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    a morte de fidel

    Turistas se frustram por não achar suvenires com imagem de Fidel

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

    02/12/2016 02h00

    "Mas nem um broche?", pergunta aturdido o turista alemão à vendedora de um dos tantos quiosques de suvenires do centro de Havana. Não, não existe nem broche, nem camiseta, nem pôster com a imagem de Fidel Castro para vender pelas ruas de Havana, pelo menos não oficialmente.

    "Não, senhora, imagine, se nos pegam vendendo uma camiseta com o rosto do Comandante, fecham nossa loja na hora. É só do Che que pode", diz Yola (não quis dizer sobrenome), 24, filha do dono de um estabelecimento.

    "Está todo mundo procurando, e a gente só diz que não pode, ou oferece isso", e aponta para uma pequena pilha com a edição especial do jornal "Granma", do dia seguinte à morte do ditador, que obviamente saiu com várias imagens dele, na capa e dentro da edição.

    O exemplar, que estava sendo vendido pelo equivalente a US$ 1, já era comercializado nesta quinta-feira (1º) por US$ 10.

    A Folha percorreu várias dessas lojinhas, e a situação era a mesma. Perto do tradicional bar La Floridita, fechado por conta da lei seca devido ao luto nacional, outro vendedor de suvenires estava tendo trabalho com um grupo de turistas italianos.

    "Eu queria uma camiseta com a imagem do Fidel jovem, daquelas icônicas com as quais a gente se habituou a lembrar dele", diz a romana Bruna Alegrete, 58. O vendedor anotava o nome de alguns livros sobre Fidel e indicava onde poderiam ser encontrados. "Mas não sei se eles têm foto", avisava.

    Ao mesmo tempo, a imagem de Fidel está em todas as partes em Havana nos últimos dias. Nos edifícios públicos, penduradas nas janelas dos moradores, nas escolas.

    "Ah, mas essas não se vendem, são as imagens de Fidel aprovadas pelo governo e que a gente ganha no trabalho, no grêmio, as crianças recebem na escola", explica Rogelio (não quis dar sobrenome), professor que tinha armado um pequeno altar a Fidel na porta do seu estabelecimento. "Tem gente que pega o material escolar dos filhos e transforma em suvenir para vender no mercado negro, mas aí é outra história."

    'PODE PAGAR US$ 5?"

    "Não tenho, mas arrumo. A senhora pode pagar US$ 5?", pergunta Yasmin, antes de levar a reportagem até o outro lado da rua, numa loja de livros e objetos antigos.

    Ela me apresenta ao vendedor, que também não quis se identificar, mas foi para o fundo da loja e voltou com uma camiseta colorida com o rosto de Fidel jovem.

    Era uma imagem antiga, uma pintura feita de uma foto preto e branca, com os dizeres "Essa bandeira está acima de tudo, a defenderemos com o corpo e a alma", ao lado de uma bandeira cubana.

    Prestes a embarcar no seu cruzeiro, a espanhola Berta Cuevas ainda fazia uma última tentativa. "Só temos camisetas com a imagem do Che", respondia a vendedora, com um jeito enfadado.

    "Nosso barco chegou aqui no dia seguinte. Não pude acreditar na coincidência de estar em Havana num momento tão histórico", e mostra as fotos no celular dos atos e da reação das pessoas nos últimos dias.

    "Ficarei com um ótimo registro desse episódio, mas a imagem do Fidel comprada aqui na semana da sua morte, vou ficar sem", lamenta.

    Numa das praças do centro histórico de Havana, algumas bancas vendiam memorabilia da Revolução, álbuns, camisetas, pôsteres.

    Só alguns pôsteres tinham a imagem de Fidel. Eram, entretanto, as mesmas duas ou três que estão em todas as partes. "A gente recebe ou compra de quem trabalha em instituições, é proibido fazer o pôster com a imagem que você quiser. Eu não me arrisco", diz um dos vendedores.

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