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    a morte de fidel

    'É simplista vê-lo como vilão ou herói', diz escritor que faz biografia de Fidel

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL AO MÉXICO

    26/11/2016 14h09

    Pierre Duarte/Folhapress
    São Paulo, SP, 20-05-2011 - O jornalista norte americano Jon Lee Anderson, participa do Terceiro Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, no Sesc Vila Mariana. (Foto: Pierre Duarte/Folhapress) - Argentina 40 anos do golpe, 40 anos do golpe na argentina, argentina40anosdegolpe
    Jon Lee Anderson durante o Terceiro Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, em SP, em 2011

    "A história às vezes joga conosco, com contradições e coincidências. Me parece um espanto que justo no momento em que sobe Donald Trump nos EUA, morra Fidel Castro", disse à Folha o jornalista norte-americano Jon Lee Anderson, autor de uma biografia de Che Guevara, e que vem preparando uma outra, do próprio Fidel Castro.

    "Desde que ele fez uma alusão à própria morte, ao parlamento, em abril, e se percebeu sua fragilidade, algo mudou na ilha, pois até então era um tabu falar do seu fim", diz Anderson.

    O escritor e investigador, porém, chama a atenção para as interpretações simplistas que estão surgindo no calor da morte do ditador cubano: "Parece que a questão é julgar apenas se foi um vilão ou um herói. Mas creio que é preciso ir além. Fidel foi importante, é preciso entender seu papel histórico no enfrentamento das grandes potências, assim como todos os seus erros", completa.

    Além disso, crê que há uma herança simbólica. "Fidel foi o ícone máximo da ideia de um líder radical, configurou-se como o paradigma do que era um líder rebelde, e que se manteve assim até o final de sua vida."

    Anderson concorda com que se diga que este é o fim de uma era e de um tipo de esquerda. "A esquerda que ele inaugurou morre agora, vai desaparecendo com essas figuras burlescas do que ele foi, como Nicolás Maduro (Venezuela) ou Daniel Ortega (Nicarágua). Eles são os representantes do que seria o último baile, o ato final dessa revolução."

    Porém, alerta que as imagens daqueles que estão, nas ruas dos EUA e de outros países, celebrando a morte do ditador, não apontam para um fim de fato da esquerda.

    "Pelo contrário, essas ações extremas dos direitistas mais radicais vêm carregadas de uma sede de vingança, e por isso tendem a causar novas reações. E talvez a reação ao fim dessa era que se encerra com a morte de Fidel hoje seja o surgimento de uma nova esquerda, livre do que havia de negativo nesse legado."

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