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    No mundo das novas mídias, 'tudo é verdade e nada é verdade', diz Obama

    DE SÃO PAULO

    19/11/2016 13h55

    O presidente dos EUA, Barack Obama, avalia que um dos motivos que levaram à vitória de Trump na eleição presidencial do país foi o fato de que ele "entende o novo ecossistema em que fatos e a verdade não importam. Você atrai a atenção, desperta emoções, e continua. Você pode surfar essas emoções", disse, em entrevista à revista "The New Yorker".

    O comentário de Obama se enquadra na acusação de que redes sociais e a proliferação de notícias falsas à véspera da eleição ajudaram a eleger Trump.

    Kevin Lamarque/Reuters
    Donald Trump e Barack Obama se reúnem na Casa Branca, em Washington (EUA), para começar as discussões sobre transição de poder
    Donald Trump e Barack Obama se reúnem na Casa Branca para discutir a transição de poder

    Segundo um levantamento realizado pelo BuzzFeed News, antes da eleição, os usuários de redes sociais se engajaram mais com notícias falsas sobre o pleito do que com reportagens reais de veículos de comunicação.

    Para Obama, esse novo ecossistema da mídia "significa que tudo é verdade e nada é verdade", disse, ecoando o fenômeno chamado de "pós-verdade", termo escolhido pelo dicionário Oxford como a palavra do ano. A palavra faz referência à tendência, apontada por analistas, de emoções terem mais influência sobre a opinião pública do que os fatos.

    "A explicação de um físico ganhador do Prêmio Nobel para o aquecimento global no Facebook parece exatamente igual à negação do aquecimento global por alguém que receba dinheiro dos irmãos Koch. E a capacidade de disseminar desinformação, teorias da conspiração, de pintar a oposição de forma totalmente negativa sem nenhuma refutação –isso se acelerou de formas que polarizam fortemente o eleitorado e tornam mais difícil ter uma conversa", disse.

    Segundo o presidente, isso mudou completamente a situação política.

    "Idealmente, em uma democracia, todo mundo concordaria que o aquecimento global é consequência do comportamento humano, porque isso é o que 99% dos cientistas nos dizem. Então teríamos um debate sobre como consertar isso. (...) Agora não temos mais isso", avaliou.

    David Simas, diretor político de Obama, também avaliou o efeito de novas mídias na eleição de Trump. Segundo ele, o governo falhou ao falar apenas para seu próprio público, sem alcançar leitores da direita.

    "Até recentemente, instituições religiosas, a academia e a mídia definiam os parâmetros do discurso aceitável", disse. Trump mudou isso, segundo ele, e conseguiu fazer discursos extremos e ser replicado em redes sociais sem ser denunciado de forma eficiente.

    "Se Trump tivesse dito o que disse durante a campanha oito anos atrás –sobre banir muçulmanos, sobre mexicanos, sobre deficientes, sobre mulheres–, seus oponentes republicanos, líderes religiosos, acadêmicos teriam denunciado ele e não haveria como contornar essas vozes. Agora, com Facebook e Twitter, pode-se contorná-las. Há permissão social para este tipo de discurso. Ademais, pelas mesmas redes sociais, pode-se achar pessoas que concordam com você e validam esses pensamentos e opiniões. Isso cria toda uma estrutura de permissão, um senso de afirmação social, para aquilo que antes era impensável", explicou.

    Apesar do diagnóstico e da preocupação com a situação política do país, a surpreendente eleição Trump "não é o apocalipse", disse Obama ao conversar com sua equipe na Casa Branca após o resultado. "Não acredito no apocalíptico – até que o apocalipse ocorra. Acho que nada é o fim do mundo até o fim do mundo", disse, segundo a "New Yorker".

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