O Parlamento Europeu aprovou nesta quinta (24) uma medida simbólica pedindo a paralisação das negociações com a Turquia para sua entrada na União Europeia. A decisão foi tomada devido às violações recentes aos direitos humanos.
Em reação a um golpe de Estado frustrado em julho, o governo turco tem aprisionado e detido opositores de setores como a Justiça, a educação e a imprensa, causando atrito com países europeus e os EUA.
Mais de 125 mil pessoas já foram demitidas e 37 mil estão detidas à espera de julgamento. A estratégia é considerada pelos críticos do governo como uma maneira de aproveitar o contexto político para eliminar a dissidência.
Outra fonte de atrito é a possibilidade de que a Turquia recrie a pena de morte.
"Fingir que as negociações possam continuar em tais circunstâncias é enganar os nossos cidadãos e trair os cidadãos turcos", afirmou o ex-premiê belga Guy Verhofstadt.
Carl Bildt, ex-premiê sueco, criticou por sua vez a decisão do Parlamento Europeu, que considerou "populista" e de "curto-prazo".
O texto da decisão afirma que o Parlamento Europeu condena "as medidas repressivas desproporcionais tomadas nas Turquia". O voto da União Europeia, 479 a favor e 37 contra, não precisa ser seguido pelos governos. Houve 107 abstenções.
As negociações para incluir a Turquia no bloco, em andamento há 11 anos, estão de toda maneira encalhadas. Não há uma perspectiva real de que avancem, mesmo sem a paralisação simbólica proposta pelos legisladores.
Binali Yildrim, premiê turco, disse que os laços com a UE já estão prejudicados e que esse voto não tem peso.
Recep Tayyip Erdogan, presidente turco, havia dito anteriormente que a decisão dos legisladores europeus não teria valor, independentemente de seu resultado.
REFUGIADOS
Apesar de não haver avanços nas negociações, a ideia de paralisá-las é delicada.
A União Europeia depende da Turquia para frear a onda de refugiados que tem rumado ao continente nos últimos anos.
Um acordo recente previa a facilitação de vistos em troca da cooperação turca para amenizar a crise de migrantes. A Alemanha sozinha recebeu quase 900 mil pessoas em 2015, com um alto custo para a popularidade da chanceler Angela Merkel.
O assunto deve ser discutido com mais detalhes em Bruxelas, em um encontro de líderes europeus previsto para meados de dezembro.
Federica Mogherini, que chefia a diplomacia europeia, pediu cautela e afirmou que o fim do processo de adesão da Turquia causaria perdas em ambos os lados.
A Turquia já tem se aproximado, nos últimos meses, de outros aliados de peso. O país reatou laços com Israel e Rússia, por exemplo, e tem se alinhado com o Irã.
Esses deslocamentos diplomáticos podem ter sérias consequências para a política externa europeia. Turquia e Rússia têm hoje posições opostas em relação ao conflito sírio, e sua aliança altera o panorama no Oriente Médio.