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    Equipe de Trump lança interrogações sobre futuros laços entre EUA e Cuba

    MARCELO NINIO
    ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

    27/11/2016 17h27 - Atualizado às 20h48

    Se a morte de Fidel Castro foi motivo de festa na comunidade de exilados cubanos de Miami, Donald Trump é a cereja do bolo.

    O presidente eleito dos EUA reagiu à notícia chamando Fidel de "ditador brutal" e seus assessores confirmaram que sua intenção é reverter a política de aproximação entre Washington e Havana iniciada pelo presidente Barack Obama, a menos que a ditadura cubana aumente liberdades individuais na ilha.

    "Nunca um presidente americano foi tão direto ao ponto", entusiasma-se o eletricista aposentado Manuel Rodriguez, 83, com um adesivo de Trump colado no peito. Ele deixou Cuba em 1969 por discordar do sistema comunista e nunca mais pôde voltar. "Chega de concessões à tirania. Trump tem que apertar o regime pelos colhões, até ele soltar Cuba."

    Para manter o diálogo iniciado por Obama será preciso que surja "uma nova Cuba", disse neste domingo (27) a chefe de campanha de Trump, Kellyanne Conway.

    As condições incluem abertura econômica, libertação de prisioneiros políticos, fim da repressão e liberdade religiosa e de expressão, explicou Reince Priebus, nomeado como chefe de gabinete do próximo governo.

    É música para os ouvidos dos opositores de Fidel em Miami, que saíram às ruas de Little Havana, reduto da comunidade cubana, para festejar a morte do ditador ao som de salsa e panelaço. Dos cerca de 1,2 milhões de cubanos nos EUA, 67% vivem na Flórida e a maioria votou em Trump (54%), índice superior ao dos demais imigrantes latinos no Estado (35%).

    NOVO GOVERNO

    O repúdio à aproximação foi um dos combustíveis do apoio cubano a Trump. Em sua campanha presidencial, o republicano prometeu fechar a embaixada americana em Havana, reaberta em julho após 54 anos de rompimento diplomático, e cortar os laços econômicos estabelecidos nos últimos dois anos.

    "Me dói pelo povo cubano, mas não tem outro caminho", disse a dona-de- casa Mariliz Rodriguez, em Miami há dez anos. "Sem pressão não haverá mudança em Cuba. Com comunistas não se negocia."

    Como em outros temas em que recuou depois de eleito, Trump deu sinais trocados em relação a Cuba, ora indicando que manterá a normalização, ora que estancará o processo em curso.

    A ambiguidade se reflete nas nomeações de seu governo. Mauricio Claver-Carone, crítico da política de Obama para Cuba, integra a equipe de transição. Por outro lado, Trump escolheu como vice-assessora de segurança nacional a veterana Kathleen Troia McFarland, que já defendeu o estabelecimento de relações com a ilha.

    Além de bater duro em Fidel, acusando-o de causar "tragédias, mortes e dor", Trump disse ter esperança de que sua morte marque o fim dos "horrores" das últimas décadas. Alguns especialistas acham que a saída de cena do pai da revolução cubana poderá facilitar o processo de abertura do país, mas isso dependerá de dinâmicas políticas internas.

    "Com sua morte e sem um líder linha-dura comparável, isso pode abrir mais espaço para os reformistas", disse à Folha Andrew Otazo, diretor-executivo do Cuba Study Group, entidade que promove a reconciliação EUA-Cuba.

    "Mas também poderá levar a linha-dura a aumentar a repressão, por se sentir enfraquecida sem o seu grande herói. Só o tempo dirá."

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