Milhares de pessoas acompanharam o trajeto do cortejo com as cinzas de Fidel Castro, nesta quinta (1º), após simbólica noite passada no mausoléu de Ernesto Che Guevara, em Santa Clara.

A cidade foi o local onde Fidel e Che se viram pela última vez, em 1966, antes de o argentino ser executado na Bolívia um ano depois.

Coberta pela bandeira cubana, a urna de cedro com as cinzas de Fidel Castro partiu de Havana sobre uma estrutura adornada com flores brancas puxada por um veículo militar e se dirige a Santiago, no leste da ilha, onde seus restos serão enterrados no domingo (4), após uma viagem por quase mil quilômetros, que percorrerá 13 das 15 províncias de Cuba.

Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff viajarão a Cuba para participar das homenagens a Fidel Castro. Segundo o Instituto Lula, o ex-presidente irá no sábado para Santiago de Cuba.

	Ronaldo Schemidt/AFP Photo
	Urna com as cinzas de Fidel Castro é transportada pelas ruas de Santa Clara, em Cuba

"Eu sou Fidel!", "Somos todos Fidel!" e "Viva Fidel", gritavam os milhares de cubanos que foram às ruas para se despedir do homem que os governou por quase meio século e que morreu na sexta-feira (25) aos 90 anos de idade.

Secundino Diaz, 87, comerciante aposentado, disse que não podia acreditar no "reencontro" de Che e Fidel.

"É muito simbólico que seus restos descansem aqui", disse. "Poucos como eles dois viveram como quiseram."

"Vão estar juntos no final, como há muito tempo estiveram na guerrilha", afirmou emocionada a cubana Madeline Villegas, 31.

Cinco ex-combatentes rebeldes apresentaram suas medalhas para se despedirem do "Comandante".

A emoção de cubanos que acompanharam a caravana contrasta com a aversão de muitos exilados da ilha que festejaram a morte de Fidel.

"Com a morte de Fidel, a revolução deve continuar em seu caminho, sem passos para trás", afirmou Pedro Sanchez, 81, que contou ter lutado ao lado do ditador.

CHE E FIDEL

O argentino conquistou Santa Clara em dezembro de 1958, depois de uma dura batalha. Poucas horas depois, Fulgencio Batista deixava o governo e fugia da ilha. Trinta anos depois de sua morte na Bolívia, em 1967, o icônico "Che" foi enterrado com honras em uma cerimônia em Santa Clara liderada por Fidel Castro.

A relação entre Castro e Guevara foi tão próxima que Fidel chegou a admitir que sonhava com ele anos depois de sua morte.

"O tempo passa e às vezes você sonha com o companheiro que morreu, e o vê vivo, e conversa com ele", disse em uma entrevista com Ignacio Ramonet, publicada no livro "Cien horas con Fidel".

A última viagem de Fidel Castro é carregada de simbolismo. Em 1959, um enérgico líder guerrilheiro de 32 anos saiu de Santiago de Cuba rumo a Havana, onde proclamou a vitória da Revolução que derrubou o ditador Fulgencio Batista.