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    a morte de fidel

    Amigo conta que 'vendeu fiado' barco usado por Fidel na Revolução

    FABIANO MAISONNAVE
    ENVIADO ESPECIAL A HAVANA

    29/11/2016 02h00

    Depoimento de Antonio del Conde:

    Fidel me pediu o iate, eu emprestei e depois ele me pagou. Quando a revolução triunfou, três anos depois, a primeira coisa que que ele fez foi me pagar US$ 20 mil.

    Eu estava colaborando com ele havia um ano. Vendia armas desportivas. Tinha esse negócio. Comecei assim meu contato com ele.

    Fabiano Maisonnave/Folhapress
     Mexicano Antonio del Conde, 90, que emprestou o iate usado por Fidel para regressar clandestinamente a Cuba, em 1956; nas mãos, seu livro de memórias.
    O mexicano Antonio del Conde, 90, que emprestou o iate usado por Fidel para regressar a Cuba em 1956

    Ele queria praticar o tiro, e recomendei os lugares, as armas. E pouco a pouco me fui inserindo e passei a formar parte do seu grupo. Como dizemos no México, ele me comprou.

    Em primeiro lugar, o que chamou a atenção foi a necessidade que Fidel sentia de salvar o povo da ditadura de Fulgencio Batista.

    Sua memória era impressionante, e sobretudo, sua insistência, sempre pensando no que fazer. O trabalho que ele desenvolvia era realmente impressionante.

    El Cuate era o meu nome na clandestinidade. Foi Fidel quem colocou. Quer dizer "amigo" no México.

    Quando ele viu o meu barco, me pediu. Eu o estava reformando pouco a pouco. Ele me disse: "Se você me consertar esse barco, com esse barco vou a Cuba."

    Ele me deu US$ 10 mil, e o que ficou devendo me pagou aqui em Cuba. Ele não quis que eu viesse no iate, dizia que eu seria mais útil fora da serra [Maestra, montanhas no interior de Cuba onde a guerrilha contra Batista começou a tomar forma].

    Granma é uma contração de avó em inglês, "grandmother". Mas comprei o barco já com esse nome. Realmente, não pensei em mudar porque aí seria preciso fazer os trâmites legais.

    Eu vim a Cuba pela primeira vez em abril de 1959, e o triunfo havia sido em 1° de janeiro. Cheguei depois que Fidel falou na ONU e fez uma escala em Houston para tentar me tirar da prisão.

    Eu havia sido preso por tentar enviar armas à serra, via Miami. Estava transportando armas. Fui condenado a cinco anos, sob o pretexto de não pagar imposto federal. Mas a verdade era evitar que enviássemos recursos para a serra.

    Naquele tempo, importávamos armas dos Estados Unidos. E, para não entrar com elas no México, enviava a Miami. Havia uma organização naquele tempo que apoiava a revolução, o Movimento de 26 de Julho. Eu entregava a eles.

    Fidel fez escala em Houston para me visitar, mas não era possível, então fez os trâmites para eu sair. Não sei o que fez, mas saí depois de um ano, em vez de ficar preso por cinco anos.

    Voltei de Cuba ao México e me acusaram de agente comunista. Tiraram o meu passaporte por 20 anos. Depois, me devolveram e, desde então, venho para Cuba todos os anos.

    Tiraram a minha loja de armas. Eu tinha uma pequena propriedade, fiz alguns apartamentos na Cidade do México e passei a alugar.

    Não sabia de política antes de conhecê-lo. Tinha meu negócio, tinha 30 anos, só queria viver bem.

    Mas, quando o conheci, eu quis ajudar um povo. Eu disse ao Comandante que me permitisse fazer por Cuba aquilo que não podia fazer pelo México.

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