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    Em entrevista ao 'NYT', Trump diz que não irá mais processar Hillary

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    22/11/2016 20h01 - Atualizado às 20h52

    Donald Trump não pretende mais processar Hillary Clinton. Na campanha, prometia "colocá-la na prisão" e comparava sua "espiral de mentiras" ao escândalo de Watergate.

    Em entrevista concedida nesta terça-feira (22) ao "The New York Times", o presidente eleito disse ter mudado de ideia. "Não quero machucar os Clinton. Ela [Hillary] sofreu muito de várias formas, a campanha foi muito pesada."

    Trump afirmou que não vai mais investigar o uso de um servidor de e-mail privado por parte de Hillary ou a Fundação Clinton, pois "isso seria muito, muito divisivo para este país".

    A ideia empolgava sua base, que em comícios fazia coro pedindo a prisão da rival democrata. "Não acho que eles ficarão desapontados."

    Decepcionadas estariam alas do FBI, que cobram independência para trabalhar. A polícia federal americana já fechou a investigação sobre os e-mails que Hillary trocou quando era secretária de Estado, mas ainda apura possível tráfico de influência na fundação de sua família.

    O recuo num tema-chave foi dito justamente ao veículo que ele já chamou de "fracassado" para baixo, mas do qual é leitor fiel, confessou. Aliás, a própria realização da entrevista teve um vaivém.

    Poucas horas antes do horário marcado para o encontro, ele disse em um canal oficial que o cancelaria porque o "NYT" teria mudado as condições negociadas para a conversa. Logo depois, escreveu que "talvez uma nova reunião" pudesse ser marcada.

    "Enquanto isso, eles continuam a me cobrir de forma imprecisa e com um tom desagradável!"

    Até que uma porta-voz, Hope Hicks, disse que a entrevista estava mantida.

    A conversa -relatada em tempo real, no Twitter, por editores e repórteres- teve um pouco de tudo, de Barack Obama ("realmente gostei muito dele") a uma tentativa de se afastar dos supremacistas que exaltam sua eleição ("não é um grupo que quero energizar; se estão energizados, quero saber por quê").

    Outro aparente recuo foi sobre o uso de tortura contra suspeitos de terrorismo. Trump contou sobre uma conversa com o general aposentado James Mattis, cotado para ser seu secretário de Defesa, na qual Mattis lhe disse que "nunca achou isso [tortura] útil". Segundo o presidente eleito, torturar suspeitos "não fará o tipo de diferença que muitas pessoas estão pensando".

    Na campanha, o então candidato republicano afirmou que era preciso "combater fogo com fogo". "Podem imaginá-los [terroristas] na mesa do jantar, falando sobre como os americanos não usam o 'waterboarding' [simulação de afogamento] e mesmo assim cortamos as cabeças deles?", disse Trump em junho.

    Ele também afirmou ao "NYT" que mantém "uma mente aberta" sobre o aquecimento global.

    Antes, defendia que os EUA abandonassem o Acordo de Paris e entendia a mudança climática como uma farsa maquinada pela China "para tornar a produção dos EUA não competitiva".

    Na semana passada, Trump integrou à sua equipe de transição Myron Ebell, apelidado por ambientalistas de "rockstar dos negacionistas", aqueles que negam o papel do homem no aquecimento global. Agora virou o disco: "Ar limpo é vital".

    LÍDER E EMPRESÁRIO
    Embora admita que a "marca Trump" ficou "mais quente" após a vitória, o presidente eleito afirmou que estar na Casa Branca e ser dono de um império empresarial não gera conflito de interesses. "A lei está totalmente do meu lado."

    Trump se disse surpreso ao descobrir que não havia incompatibilidade legal entre suas personas empresarial e presidencial.

    "Em teoria, poderia comandar meus negócios perfeitamente e liderar o país perfeitamente."

    De fato, a legislação federal sobre conflitos de interesse isenta presidentes. Críticos lembram, contudo, que ele poderia ser enquadrado em leis que proíbem pagamentos de governos estrangeiros.

    Trump disse que seria complicado vender seus negócios, cujas rédeas agora estão com três de seus filhos -também conselheiros em sua equipe de transição, o que o pai não enxerga como um problema.

    "Se dependesse de algumas pessoas, nunca mais veria minha filha Ivanka de novo." As empresas são "tão desimportantes para mim perto do que estou fazendo", disse.
    Trump deu combustível aos que o acusam de enriquecer ainda mais às custas de seu primeiro cargo público.

    Confessou ter contado com a ajuda do aliado da extrema-direita Nigel Farage, ex-líder do Ukip (Partido da Independência do Reino Unido), para impedir uma construção que atrapalhava a vista de um campo de golfe que abriu em junho na Escócia. "Posso ter mencionado [o assunto]."

    Ele chegou a encorajar, nas redes sociais, a indicação de Farage como embaixador britânico nos EUA. A sugestão lhe rendeu um fora da primeira-ministra, Theresa May: "Não há vaga. Já temos um excelente embaixador".

    Na entrevista ao "NYT", Trump comentou sobre a lua de mel com líderes republicanos que antes queriam distância dele. "Agora, eles estão apaixonados por mim."

    Ele rebateu críticas a seu estrategista-chefe, Stephen Bannon, que antes de embarcar em sua equipe chefiava o Breitbart. O site é um guarda-chuva para a "alt-right", direita que exalta a supremacia branca. "Se eu achasse que ele era um racista, não cogitaria contratá-lo."

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