• Mundo

    Tuesday, 07-May-2024 13:29:50 -03

    eleições nos eua

    Mesmo com Trump, será difícil para americano se mudar para o Canadá

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK
    ISABEL FLECK
    ENVIADA ESPECIAL A TORONTO

    20/11/2016 02h00

    Assim que ficou claro que Donald Trump seria eleito, a procura por casas no Canadá aumentou 24 vezes no Zillow, site do setor imobiliário. Por volta das 23h daquela noite, a página do Ministério de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá "caiu".

    Mais de 200 mil pessoas a acessavam –50% do tráfego vinha dos Estados Unidos. Em geral, americanos representam 11,5% dos acessos, disse à Folha Rémi Larivière, porta-voz do órgão.

    Na campanha, a decisão de se mudar para o vizinho caso Trump triunfasse foi encampada até por celebridades como Cher e Lena Dunham (criadora da série "Girls").

    Mas cruzar de vez a fronteira não é simples. "Não há categoria especial para cidadãos americanos e nem para sobreviventes da eleição do Trump", diz o advogado canadense Lee Cohen, especializado em imigração.

    Não são os "órfãos" da democrata derrotada Hillary Clinton, contudo, que preocupam autoridades.

    A divisa entre os dois países tem 8.850 km, contra 3.200 km da borda que ganha mais atenção da CBP (agência americana que protege as fronteiras): a com o México.

    O Senado dos EUA aprovou na quarta (17) projeto de lei para avaliar ameaças à margem ao norte, descrita como a maior zona limítrofe não militarizada entre nações. "A borda nortista está longe de ser segura", afirma o senador republicano Ron Johnson, presidente do comitê de segurança nacional na Casa.

    Ali o vaivém engloba, na média diária, 300 mil pessoas e US$ 910 milhões em bens. O medo é que traficantes, coiotes (quem ajuda a travessia de imigrantes ilegais) e terroristas se aproveitem de uma vigilância deficiente.

    Segundo Jaime Ruiz, diretor da divisão nortista do CPB, por ano são detidos no norte 18 mil kg de drogas (no sul são milhões de toneladas).

    Mas, se a polícia endurece de um lado, o crime pode migrar para o outro, teme. A divisa com o Canadá é mais porosa, com muitas florestas. Reservas indígenas, onde autoridades têm acesso restrito, também preocupam.

    Em fevereiro, um canadense foi condenado a 60 meses de prisão. Ele dirigia um esquema que, por US$ 8.000, ajudava estrangeiros a entrar nos EUA via Canadá.

    Para interessados na rota inversa, especialistas alertam: vá com calma. Para se estabelecer no país, cobra-se vasta documentação, proficiência em inglês (e francês, em alguns casos), taxas e comprovação de renda. O processo pode durar até 12 meses para um "trabalhador qualificado" e se estender por 95 meses para outros casos.

    O Canadá se comprometeu a receber 300 mil estrangeiros em 2017, mas 120 mil das vagas devem ir para refugiados e quem já tem família ali.

    ILEGAIS

    Para imigrantes ilegais nos EUA receosos com Trump, o Canadá não seria opção fácil, afirmam especialistas.

    "Ficaria surpreso com um grande fluxo", diz Joseph Carens, da Universidade de Toronto. "Suas vidas já estão estabelecidas nos EUA e o maior risco que eles correm com Trump é serem deportados. No Canadá, enfrentariam o mesmo risco e não teriam as mesmas redes de apoio."

    Fora que aceitar pedidos de refúgio de imigrantes ilegais que vivam nos EUA criaria uma saia justa para o Canadá, por assumir que eles corriam risco no país vizinho.

    Um dia após a vitória de Trump, entrou em vigor uma nova regra para visitantes dos 46 países que não precisam de visto para entrar no Canadá. Agora, todos devem pagar US$ 7 –até para conexão de voo– por uma autorização de viagem.

    A decisão, tomada antes do pleito, é uma tentativa de garantir que a permanência do viajante seja de fato temporária. A reportagem comprovou o endurecimento na fiscalização de estrangeiros que vêm dos Estados Unidos.

    Para americanos que vislumbravam o "asilo" canadense, o comediante Stephen Colbert fez um apelo.

    "Entendo por que o Canadá é tão atraente. Eles têm sistema universal de saúde e um primeiro-ministro [Justin Trudeau] que parece um príncipe. Mas você não pode pedir para sair quando as coisas ficam difíceis por aqui."

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024