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    Abertura da China é boa, e Brasil deve ter cautela, diz ex-assessor de Obama

    JOHANNA NUBLAT
    DE SÃO PAULO

    01/12/2016 17h19

    A expansão de investimento chinês no mundo e um potencial conflito comercial entre EUA e China, na Presidência de Donald Trump, abrem oportunidades para a América Latina e, em especial, o Brasil. Mas o país deve se preocupar em gerenciar e monitorar a fome chinesa para que ela sirva, também, ao interesse brasileiro.

    A avaliação é de Evan Medeiros, que assessorou o presidente Barack Obama por seis anos sobre Ásia-Pacífico até junho do ano passado e hoje integra o Eurasia Group.

    "As razões para o investimento chinês na América Latina são mais econômicas que políticas, mas sempre há um motivo político", disse Medeiros, durante lançamento de um estudo sobre investimentos chineses no Brasil, na quarta-feira (30), em São Paulo.

    A forma como a China caminha no mundo não é apenas econômica, resumiu no evento Fabiana D'Atri, economista do Bradesco. Ela citou recentes aquisições dos orientais no setor de entretenimento, como games. "No fim do dia, o que a China quer é que a gente entenda que o WeChat [aplicativo chinês de mensagens] é melhor que o WhatsApp."

    Apesar da valiosa oportunidade para os latino-americanos, Evan Medeiros sugere que lideranças políticas e de negócios no Brasil devem se preocupar em definir a política brasileira sobre a China —incluindo a posição do governo a respeito do investimento direto chinês no Brasil. E diz que nos Estados Unidos há leis e regulações para investimento estrangeiro, relacionadas a questões de segurança nacional.

    "O que você não quer é que a comunidade de negócios acorde em dez anos e descubra que há muita propriedade estrangeira de setores chave e que houve perda de controle, porque companhias estrangeiras sistematicamente compraram ativos durante um período de fraqueza política e econômica."

    Dados compilados pelo CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China) mostram aumento de investimento chinês no Brasil no ano passado, saindo de 13 projetos confirmados em 2014 no valor de US$ 1,7 bilhão para 12 projetos confirmados em 2015 no valor de US$ 7,4 bilhões —maior valor desde 2012.

    Para Evan Ellis, professor pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos da US Army War College, não há país na América Latina onde os chineses mais estão convencidos de que devem estar, e onde mais problemas eles tiveram em empreitadas —como o interesse no trem bala, que ainda não saiu do papel.

    Segundo os pesquisadores do CEBC, a taxa de efetivação do investimento chinês no país saltou de cerca de 45% entre 2007 e 2011 para 80% de 2012 a 2015.

    Luiz Augusto de Castro Neves, presidente da seção brasileira do conselho e embaixador na China (2004-2008), disse no evento que o Brasil precisa fazer seu dever de casa e criar um ambiente regulatório que atraia investimento, e não apenas o chinês. E, ainda, estabelecer estratégia. "O Brasil precisa ter visão estratégica mais clara. Vivemos no curto prazo."

    Na semana passada, o presidente chinês, Xi Jinping, encerrou uma viagem a três países da América Latina (Equador, Peru e Chile), em que reforçou o interesse nacional na região e se contrapôs ao discurso agressivo e isolacionista de Trump.

    Claudio Reyes/AFP
    Chile's President Michelle Bachelet (R) and China's President Xi Jinping shake hands after a press conference at La Moneda Palace in Santiago, on November 22, 2016. The Chile visit is the last stop on a Latin American tour that has also taken Xi to Ecuador and Peru. / AFP PHOTO / CLAUDIO REYES ORG XMIT: CR13
    Xi Jinping se reúne com a presidente chilena, Michelle Bachelet, em Santiago
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