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    EUA e Europa veem crescer onda populista de extrema direita

    DANIEL AVELAR
    DE SÃO PAULO

    27/11/2016 02h00

    Enquanto governos populistas de esquerda perdem espaço na América Latina, movimentos populistas de extrema direita crescem nos Estados Unidos e na Europa.

    Do lado de cá do planeta, saíram recentemente do poder os governos de Cristina Kirchner, na Argentina, e o de Dilma Rousseff, no Brasil.

    Na Venezuela, o chavismo atravessa sua crise mais profunda, com o crescimento das pressões pela destituição de Nicolás Maduro. Na Bolívia, Evo Morales perdeu há alguns meses em plebiscito a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato.

    Com suas diferenças, líderes latinoamericanos promoveram nas últimas décadas políticas frequentemente descritas como populistas, reproduzindo um discurso de defesa do povo frente aos interesses das elites econômicas e apostando na forte participação do Estado na economia visando à redução de desigualdades sociais.

    Se a América Latina assiste ao declínio desses governantes, os EUA e a Europa veem ganhar espaço líderes populistas que desafiam o "establishment" político e financeiro internacional.

    Esses políticos populistas do hemisfério norte também dizem proteger uma maioria populacional "esquecida" pelo governo e defendem políticas econômicas protecionistas.

    Mas as comparações param por aí. Diferentemente da retórica de esquerda dos populistas latinoamericanos, os principais representantes da onda populista no mundo desenvolvido ostentam discurso nacionalista e conservador.

    Suas principais pautas são o fechamento de fronteiras e o desmonte de acordos comerciais internacionais. Além disso, representantes da direita nacionalista se opõem à incorporação de imigrantes, por vezes resvalando na xenofobia, e atacam políticas favoráveis a minorias, como mulheres e LGBTs.

    Impulsionados pela vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA, os novos populistas querem chegar ao poder em algumas das principais democracias do mundo.

    Na França, a líder ultranacionalista Marine Le Pen aparece nas pesquisas de intenção de voto como favorita para disputar o segundo turno nas eleições presidenciais de abril e maio. Seu partido Frente Nacional ganhou a maior parte das cadeiras do país nas eleições de 2014 para o Parlamento europeu.

    François Nascimbeni/AFP
    French far-right party Front National (FN) President and member of the European Parliament, Marine Le Pen looks on as she delivers a speech on September 3, 2016 during a FN political rally in Brachay, northeastern France. Marine Le Pen accused former French president Nicolas Sarkozy to "allegiance" to the king Salman of Saudi Arabia "global promoter of Wahabism". She also reiterated that she would hold a referendum on the membership of France in the European Union if she is elected President of the Republic in 2017. / AFP PHOTO / FRANCOIS NASCIMBENI ORG XMIT: 164
    A francesa Marine Le Pen em ato político no nordeste da França, em setembro deste ano

    PÓS-BREXIT

    No Reino Unido, o antes ridicularizado Nigel Farage, líder do Ukip (Partido da Independência, na sigla em inglês), viu crescer sua influência após a aprovação em plebiscito do "brexit", a saída da União Europeia. Seu partido é a maior força britânica no Parlamento Europeu e teve 12,6% dos votos nas últimas eleições gerais.

    Na Áustria, Norbert Hofer, do Partido da Liberdade, pode se tornar o primeiro governante de extrema direita eleito na Europa desde a queda do nazismo, em 1945, caso vença as eleições de 4 de dezembro. Na Alemanha, Frauke Petry, da Alternativa para a Alemanha, desponta na defesa da expulsão de imigrantes e no questionamento da interferência humana sobre o aquecimento global.

    Movimentos nacionalistas e anti-imigração também ganham terreno em países de tradição multicultural, como Holanda, Dinamarca e Suécia. No Leste Europeu, líderes católicos ultraconservadores governam a Polônia e a Hungria.

    Em artigo da Universidade Harvard, os pesquisadores americanos Ronald F. Inglehart e Pippa Norris definem esse novo populismo como "uma filosofia que enfatiza a fé na sabedoria e na virtude de pessoas comuns (a maioria silenciosa) contra o establishment 'corrupto'".

    Os autores argumentam que a ascensão do populismo contemporâneo pode gerar choques culturais e geracionais, além de chacoalhar sistemas políticos consolidados.

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