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    Em cerimônia simples, governo e Farc assinam novo acordo na Colômbia

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL AO MÉXICO

    24/11/2016 15h49 - Atualizado às 21h34

    O governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) assinaram, na manhã desta quinta (24), o novo acordo de paz, renegociado após o tratado original ter sido rejeitado nas urnas em plebiscito, no último dia 2 de outubro.

    A cerimônia ocorreu no Teatro Colón, em Bogotá, fechada e apenas para convidados e representantes dos chamados "países de garantia" e "países acompanhantes" (Cuba, Noruega, Venezuela e Chile). Não houve convites para presidentes de países da região.

    Cesar Carrion/AFP Photo
    Colombian President Juan Manuel Santos (L) signs the historic peace agreement between the Colombian government and the Revolutionary Armed Forces of Colombia (FARC), at the Colon Theater in Bogota, Colombia, on November 24, 2016. Under pressure for fear that a fragile ceasefire could break down, the government and the Revolutionary Armed Forces of Colombia (FARC) sign the new deal and immediately take it to Congress. The plan bypasses a vote by the Colombian people after they unexpectedly rejected the first version of the deal in a referendum last month. The accord aims to end Latin America's last major armed conflict. But opponents say it is too soft on the leftist FARC force, blamed for many thousands of killings and kidnappings. / AFP PHOTO / Cesar CARRION
    Juan Manuel Santos assina acordo de paz com as Farc no teatro Colón, em Bogotá

    Muito mais rápida e solene (durou pouco menos de uma hora), a cerimônia contrastou com a imensa festa de dois dias da assinatura do primeiro acordo, em 26 de setembro, em Cartagena, poucos dias antes de que o mesmo fosse derrotado pelas urnas.

    Aos gritos de "Sim, se pode", foram recebidos no palco os integrantes das equipes negociadoras do governo e das Farc. O primeiro a assinar o documento foi o líder da guerrilha, Rodrigo "Timochenko" Londoño.

    Em seu discurso, disse que "a guerrilha não quer usar mais as armas e sim as palavras para transmitir suas ideias". Disse que, ao ouvir os distintos grupos de defensores do "não" chegou à conclusão de que é necessário implementar um diálogo nacional que elimine "não só a violência, mas também os estigmas e a intolerância". E defendeu "o direito de dissentir, mas de forma civilizada."

    "Timochenko" também fez um pedido ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump, para que o processo de paz "siga contando com o apoio de Washington".

    Depois, foi a vez do presidente colombiano e Nobel da Paz Juan Manuel Santos, que também assinou o documento e, em seu dicurso, reforçou mais de uma vez que, após a derrota em 2 de outubro, ouviu todas as vozes dissonantes que votaram pelo "não", de líderes políticos a religiosos e tinha a convicção de ter levado em conta todas as suas preocupações.

    "Tenho certeza de que este é um acordo melhor, porque incorpora a imensa maioria dos desejos dos colombianos, mas preserva os objetivos essenciais do acordo de Cartagena."

    Num recado aos que criticam o acordo por supostamente promover a impunidade, pois não prevê penas de prisão de nenhum tipo, reafirmou que os "crimes de lesa humanidade serão julgados e haverá condenações", e acrescentou ainda que "as vítimas serão reparadas com os bens que as Farc conseguiram de forma ilícita".

    Depois, afirmou que entregará ao Congresso o acordo e espera que este o referende ainda na semana que vem, sem determinar o dia. Não foram dados detalhes também se a votação será por maioria simples ou se será usado um mecanismo de "fast track", ou seja, de aprovação rápida, incluído no Ato Institucional pela Paz, aprovado pelo Congresso no ano passado e referendado pela Justiça.

    Também em resposta aos críticos que pediam um novo plebiscito, Santos diz reconhecer no Congresso "a representação máxima da sociedade colombiana. São políticos eleitos pelo voto e representam diretamente o povo."

    Pediu também que os parlamentares aprovem o acordo rapidamente porque há uma "urgência pela paz, Com o fim do cessar-fogo, estamos vendo desmoronar nosso esforço com episódios de violência. Não podemos deixar que a guerra retorne".

    O presidente ainda anunciou que, assim que o acordo for aprovado pelo Congresso, as Farc se dirigirão aos acampamentos designados previamente para sua concentração, enquanto esperam julgamento ou liberação.

    Começará, então, a entrega de armas em três fases. "Em 150 dias, todas as armas das Farc estarão em poder das Nações Unidas", afirmou, no que foi amplamente aplaudido.

    GRUPO DO NÃO

    Quatro horas depois, em sessão no Congresso, o senador e ex-presidente Álvaro Uribe, líder do "não", fez um discurso dizendo que seu partido, o Centro Democrático, participará dos debates no Congresso e tentará "buscar um mecanismo de participação cidadã para honrar a defesa das observações que o governo não quis aceitar."

    O grupo do "não" está contrário ao novo acordo. Apesar de reconhecer que algumas de suas exigências foram aceitas —como as limitações da atuação dos tribunais especiais e a exigência de que a guerrilha entregue um inventário de bens— consideram que suas principais reivindicações não foram atendidas.

    "As razões pelas quais o ´não´ ganhou não foram contempladas", disse Uribe. Os pontos a que se refere são a exigência de que os ex-guerrilheiros condenados devem cumprir algum tipo de pena de prisão; que só possam concorrer a cargos após cumprirem penas; e que o narcotráfico seja considerado crime de lesa humanidade.

    "É preciso lembrar que o ´não´ ganhou. E ganhou apesar do papa, do Obama, da ONU. É preciso respeitar essa voz das urnas", completou.

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