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    Robôs pró-Trump nas redes sufocaram mensagens de apoio a Hillary

    JOHN MARKOFF
    DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO

    21/11/2016 12h33

    Um exército automatizado de chatbots pró-Donald Trump superou por cinco a um o número de programas que apoiavam Hillary Clinton nos dias que antecederam a eleição presidencial nos Estados Unidos, revelou relatório divulgado na quinta-feira por pesquisadores da Universidade Oxford.

    Os chatbots —programas básicos de software dotados de um pouco de inteligência artificial e habilidades rudimentares de comunicação— transmitiam mensagens pelo Twitter baseados em um tópico, normalmente definido na rede social por uma palavra precedida pelo símbolo da hashtag, como #Clinton.

    Damon Winter - 1º.nov.2016/The New York Times
    FILE -- Then candidate Donald Trump smiles as the crowd chants "President Trump" during a campaign rally at the W.L. Zorn Arena in Eau Claire, Wis., Nov. 1 2016. An automated army of pro-Trump chatbots on Twitter overwhelmed similar ones deployed for Hillary Clinton five to one in the days leading up to the presidential election, according to an Oxford University report. (Damon Winter/The New York Times) - XNYT18
    O então candidato Donald Trump participa de comício no Wisconsin

    Segundo o sociólogo Philip N. Howard, do Oxford Internet Institute e um dos autores do estudo, o objetivo dos chatbots foi vociferar, deixar as pessoas confusas em relação aos fatos e simplesmente semear dúvidas em discussões. Quem estivesse procurando uma discussão real sobre tópicos concretos não a encontraria com um chatbot.

    "Os chatbots são idiotas que berram alto", disse Howard. "E boa parte do que disseminam são notícias falsas."

    O papel desempenhado pelas notícias falsas na eleição presidencial americana tornou-se motivo de constrangimento para a indústria tecnológica, especialmente para o Google, Twitter e Facebook. Na segunda-feira passada (14 de novembro) o Google anunciou que vai impedir sites que disseminam notícias falsas de fazer uso de seu serviço de publicidade online. O Facebook atualizou os termos de seus regulamentos sobre Audiência do Facebook na Rede —que já preveem que a rede não exiba anúncios em sites que divulgam conteúdos enganosos ou ilegais— de modo a abranger também os sites de notícias falsas.

    Em alguns casos os chatbots postavam fotos constrangedoras, aludiam à investigação do FBI sobre o servidor privado de e-mails de Hillary Clinton ou difundiam comunicados falsos, por exemplo dizendo que Hillary estava na cadeia ou prestes a ser detida.

    "O uso de contas automatizadas foi intencional e estratégico durante toda a campanha eleitoral", escreveram os pesquisadores no relatório, publicado pelo projeto da Universidade Oxford sobre Algoritmos, Propaganda Computacional e Política Digital.

    Pelo fato de os chatbots serem quase inteiramente anônimos e frequentemente ser comprados sigilosamente de empresas ou programadores individuais, não foi possível vincular sua atividade diretamente à campanha de Trump ou de Hillary, disseram os pesquisadores, com a exceção de alguns poucos chatbots "de piadas" criadas pela campanha de Hillary.

    Mas há evidências de que os chatbots misteriosos fizeram parte de um esforço organizado.

    "Parece ter havido uma estratégia por trás dos bots", disse Howard. "No terceiro debate, os bots de Trump já estavam lançando sua atividade antes do debate, e observamos que contas automatizadas estavam colonizando hashtags de Hillary."

    Uma hashtag é usada para indicar o tópico de um post no Twitter. Ao adotar hashtags relacionados a Hillary, os bots da parte oposta aumentavam suas chances de invadir discussões online travadas entre partidários da candidata democrata.

    Depois da eleição, o tráfico de bots diminuiu rapidamente, com a exceção de alguns programas pró-Trump que se gabavam, dizendo "nós ganhamos e vocês perderam", disse Howard.

    Representantes da campanha de Trump não responderam aos pedidos de declarações sobre o assunto. Executivos do Twitter argumentam que mais pessoas não acompanham os bots, de modo que estes só chamariam a atenção de pessoas à procura de hashtags específicas.

    "Quem disser que contas automatizadas de spam que tuitaram sobre a eleição americana afetaram as opiniões dos eleitores ou influenciaram a discussão nacional no Twitter evidentemente subestima os eleitores e não entende como o Twitter funciona", disse Nick Pacilio, porta-voz do Twitter.

    Os pesquisadores basearam seu estudo em cerca de 19,4 milhões de posts no Twitter colhidos nos primeiros nove dias de novembro. Eles selecionaram tuites baseados em hashtags que identificavam determinados tópicos e, para identificar os posts automatizados, procuraram as contas que postam pelo menos 50 vezes por dia.

    "Por exemplo, as 20 contas maiores, em sua maioria bots e contas altamente automatizadas, lançaram em média mais de 1.300 tuites por dia e geraram mais de 234 mil tuites", informaram os pesquisadores. "As cem contas maiores, que ainda usaram altos níveis de automatização, geraram cerca de 450 mil tuites, com uma média de 500 tuites por dia."

    Os pesquisadores de Oxford tinham informado anteriormente que chatbots políticos exerceram papel semelhante ao influenciar a paisagem política que levou ao voto britânico pela saída da União Europeia, o "brexit".

    Os pesquisadores cunharam o termo "propaganda computacional" para descrever a explosão de campanhas de mídia social enganosas em serviços como Facebook e Twitter.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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