidente eleito só anunciou duas nomeações para seu governo, o presidente do Partido Republicano, Reince Priebus, como chefe de gabinete, e Steve Bannon, ex-presidente do site de notícias de extrema direita Breitbart, para o posto de estrategista-chefe.

    Enquanto isso, as apostas para os nomes principais do gabinete incluem o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani e um dos principais defensores de Trump na campanha para secretário de Estado (chanceler), embora o polêmico ex-embaixador dos EUA na ONU John Bolton esteja cotado para o cargo.

    Em meio à intensa movimentação e a uma série informações desencontradas, outro aliado de Trump na campanha, o ex-neurocirurgião Ben Carson, anunciou que não aceitará fazer parte do gabinete. Derrotado por Trump na disputa pela candidatura republicana.

    "Sua vida não o preparou para ser membro do gabinete", disse um assessor de Carson, acrescentando que ele continuará atuando como conselheiro de Trump.

    QUEM É QUEM NA TRANSIÇÃO DO GOVERNO TRUMP

    Mike Pence
    Vice-presidente eleito, foi nomeado chefe da transição no lugar de Chris Christie, cuja escolha foi criticada devido ao envolvimento deste em um escândalo político em Nova Jersey

    Steve Bannon
    Escolhido para ser estrategista-chefe do futuro governo, comanda um site ligado à "direita alternativa", o Breitbart News, conhecido por posições racistas e extremistas

    Mike Rogers
    Republicano respeitado, cuidaria dos assuntos de segurança nacional na transição, mas pediu para sair da equipe nesta terça (15)

    CARGOS-CHAVE NO GOVERNO TRUMP

    Secretário de Estado
    Cargo equivalente ao de chanceler. O ex-prefeito Rudy Giuliani é o mais cotado para a posição. John Bolton, que foi embaixador dos EUA na ONU no governo de George W. Bush, também é uma possibilidade

    Secretário do Tesouro
    Cargo similar ao de ministro da Fazenda. Os executivos Steven Mnuchin e Thomas Barrack Jr. são cotados, além do ex-governador do Minnesota Tim Pawlenty

    Secretário de Defesa
    Os senadores republicanos Kelly Ayotte e Jeff Sessions são cotados, além de Stephen J. Hadley, que foi assessor de George W. Bush

    Outros cargos
    O presidente eleito tem que indicar funcionários para ao menos 1581 cargos na administração federal, dos quais 1217 são sujeitos a aprovação pelo Senado

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