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    ANÁLISE

    Itália volta à instabilidade habitual com vitória do 'não' e renúncia

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    05/12/2016 02h00

    Andreas Solaro/AFP
    Italy's Prime Minister Matteo Renzi gives a press conference at the Palazzo Chigi after the results of the vote for a referendum on constitutional reforms, on December 4, 2016 in Rome. Italy's Prime Minister Matteo Renzi announced his resignation after losing a referendum on constitutional reform. "My experience of government finishes here," Renzi told a press conference after the No campaign won what he described as an "extraordinarily clear" victory in the referendum on which he had staked his future. / AFP PHOTO / Andreas SOLARO
    Primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, durante entrevista coletiva na qual anunciou sua renúncia

    O primeiro aspecto a ressaltar na vitória do "não" no referendo italiano de domingo (4) sobre a reforma política é o fato de que não se trata de uma espécie de "efeito Trump", ou seja, de uma vitória de algum tipo de populismo.

    Ao contrário: parte importante dos que comandaram a campanha pelo "não" são políticos tradicionais (Silvio Berlusconi, ex-premiê, e líderes da ala supostamente de esquerda do Partido Democrático, o mesmo de Matteo Renzi, que propôs a reforma agora derrotada).

    É o que depreciativamente se chama na Itália de "a casta", embora setores importantes da sociedade civil e da intelectualidade também tenham aderido ao "não".

    Populista, mesmo, há o Movimento 5 Estrelas, criado pelo cômico Beppe Grillo, mas que, desde 2013, se tornou parte fixa do establishment político-partidário, ainda que seu objetivo de fundo seja dinamitá-lo.

    O problema, portanto, não é que a anunciada renúncia de Renzi abra o caminho para uma direita alucinada como a de Trump ou a da francesa Marine Le Pen.

    Devolve a Itália, isto sim, ao que é habitual, a instabilidade política (o país teve 63 governos em 70 anos de democracia).

    É óbvio que instabilidade política gera problemas econômicos, em um país que mal está conseguindo se recuperar da crise de 2008/09. Problemas especialmente para os bancos, arcados ao peso de impressionantes € 340 bilhões de créditos de duvidoso recebimento, € 200 bilhões particularmente sensíveis.

    O "Financial Times", por exemplo, ao afastar um terremoto político imediato, ressalva, no entanto, que "preocupações com as condições dos bancos italianos, das finanças públicas e da economia são consistentes e demandam medidas convincentes da classe política se se quiser conter o choque da derrota de Renzi".

    O terremoto político propriamente dito tende a ficar para 2018, o ano em que, em tese, se realizarão as eleições gerais, às quais o M5S chegará, em princípio, como favorito.

    Aí, sim, a crise poderá minar o euro e até a União Europeia, já que Grillo sempre ameaça abandoná-la.

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