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    'Certinho', líder da Câmara terá de se dobrar a Donald Trump

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    17/11/2016 02h00

    "Esta é a proeza política mais incrível que testemunhei em minha vida", disse o presidente da Câmara dos EUA, Paul Ryan, sorrindo ao lado do homem que semanas antes o chamou de "líder muito fraco" e se dispôs a ensinar "republicanos desleais" como se faz para vencer.

    Antes de presidente eleito, Donald Trump era o pesadelo de Ryan. Republicano com posto mais alto na atual temporada política, o deputado ficou entre a cruz de membros da legenda horrorizados com Trump e a espada do empresário e seus asseclas, furiosos com o descaso dos líderes partidários na campanha.

    O momento é outro. "Trump ouviu uma voz neste país que ninguém mais ouviu. Virou a política pelo avesso", afirmou após ciceronear o empresário no Congresso, semana passada.

    Joshua Roberts/Reuters
    U.S. President-elect Donald Trump (L) meets with Speaker of the House Paul Ryan (R-WI) on Capitol Hill in Washington, U.S., November 10, 2016. REUTERS/Joshua Roberts ORG XMIT: WAS708
    O presidente eleito, Donald Trump, encontra Paul Ryan em Washington, na semana passada

    Na terça (15), Ryan foi reconduzido ao posto por seus pares. A Casa continuará com maioria republicana em 2017 (239 das 435 cadeiras), e ele terá de trabalhar com um presidente de quem discorda em quase tudo.

    Bom moço, escoteiro. Houve um tempo em que o futuro do Partido Republicano apontava para o homem a quem amigos atribuem essas características.

    Vice na chapa derrotada de Mitt Romney em 2012, o certinho Ryan, 46, era visto como forte candidato para a Casa Branca, que acabou com o franco-atirador Trump, 70.

    O deputado resistiu a apoiá-lo. Em junho, rotulou de "definição de racismo no dicionário" quando Trump acusou um juiz de ser "hater" e parcial num caso contra ele só por ser filho de mexicanos ("vamos construir um muro [na fronteira com o México]").

    Avesso ao veto a muçulmanos no país, outro pilar da campanha do bilionário, Ryan afirmou que barraria no Congresso "qualquer presidente que excedesse seus poderes". Defensor do arrocho fiscal, rejeita o investimento multibilionário em infraestrutura prometido por Trump.

    Se Trump define acordos comerciais como "estupro contínuo ao país", Ryan, conservador ortodoxo e fã de Milton Friedman, já votou no Congresso por pactos com Chile, Peru, Cingapura, América Central e Austrália.

    Em 1998, ele se tornou o segundo parlamentar mais novo dos EUA. Não saiu da Câmara desde então. Naquela primeira campanha, caminhava entre túmulos de seus ancestrais —os Ryan eram um dos três clãs influentes em Janesville (Estado de Wisconsin), cidade natal do ex-coroinha cujo primeiro emprego foi na cozinha do McDonald's, subjugado a um gerente "que não achava que eu tinha traquejo para trabalhar no caixa".

    "Ryan é comportamentalmente programado para ser um bom soldado", diz McKay Coppins, autor de "O Sertão" (2015), sobre a guerra interna dos republicanos. "Ele nunca teve aquela ambição machona. Mesmo quando planejava um grande futuro para si, fazia-o de forma educada e paciente."

    Já foi mais querido pelo eleitorado. Em outubro de 2015, 30% dos americanos o desaprovavam. Um ano depois, 44%, segundo média de pesquisas. Washington antecipava que ele estrelaria uma sequência de "O Resgate do Soldado Ryan". Ao menos num primeiro ato, já bateu continência a Trump.

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