• Mundo

    Monday, 29-Apr-2024 06:46:22 -03

    Em meio a transição, Trump dá sinais ambíguos sobre gays e homofobia

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    16/11/2016 02h00

    Donald Trump é homofóbico? Sim e não. O empresário, que já disse ser um "tradicionalista" com "amigos gays fabulosos", emite sinais ambíguos sobre o tema.

    Em sua primeira entrevista como presidente eleito, no domingo (13), disse não ter problemas com o casamento gay e que não vê por que mexer num direito já garantido pela Suprema Corte.

    Cogita fazer de Richard Grennel o primeiro gay declarado no alto escalão da política externa. A dias da eleição, posou com uma bandeira do arco-íris cedida pelo movimento "LGBT for Trump". Em abril, em plena disputa por votos conservadores nas prévias republicanas, concordou que transgêneros usem o banheiro que quiserem, questão que pautava batalhas legais em vários Estados do país.

    Foi além: Caitlyn Jenner, ex-atleta olímpico e ex-padrastro de Kim Kardashian, era bem-vinda no sanitário feminino da Trump Tower. Declarou tê-la conhecido como Bruce, "um dos maiores bonitões que você vai ver", e ativistas só implicaram com o uso do masculino para se referir à transexual.

    Mas a comunidade LGBT tem motivos para temer o presidente Trump. A começar pelas companhias: seu vice, Mike Pence, já comparou casais do mesmo sexo a "colapso social". Como governador de Indiana, Pence sancionou uma "lei de liberdade religiosa" que permitia a donos de estabelecimentos negar atendimento a gays por motivos de fé maior (voltou atrás após empresas contrárias à ideia ameaçarem deixar o Estado).

    Há também a questão da Suprema Corte, palavra final sobre muitas questões morais que racham a população, como a decisão de legalizar o casamento gay, em 2015.

    Hoje está meio a meio: quatro juízes progressistas e quatro conservadores. Trump terá poder de indicar alguém para uma cadeira vaga há nove meses, após a morte de um membro (republicanos no Congresso, onde são maioria, se recusaram a chancelar o nome apontado pelo presidente Barack Obama).

    Com três outros juízes entre 78 e 83 anos, é possível que Trump escolha novos membros -e ele já deixou clara a intenção de povoar a Corte com conservadores.

    Entre os casos que poderão chegar ao tribunal, um tramita hoje no Estado de Washington: um dono de floricultura que se negou a fazer arranjos para um casamento de dois homens.

    O presidente eleito já disse que repele o casamento gay "do ponto de vista bíblico", mas foi a alguns deles.

    Dennis Heiderich, 25, organizou um ato em defesa do republicano na avenida Paulista, em São Paulo, onde segurou o cartaz "Gays for Trump". Gosta da retórica linha-dura contra "radicais islâmicos", sobretudo após o atentado que matou 49 gays numa boate em Orlando.

    Também defende seu vice. "Pence se opôs às tentativas da militância esquerdista de transformar LGBTs numa classe privilegiada. Por que um homem que se sente mulher teria direito de violar uma regra milenar de convivência como a separação de banheiros por sexo?"

    Presidente da ONG LGBT Network, David Kilmick, 49, diz que discursos assim "sinalizam que ainda temos muito o que fazer".

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024